quinta-feira, 8 de maio de 2008

Pedaços do Minho

"Arvores copadas, de uma doce tonalidade fresca, enchem o grande largo. Há uma indefinida simplicidade, um ar íntimo, quasi de família, na população, assim mergulhada no seio d'aquella natureza poderosa e boa. As thermas,chegam a ser verdadeiramente um remedio, por se não parecerem em nada com o pretexto frivolo, que se chama ' ir fazer uma estação balnear', onde se ostentam as primeiras ' toilettes' de Verão. O banhista das Taipas toma a serio o seu papel de doente, e por isso ha quem diga que são tristes as Caldas. Eu achei que eram apenas d'essa vaga melancholia pantheista com que a natureza perfuma o coração do homem, dando-lhe a sensação inexplicavel da sua absorção ao suave contacto dos beijos da terra-mater. Nada mais bello como paysagem, nada mais ameno como vegetação. O Ave que vae ali tão perto, quasi não ri, murmura; dir-se-ia que vae, em meio d'este silencio, cantando uma canção ossianica de uma tristeza dolente(...). Estas aguas mineraes foram já conhecidas dos romanos, do que é confirmação a famosa ' ara de Trajano' ou ' ara de Minerva' , que o povo conhece pelo nome de ' Penedo da Moura'.(...) Preciosas thermas, umas das primeiras do paiz.
A estrada que nos leva até Guimarães, corre das Taipas em tão suave planície e vae debruada de tão feiticeira paysagem que instintivamente se recommenda ao cocheiro para caminhar lentamente..." in«O Minho Pittoresco»

As Caldas das Taipas eram assim em 1886. De lá para cá muita coisa mudou, mas se procurarmos bem, e com tempo, o essencial permanece; basta estarmos com os sentidos bem alerta, para o enxergarmos. Até porque a grande metamorfose é muito recente e ainda conheci muito do que aqui é retratado. Não é um tempo longínquo, aquele de que falo, mas já posso dizer- "no meu tempo...".

6 comentários:

Tiago Laranjeiro disse...

Será preciso procurar bem para encontrar essas Caldas das Taipas de outrora. Mas continuam lá, por acaso. Pena o péssimo funcionamento das termas, outrora "chique a valer" e agora mero apontamento para catálogos turísticos da cidade.

cristina ribeiro disse...

Tiago, se conseguirmos abstrairmo-nos- com grande dose de esforço, é verdade-, das grandes malvadezes arquitectónicas, ainda podemos "ver", por exemplo, o parque com outra grandiosidade, e da decadência humana (na minha adolescência as coisas eram bem outras!), "vemos" como era e como ainda pode ser (por exemplo, junto ao rio, mas mais para o interior). Mas também sei que é muito mais difícil para quem já só conheceu as Taipas assim...

Tiago Laranjeiro disse...

É verdade. E também já conheci as Taipas assim, praticamente só pela passagem obrigatória que era, até há uns anos, a caminho de Braga. Felizmente, com o tempo, pude corrigir isso. Há, de facto, um belo património quase desconhecido para a maioria, no Norte do concelho de Guimarães.

osátiro disse...

Nada melhor do que a pureza do Portugal Profundo (com a devida vénia ao Prof Caldeira...)para revitalizar a mente.

O Réprobo disse...

Ou então, "eu ainda sou do tempo"...
Queridfa Cristina, e os acessos oitocentistas a esse pólo turístico como eram? Havia caminho de ferro até onde? Ou era conheiro dirante uma imensidão de estrada? É que o cavalo de ferro bem poderia prejudicar a melancolia panteísta...
Beijo

cristina ribeiro disse...

Não, Paulo; por essa altura valia a carruagem puxada a cavalos, suponho que desde Guimarães, mas os sete quilómetros que medeiam as duas localidades deveriam, penso eu, parecer muitos mais, embora tudo fosse amenizado pelo bucolismo em redor.
Beijo