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quarta-feira, 25 de junho de 2008
Há cento e cinco anos
nascia na Grã-Bretanha (Índia Britânica, concretamente) aquele que seria um escritor com uma visão muito certeira do que nos estava reservado para o futuro, que é afinal o nosso presente: George Orwell.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Relembrar Orwell (5)
«Mas tornou-se igualmente claro que o aumento global da riqueza ameaçava destruir a sociedade hierárquica - e isso, num certo sentido constituía, só por si, a destruição desta. Num mundo onde toda a gente poucas horas trabalhasse, não lhe faltasse comida, vivesse em habitações com frigorífico e casa de banho e tivesse automóvel ou mesmo avião, as formas mais óbvias e talvez mais importantes de desigualdade teriam desaparecido. No dia em que a riqueza se generalizasse, ela deixaria de conferir distinção. Sem dúvida, em abstracto, seria viável uma sociedade onde a riqueza, no sentido de posse de bens e luxos, fosse equitativamente distribuída, enquanto, por seu lado, o poder continuaria nas mãos de uma pequena casta privilegiada. Mas na prática tal sociedade não poderia manter-se estável por muito tempo. De facto, se todos tivessem igual acesso ao lazer e à segurança, a grande maioria dos seres humanos, que normalmente vivem embrutecidos pela pobreza, instruir-se-iam e aprenderiam a pensar pela sua própria cabeça; a partir daí, cedo ou tarde concluiriam que a minoria privilegiada não desempenhava qualquer função, e acabariam com ela. A longo prazo a organização hierárquica da sociedade só seria viável assentando de novo na pobreza e na ignorância.»
Esta é a pièce de résistance desta curta série. Não precisa de grandes explicações. É irónico notar como autores tidos como idealistas e que servem de base a grande parte da esquerda, como Platão (não estou a dizer que Platão era de esquerda, atenção, Platão pode ser tanto de extrema-esquerda como extrema-direita), ou Rousseau, que falaram de educação das massas e igualdade entre todos, foram eles próprios os desmontadores de tais falácias, que Orwell tão bem sumariza neste trecho.
Tudo isto se apresenta tão clarividente que chega a ser absurdo como a maioria das pessoas teima em não o entender.
Esta é a pièce de résistance desta curta série. Não precisa de grandes explicações. É irónico notar como autores tidos como idealistas e que servem de base a grande parte da esquerda, como Platão (não estou a dizer que Platão era de esquerda, atenção, Platão pode ser tanto de extrema-esquerda como extrema-direita), ou Rousseau, que falaram de educação das massas e igualdade entre todos, foram eles próprios os desmontadores de tais falácias, que Orwell tão bem sumariza neste trecho.
Tudo isto se apresenta tão clarividente que chega a ser absurdo como a maioria das pessoas teima em não o entender.
Relembrar Orwell (4)
«Nos grandes centros da civilização, a guerra manifesta-se pela escassez constante de bens de consumo, e pela explosão ocasional de bombas podendo causar largas dezenas de mortos.»
Isto nem precisa de muita explicação. A explosão ocasional de bombas é utilizada em guerras em nome da religião, da etnia, da raça ou da cultura, fenómeno intrinsecamente relacionado com o terrorismo enquanto forma de manter uma nova ordem mundial (como aqui mostrei).
Por outro lado, os bens de consumo constituem o elemento central do mercado mundial, entre os quais poderemos incluir desde o petróleo e matérias-primas até aos produtos finais, constituindo-se principalmente os recursos naturais como fonte primária de futuros conflitos de grande escala. A guerra económica é feita pelas multinacionais, transnacionais e Estados como forma de demonstrar o seu poderio, na lógica do enriquecimento e da conquista de poder nos diversos paralelogramas de forças de geometria variável que complexificaram as Relações Internacionais no fim do século XX, o que Keohane e Nye previram nos anos 70 com a teorização acerca da interdependência complexa, concretizada a partir da Queda do Muro de Berlim, através da desmilitarização da questão securitária, com o alargar do conceito de segurança a inúmeras outras áreas, e com a centralização do combate na lógica liberal da competição económica, onde até os alemães sabem que o actual Reich não pode ser baseado no conflito armado, ao contrário do que Kissinger tem previsto, mas sim na portentosa demonstração do seu poderio económico enquanto potência destinada a influenciar de forma determinante o sistema internacional.
Isto nem precisa de muita explicação. A explosão ocasional de bombas é utilizada em guerras em nome da religião, da etnia, da raça ou da cultura, fenómeno intrinsecamente relacionado com o terrorismo enquanto forma de manter uma nova ordem mundial (como aqui mostrei).
Por outro lado, os bens de consumo constituem o elemento central do mercado mundial, entre os quais poderemos incluir desde o petróleo e matérias-primas até aos produtos finais, constituindo-se principalmente os recursos naturais como fonte primária de futuros conflitos de grande escala. A guerra económica é feita pelas multinacionais, transnacionais e Estados como forma de demonstrar o seu poderio, na lógica do enriquecimento e da conquista de poder nos diversos paralelogramas de forças de geometria variável que complexificaram as Relações Internacionais no fim do século XX, o que Keohane e Nye previram nos anos 70 com a teorização acerca da interdependência complexa, concretizada a partir da Queda do Muro de Berlim, através da desmilitarização da questão securitária, com o alargar do conceito de segurança a inúmeras outras áreas, e com a centralização do combate na lógica liberal da competição económica, onde até os alemães sabem que o actual Reich não pode ser baseado no conflito armado, ao contrário do que Kissinger tem previsto, mas sim na portentosa demonstração do seu poderio económico enquanto potência destinada a influenciar de forma determinante o sistema internacional.
Relembrar Orwell (3)
«A guerra, porém, já não é essa luta desesperada e devastadora das primeiras décadas do século XX. É um combate de objectivos limitados entre contendores sem capacidade para se destruírem uns aos outros, nem causa material para se digladiarem ou qualquer divergência ideológica genuína a separá-los.»
A incapacidade dos contendores para se aniquilarem é sem dúvida uma previsão concretizada pela coexistência pacífica baseada na doutrina da Mutual Assured Destruction, o tal pacto tácito entre EUA e URSS para manter a ordem durante a Guerra-Fria, apenas desestabilizada quando os EUA decidiram montar um sistema de defesa anti-míssil.
Porém, se durante esse conflito, a divergência ideológica era premente e reflectia-se nas organizações militares respectivas de cada bloco, Pacto de Varsóvia e NATO, certo é que a ideologia do comunismo foi diminuída ao seu indispensável, e até os chineses procuram demonstrar como é necessário o capitalismo para o desenvolvimento de uma alegada sociedade igualitária (trata-se de mais um excelente instrumento de propaganda). De tal forma, a nova ordem económica mundial baseada no liberalismo condiciona de forma determinante a superestrutura política, tal como Marx havia previsto, que os conflitos há muito deixaram de ser entre ideologias (pode-se é arguir como Huntington faz, por uma lógica de Choque de Civilizações, onde a cultura, civilização e religião são os elementos determinantes do conflito, mas isso são contas de outro rosário).
E até numa analogia doméstica em termos da Teoria das Relações Internacionais, pode-se verificar que deixaram de existir verdadeiros conflitos ideológicos no seio das sociedades democráticas liberais ocidentais. Mais ainda nos países do norte da Europa, onde a política aperfeiçoou-se de tal forma que perdeu a sua carga ideológica e passou a estar ao mais directo serviço dos cidadãos, numa lógica de funcionamento pela e para a causa pública, quase remetida ao nível da gestão e administração (talvez nem seja assim tão mau voltar à oikos como alguns julgam, quando na polis não nos conseguimos entender).
A incapacidade dos contendores para se aniquilarem é sem dúvida uma previsão concretizada pela coexistência pacífica baseada na doutrina da Mutual Assured Destruction, o tal pacto tácito entre EUA e URSS para manter a ordem durante a Guerra-Fria, apenas desestabilizada quando os EUA decidiram montar um sistema de defesa anti-míssil.
Porém, se durante esse conflito, a divergência ideológica era premente e reflectia-se nas organizações militares respectivas de cada bloco, Pacto de Varsóvia e NATO, certo é que a ideologia do comunismo foi diminuída ao seu indispensável, e até os chineses procuram demonstrar como é necessário o capitalismo para o desenvolvimento de uma alegada sociedade igualitária (trata-se de mais um excelente instrumento de propaganda). De tal forma, a nova ordem económica mundial baseada no liberalismo condiciona de forma determinante a superestrutura política, tal como Marx havia previsto, que os conflitos há muito deixaram de ser entre ideologias (pode-se é arguir como Huntington faz, por uma lógica de Choque de Civilizações, onde a cultura, civilização e religião são os elementos determinantes do conflito, mas isso são contas de outro rosário).
E até numa analogia doméstica em termos da Teoria das Relações Internacionais, pode-se verificar que deixaram de existir verdadeiros conflitos ideológicos no seio das sociedades democráticas liberais ocidentais. Mais ainda nos países do norte da Europa, onde a política aperfeiçoou-se de tal forma que perdeu a sua carga ideológica e passou a estar ao mais directo serviço dos cidadãos, numa lógica de funcionamento pela e para a causa pública, quase remetida ao nível da gestão e administração (talvez nem seja assim tão mau voltar à oikos como alguns julgam, quando na polis não nos conseguimos entender).
Relembrar Orwell (2)
«Desde que há documentos escritos, e provavelmente já desde o fim do Neolítico, existem no mundo três categorias de pessoas: a Alta, a Média e a Baixa. Estes grupos têm-se subdividido das mais diversas formas, foram-lhes atribuídos variados nomes, e a sua proporção numérica, bem como as atitudes recíprocas, variaram de época para época; a estrutura fundamental da sociedade, porém, nunca se modificou. Mesmo depois das maiores convulsões, das mudanças aparentemente mais irreversíveis, acabou sempre por restabelecer-se idêntico modelo (...).»
Desesperadamente pragmático, é uma constatação de uma realidade imutável ao longo dos séculos, que já Rousseau havia demonstrado (como aqui mostrei). Até os comunistas sabem que é impossível mudar isto, por mais que se considere a consciência de classe, por mais que se considere a revolução socialista na lógica evolucionista linear da sociedade, é e, profeticamente arrisco, sempre será assim. A vida em sociedade pressupõe a desigualdade. Mais do que pressupor, fomenta-a, pois essa é o seu motor de desenvolvimento e estabilidade.
Desesperadamente pragmático, é uma constatação de uma realidade imutável ao longo dos séculos, que já Rousseau havia demonstrado (como aqui mostrei). Até os comunistas sabem que é impossível mudar isto, por mais que se considere a consciência de classe, por mais que se considere a revolução socialista na lógica evolucionista linear da sociedade, é e, profeticamente arrisco, sempre será assim. A vida em sociedade pressupõe a desigualdade. Mais do que pressupor, fomenta-a, pois essa é o seu motor de desenvolvimento e estabilidade.
Relembrar Orwell (1)

Guerra é Paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força.
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força.
É extraordinário notar como a sua teoria do Big Brother talvez não se tenha realizado completamente, mas as suas previsões não deixam de certa forma de ser análogas ao que se vai vivendo nesta nossa terráquea Torre de Babel, de que passamos a dar conta nos posts seguintes, com uns breves trechos de 1984.
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