quarta-feira, 30 de abril de 2008

O Dalai Lama vigilante


A inesperada reacção mundial à situação no Tibete, levou os dirigentes pequineses a uma hábil e bem conhecida manobra desmobilizadora. Propuseram conversações ao supremo chefe tibetano, o Dalai Lama que com a sua habitual mestria  e conhecimento profundo da verdadeira natureza do governo chinês, respondeu de forma sumária e inequívoca. O líder espiritual está disposto a encetar negociações, como sempre manifestou ao longo das cinco décadas de invasão, ocupação e colonização do seu país. No entanto, sabedor dos meandros ínvios da máquina de propaganda do PCC, tornou bem claro que as anunciadas negociações deverão ter uma base concreta, ou seja, uma agenda para discussão. 

No seu ímpeto expansionista, a China tem procurado controlar os países limítrofes - Laos, Birmânia, Coreia do Norte -, ao mesmo tempo que outros como a Tailândia e Singapura , são fortemente influenciados pela importante presença de comunidades chinesas, ou por directa intervenção nos partidos de governo, como no Camboja. Os acontecimentos no Nepal evidenciam esse avanço para sul, garantindo o acesso às passagens dos Himalaias e estabelecendo um regime satélite nas fronteiras da rival Índia. De facto, Pequim liga-se a todo o tipo de Estados considerados como párias, desde o Irão, à Síria, Coreia do Norte ou Venezuela, sedentos de parcerias técnicas no âmbito militar. Na África, a par das missões económicas, intervém nos conflitos internos de vários países, fornecendo armas e assistência técnica. A recente saga do cargueiro chinês com armamento destinado ao Zimbabué é apenas um episódio de uma longa série  de tomadas de partido pelo ditador de serviço, chame-se este Mugabe ou qualquer outro disposto a garantir o fornecimento de matérias primas vitais ao galopante crescimento económico da RPC.

O Dalai Lama conhece os factos e enfrentou Mao e Chu-Enlai, não claudicando perante Xiaoping e Ziemin. Não será o actual chefe do PC quem o irá vergar. Se os Jogos Olímpicos ofereceram uma oportunidade de exibição do novo poder económico do colosso, colocaram-no todavia, sob o severo escrutínio da opinião pública ocidental. Dos consumidores. E para os chineses isso é o que mais importa. Na verdade, tudo o mais são ninharias.

Apeteceu-me esta excentricidade alemã de 1972

Uma lição negligenciada...

Para certos amigos que pretendem nada esquecer e nada aprender, uma sugestão de leitura. Já agora, procurem algo sobre o conde de Chambord e mais concretamente, sobre o período da sua vida na década de 65-75 do século XIX. 

terça-feira, 29 de abril de 2008

A Esquerda, a Direita e o Antes Pelo Contrário


Escutadas as notícias no telejornal da RTP-2 às 10 da noite, fui acometido de uma fúria súbita. A diseuse de serviço abriu o noticiário com a eterna lengalenga da alta dos preços do combustível, onde o despudor das petrolíferas encontra forte apoio - mesmo que tácito - nos perturbantes silêncios governamentais. Prosseguindo o rol de pequenas misérias, passei a saber do futuro e brutal aumento dos bens alimentares, num mundo onde mais cem milhões de seres humanos entrarão no auspicioso clube dos famélicos. O arroz, o trigo, a soja, o milho ou a colza, todos servem para mitigar ainda que de forma ténue, os bestiais apetites das indústrias energéticas. O facto de o sector alimentar se encontrar ligado de forma ostensiva e escabrosamente íntima a certos grandes interesses da área da banca, das farmacêuticas e do investimento, conduz ao imediato e simplista raciocínio da conspiração velada. Não sei nem me interessa saber a verdade desta hipótese, mas a despreocupação, a imbecil e alvar naturalidade com que estas desgraças são oralmente defecadas, fazem transbordar o copo mais fundo.
Já tinha decidido que nas próximas eleições gerais, não ir votar na nossa direita. Para dizer a verdade, jamais votei PSD - velhas contas relativas à descolonização - e assim, oscilei sempre entre o PPM - hoje liquidado pelo buraco negro em que se transformou -, o CDS, o MPT e confesso, nas últimas municipais, no MRPP. Esta última participação eleitoral nada teve que ver com opções ideológicas - nunca fui nem poderei ser comunista -, mas tão só devido á personalidade de Garcia Pereira, meu antigo e excelente professor de Direito do Trabalho na FDL.  A sua honestidade, competência e a recordação da forma cativante e próxima como tratava todos os alunos, pesaram naquela aparentemente despropositada decisão. Não me arrependo e até poderei repetir a ousadia.
Estamos todos a ficar fartos da Situação, tal como ela hoje se apresenta. Quando ouvi o discurso da dona Manuela Ferreira Leite, concluí que finalmente alguns responsáveis do regime reconhecem o facto do descrédito total a que os partidos e seus titulares chegaram. Continuo a acreditar que a chamada democracia burguesa é o sistema constitucional que melhores garantias de progresso e justiça propicia à comunidade. Nada me demove desta crença infantil. No entanto, esta actualidade  de tugúrio de escroques, de gentalha impiedosa, medíocre e de baixo calibre, enoja qualquer um e sinto-me tentado a considerar que aquilo que vivemos - a Europa inteira, excluindo dois ou três casos -, é uma simples e grotesca macaqueação da Democracia que oficialmente é letra de lei. Basta.
Se os grandes interesses económicos pretendem continuar a medrar e a lucrar com o sistema que gostosamente aceitamos como ideal, deve encontrar soluções. Deve prescindir da autêntica usura a que submete os contribuintes-consumidores. Deve moderar o exibicionismo dos alardeados lucros escandalosamente feitos à custa de milhões esmagados pela coacção imposta pela simples necessidade de sobreviver. Os detentores dos órgãos de Soberania, devem dar o exemplo, cortando radicalmente nos gastos que são visíveis e perfeitamente elimináveis. 
Eles que se ponham de acordo, do BE e PC, ao PS, PSD ou CDS. O tempo urge e neste corpo esquálido da Pátria, encontrem um derradeiro fôlego de vida que nos leve a um futuro melhor e mais digno daquilo que fomos e poderemos vir a ser.
A alternativa é muito simples: insurreições generalizadas, invasão e destruição da propriedade, terrorismo urbano e finalmente, uma segunda oportunidade ao fascismo. Estão preparados?

Até já

Como estas ainda estão assim, vou em demanda de outras paragens, onde possam já ter florido...
Se pudesse, mandava um Gin Tónico do Peter's. Fica a intenção.

E ainda dizem que os jovens não se interessam pela política...

Não resisti a roubar ao nosso caro confrade Demokrata esta bela peça humorística:

Os EUA e o fim da ordem unipolar - o necessário reajustamento estratégico

(Ler ainda o artigo do Tiago sobre o desajustamento estratégico de Washington. Em conjunto elaborámos estes dois artigos para o Pacto, jornal do Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais do ISCSP, também publicados no Nostrum Symposium, aqui e ali)

Embora a realidade do declínio da hegemonia dos Estados Unidos da América seja evidente aos olhos de todos, algo desde há muito teorizado sobre a forma dos ciclos de poder e hegemonia internacional, até porque empiricamente observável em termos de domínio material pelo hard power, tal não significa no entanto que os interesses dos Estados Unidos estejam ameaçados, tal como procuraremos demonstrar sucintamente.

Se com o fim da Guerra fria entrámos na era da unipolaridade no sistema internacional, com Francis Fukuyama a clamar pelo Fim da História através do aguardado mas (ainda?) não concretizado efeito dominó de expansão das democracias liberais a todo o mundo, com um claro domínio material do sistema internacional por parte dos Estados Unidos e da aliança vencedora, isto é, a NATO, com o advento dos ataques terroristas ao World Trade Center em 11 de Setembro de 2001, ganharia um reforçado ênfase a tese do Choque de Civilizações de Samuel Huntington, implicitamente exaltada em Precisará a América de uma Política Externa, obra em que Henry Kissinger procura responder às necessidades de reajustamento norte-americano às rápidas mudanças no panorama internacional.

Em termos militares é claro o domínio norte-americano e transatlântico através da NATO, que se tem transformado para dar resposta a novas problemáticas numa bipolaridade entre o Ocidente e seus aliados contra o Terrorismo Internacional. Mas é também claro que o conceito de segurança abarca hoje áreas tão distintas como os direitos humanos, energia, ambiente ou desenvolvimento, o que faz com que os instrumentos de Washington estejam cada vez mais desadequados à realidade vigente, sendo insuficientes para responder a todos os inputs do sistema internacional.

Porém, em termos ideológicos é facilmente colocada em perspectiva a noção de que os ideais norte-americanos presidem à construção da Ordem Internacional vigente, em que o surgimento e/ou ressurgimento de novos actores como potências com um papel importante a desempenhar, acontece segundo as regras do jogo e da arena construída a partir do ponto central, os Estados Unidos, sendo de assinalar que em termos políticos a legitimidade internacional é construída com base nas formas democráticas de governo e nas economias de mercado.

Todo o sistema financeiro, económico e comercial a nível mundial tem a intervenção dos Estados Unidos, quer em termos públicos e directos através de organizações como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, quer através de meios privados, pela bolsa, pela banca e pelas suas empresas transnacionais que além fronteiras se instalam por todo o mundo e constituem o motor produtivo da economia mundial.

No recente artigo The Future of American Power, publicado na Foreign Affairs de Maio/Junho 2008, Fareed Zakaria faz um paralelismo entre a hegemonia norte-americana e a hegemonia do Império Colonial Britânico, onde demonstra que enquanto a queda do Império Britânico se deveu a termos económicos, ultrapassado no fim do século XIX pelos Estados Unidos e Alemanha, e posteriormente devassado com duas Guerras Mundiais, no caso dos Estados Unidos o seu declínio explica-se precisamente em termos políticos, pela falta de ajustamento de Washington às transformações no sistema internacional.

A influência sob a forma de hard power que os Estados Unidos têm vindo a perder é natural à luz do surgimento de outros actores e das transformações de um sistema internacional com centros de poder cada vez mais difusos, mas se o mundo está a mudar, é no sentido dos ideais norte-americanos, pelo que normativamente nos parece que o ajustamento dos instrumentos de Washington se deve dar por forma a permitir o domínio em termos de soft power.

Como refere Zakaria, estamos a entrar numa era pós norte-americana, em que os Estados Unidos continuam a ser o actor central decisivo para o funcionamento do sistema mas que têm que se adaptar para ocupar menos espaço e permitir que o jogo funcione segundo as regras por si criadas, onde os seus interesses não se encontram ameaçados porque são simultaneamente os interesses de todos os outros actores, que hoje em dia se pautam pela constante necessidade de desenvolvimento para os seus países, populações e organizações.

Para concluir, parece-nos salutar, em altura de eleições para a Presidência norte-americana, relembrar Paul Kennedy em A Ascensão e Queda das Grandes Potências ao considerar que a natureza liberal e muito pouco estruturada da sociedade americana (…) lhe dá provavelmente maiores hipóteses de se reajustar a circunstâncias mutáveis do que as que teria uma potência rígida e dirigista. Mas isso, por seu turno, depende da existência de uma liderança nacional que consiga compreender os mais amplos processos em funcionamento no mundo actual e que tenha consciência tanto dos pontos fracos como dos fortes da posição dos Estados Unidos enquanto procura ajustar-se ao contexto global em mutação, até porque, por ter tanto poder quer para o bem, quer para o mal, por ser a pedra angular do sistema ocidental de alianças e o centro da economia global actual, aquilo que faz, e o que não faz, é muito mais importante do que aquilo que qualquer das outras potências decide fazer.

Agora é esperar para vermos o que nos aguarda.

Terapia termal (1)

Não sei se o facto de ter nascido numa vila termal, banhada pelo Rio Ave, onde são notáveis os vestígios de balneários romanos, datados de, pelo menos, o tempo do imperador Trajano Augusto, o qual deu nome a um monumento nacional, o Penedo de Trajano, dito da Moura, viria a influenciar neste fascínio que sinto pelos lugares termais.
Vidago, por exemplo, é um lugar mágico, e percorrer os vastos jardins do Palace Hotel, abertos ao público- quando lá fui, ainda o hotel estava em obras- é, por si só, a melhor das terapias.
Mais perto, são famosas as Termas de Vizela e as de Caldelas; a todas elas é comum, além da calma que lhes é, justamente, associada, uma atmosfera da "Belle-Époque", que, também, marcou Portugal.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O "meu" Paul (2)


Eu sei, eu sei que já falei nele; mas foi tão, mas tão, importante para mim, e as alegrias que lá vivi permanecem tão actuais na memória, que, quando há pouco passei lá "prometi-lhe" voltar a falar nele e mostrá-lo na sua decadência...

Precisamente há 25 anos


Foi a última verdadeira campanha eleitoral do PPM, com muitas iniciativas de rua, paredes cobertas de cartazes e um bom comício no Villaret. O PPM tinha princípios, foi pioneiro de ideias que hoje fazem parte do nosso dia a dia, propiciou camaradagens para a vida, fez parte da nossa juventude. Bons tempos em que o Partido não era mero objecto de projectos pessoais ou de vaidades extemporâneas.

"obrigado"?

Sempre que oiço uma mulher usar esta forma de agradecimento, como é frequente, por exemplo, na televisão, recordo a minha Professora da Primária, a Dona Maria.
Um dia,estava eu na primeira classe, mandou-me devolver um qualquer objecto a um professor de outra sala, e que não me esquecesse de agradecer. Assim fiz; quando regressei perguntou o que tinha eu dito: "obrigado", respondi, ao que a Dona Maria contrapôs- "então achas que o senhor deve estar agradecido por nos ter emprestado (o tal objecto, que já não lembro o que era) ?".
Há bocado lembrei-me novamente da Dona Maria...

Se quer casar,

três voltinhas ao São Longuinhos há-de dar.

Via Memórias de Araduca, um blogue que se dedica a publicitar tudo quanto a Guimarães respeita, e no passo em que procura estátuas com a característica que particulariza a que serve de símbolo à cidade, as duas caras, soube que também por cá temos um santo casamenteiro.
Encontra-se este no Bom Jesus do Monte , em Braga, e também esta estátua, equestre, ostenta uma cara suplementar, esta no escudo do cavaleiro representado.
Parece que no Brasil é invocado quando alguém perde algo, mas aqui reparte com Santo António as virtudes de arranjar marido a quem a ele recorre,

domingo, 27 de abril de 2008

Domingo, 27 de Abril, uma da tarde

Domingo, 27 de Abril, uma da tarde. Na avenida Infante D. Henrique (Cascais), após a segunda rotunda, estava a chegar a casa da minha avó. Ia buscá-la para o almoço de aniversário da minha mãe e trazia comigo o cão dos meus pais, o Rapaz. Circulando a menos de 40 km/hora, fui quase abalroado por um carro de meninos Tunning que devem ter ficado muito contentes com o resultado da brincadeira. Apertaram-me contra o passeio, obrigando-me a embater num poste de electricidade, ao mesmo tempo que o airbag era accionado, deixando-me momentaneamente inconsciente. Fui acordado por uma senhora muito prestável que de imediato chamou o INEM e a PSP. Bastantes pessoas surgiram do nada (hora de almoço) e verifiquei com apreço, a solidariedade e pronta assistência daqueles desconhecidos. O cão estava em pânico e foi o primeiro a ser retirado da viatura, felizmente sem qualquer ferimento. Saliento a extrema prontidão - surgiram decorridos poucos minutos -, competência e amabilidade da brigada da PSP - gente correctíssima - e do INEM. Escoriações nos dois braços e na cara. Parabéns ao visível sucesso dos meninos brincalhões que por sinal, decerto pretendem ver legalizada a brincadeira tunningueira. Comigo obtiveram um full...

O encontro entre os indivíduos na cidade normal: tudo ao som de AIR e em um cenário a “la Mies van Der Rohe”

A organização do espaço da cidade expressava algumas das preocupações sócio-políticas de Le Corbusier: “o local onde o silêncio e a solidão se conjugam com o contato diário entre os indivíduos”. Em Brasília, estão alguns dos preceitos que Le Corbusier defendia de uma cidade ideal. E de verdade, tudo na capital seria perfeito e hiper-organizado, como ele queria, senão fosse justamente isso: o indivíduo.

Leiam a seguir um bom exemplo desse fato:

Brasília, 31 de outubro de 2005.

3:00 da tarde:

Vou para o trabalho dirigindo calmamente num trânsito em que se você quiser sempre chegará no horário certo. As vias retas, perfeitas, a rapidez do trânsito e o som do AIR no meu ouvido. O dia está fresco, como é raro aqui em Brasília, e o posto de gasolina estava vazio. Chego à escola e tenho que dar uma micro aula sobre Le Corbusier, Bauhaus, Gropius e afins. Me empolgo e acabo falando da casa que um dia quero desenhar com o traçado todo a “la Mies Van Der Rohe”. Lá dentro as coisas vão flutuar como no desenho dos Jetsons e algumas paredes vão ser verde água.

6:00 da noite:

Saio da escola e volto pra casa num trânsito ainda tranqüilo. O dia está totalmente bucólico, o som do AIR continua nos meus ouvidos e as pessoas em Brasília voltam para casa sorrindo sorrisos amarelos depois de mais um dia “tranqüilo” de trabalho.

A trilha sonora que ouço torna tudo alegre e verde água, e eu me sinto numa tarde dos anos 60. Passo vagarosamente olhando alguns blocos antigos e fico imaginando se “Corbu” estivesse sentado aqui, do meu lado no carro.

6:30 da noite:

Estou entrando na quadra comercial da minha super quadra. O trânsito já não é tão tranqüilo neste horário. Entre as quadras os carros se engarrafam e eu começo a olhar, ainda ao som de AIR, o “rapaz” (adoro essa palavra retrô) bonito do carro de trás que está tranqüilo ajeitando o cabelo pelo retrovisor. O som da música nos meus ouvidos está alto e tudo parece cena de filme. Numa das entradas em que estou parada, ainda olhando o “rapaz” bonito do carro de trás, avança um ônibus: ele é verde exército e tem aquele design amebóide dos ônibus antigos que carregavam soldados americanos nos anos 60.

O motorista me pede a passagem e eu cedo. Fico pensando de onde saiu aquele ônibus “retro” maravilhoso, enquanto ainda olho o “rapaz” bonito do carro de trás (ele era realmente bonito). Tudo está calmo demais, o som do AIR ainda toca nos meus ouvidos e o trânsito parece enfim avançar. É quando de repente olho pelo retrovisor lateral e vejo uma moto derrapando no chão, derrapou porque bateu de frente com uma senhora gordinha que atravessava feliz a via com seu cachorro bassê. A gordinha cai no chão derrapando também, o bassê late assustado, uma moça vem e ajuda a senhora a se levantar. O cachorro quase é atropelado por um outro carro que vem em alta velocidade. Então, os dois, cachorro e dona, vão correndo pra um dos canteiros, e eu, tenho que partir sem poder entender direito o que havia acontecido ali. Olho pelo retrovisor e vejo que o “rapaz” bonito, preocupado também, estaciona o carro em fila dupla indo ajudar a gordinha e o bassê. E eu parto para minha quadra, entro no estacionamento e pego o elevador, já sem o som do AIR nos meus ouvidos.

Pois é, tudo ia perfeito demais entre o bom contato e o mau contato, e é isso que faz da cidade "ideal" uma cidade "normal".

Le Corbusier: “Cidade ideal, o local onde o silêncio e a solidão se conjugam com o contato diário entre os indivíduos”.

Pois é, por mais que tudo pareça perfeito há sempre o contato entre os indivíduos, será que ele se esqueceu disso? Sempre que eu leio os conceitos de Le Corbusier sobre “a vida perfeita nas cidades” me lembro daqueles livros antigos de medicina alternativa, "Beba 2 litros de água, durma 8 horas por dia, caminhe, etc..." Acho engraçado ler os pré-requisitos que ele determinava para que uma cidade fosse “saudável”. E por mais que ele seja radical, às vezes é muito difícil discordar do que Corbu diz. Fico imaginando como seria conversar com ele e tentar entrar em discussão.

Le Corbusier: - As 8 horas de repouso continuado, a prática de esporte deve ser acessível a todos os habitantes da cidade. O esporte deve ser praticado bem ao lado de casa, bla, bla, bla...

Eu: - Mas senhor...Isso tudo é tão obvio, tão claro, e chato, chato demais! Eu adoro Brasília, gosto da facilidade que existe pra se chegar aos lugares (mas só quando é de carro) da ordem milimetricamente calculada das super quadras, gosto dos imensos verdes vazios e etc...Mas toda essa ordem é tão chata, tão chata quanto a voz de um médico dizendo que carne vermelha faz mal pra saúde!

Le Corbusier: - Mas escuta, todas as vezes que a linha for quebrada, interrompida, descontínua, pontuda, nossos sentidos serão afetados, dolorosamente afetados, nosso espírito se afligirá com a desordem, e pensará: ISSO É BÁRBARO! (Bárbaro de bruto mesmo).

Eu: - Eu discordo, senhor Lê Corbusier, acho muito chato ter sempre o mesmo jeito de voltar pra casa sem a possibilidade de mais outros mil caminhos. Acho chata a retidão das ruas sem um beco que apareça do nada ou uma ladeira linda e imensa que dê pra ver lá embaixo os moleques soltando pipa. Acho chato não me deparar de repente com uma rua de paralelepípedos ou uma curva que dê numa via sem saída. Definitivamente, acho chata a retidão da cidade planejada.

Le Corbusier: - Minha filha, o homem caminha em linha reta porque tem um objetivo, sabe aonde vai. Decidiu ir a algum lugar e caminha em linha reta porque é inteligente. Já a mula ziguezagueia, vagueia com cabeça oca e distraída, evita os grandes pedregulhos, busca a sombra, empenha-se o menos possível.

Eu: - Pois então meu senhor, que vivam as ruas desenhadas pelas mulas! Onde possa se vagar com a cabeça oca e distraída!
A mula é um flâneur!!! Eu sou uma mula!

E já agora comecem a nacionalizar empresas e propriedades

Jerónimo de Sousa em entrevista ao DN:

Os campeões do liberalismo querem sempre menos Estado, deixar funcionar o mercado. Quando se trata de amassar fortuna a fortuna, com lucros fabulosos, designadamente no sector bancário, aí "alto, o Estado que não se meta". Agora, tendo em conta a especulação mobiliária, tendo em conta as bolhas que existem e as dificuldades, então "aqui d'el rei, venha lá o Estado salvar-nos".

Não sei que liberais é que o líder do PCP conhece ou tem ouvido falar, mas só a um tolo poderá parecer crível tal afirmação. A questão está que em Portugal o Estado anda sempre com os privados atrás, aí não há liberalismo nenhum. Não me recordo de ver algum liberal a clamar pela intervenção do Estado para nos salvar em tempo de crises financeiras ou económicas. Aliás, quanto ao que se passa actualmente nos mercados financeiros mundiais do que tenho lido de diversos liberais é o aviso quanto à injecção abrupta de milhares de milhões de dólares para garantir a liquidez dos mercados, que poderá causar o efeito precisamente contrário ao pretendido. Mas camarada Jerónimo ainda faz melhor:

Em relação à banca, achamos que cinquenta por cento desse sector deveria estar [nas mãos do Estado].

Pois claro, saudades dos tempos do PREC não é camarada?

Fins-de Semana

"Caro Fabrizio, estou a escrever-te num estado de extrema prostração. Lê as terríveis notícias que vêm no jornal. Os Piemonteses desembarcaram. Estamos todos perdidos. Esta mesma noite, eu e a família toda vamos refugiar-nos nos barcos ingleses. Decerto quererás fazer o mesmo."
(«O Leopardo», de Giusepe Tomasi di Lampedusa)

Sentada no sofá, muitas foram as vezes em que os olhos paravam neste título, na lombada de um livro fininho, há muito tempo na estante, sem vontade de o abrir, com receio de me decepcionar, tanto gosto do filme protagonizado por Burt Lancaster.
O normal é o contrário: decepção com a adaptação cinematográfica da obra literária; mas este filme de Visconti está num pedestal tão alto...; acontecera uma coisa assim com «Despojos do Dia», em que tive medo de o livro não ser digno das interpretações de Anthony Hopkins e Emma Thompson...
Até que ontem o livrinho venceu esses receios, e já vou a meio, sem que tivesse ainda vontade de o pôr de lado.

Pedaços do Minho


Adeus ó lugar de Ervelho,
Pequenino e airoso,
Quem n'elle tomar amores
Póde-se dar por ditoso.

A agua do rio Minho
Corre por baixo da ponte,
Quem quizer o cravo louco
Ponha-lhe a rosa defronte.

Alta serra do Gerez
Onde a neve se detem,
Chamo, ninguem me responde,
Olho, não vejo ninguem.

O' alta serra da Estrella
Onde se tece a cambraia,
Se d'esta me vejo livre
Não temas que eu n'outra caia.

(in «O Minho pittoresco»)

sábado, 26 de abril de 2008

Pensamento (3)


Ainda do Diário de João Bigotte Chorão

Em Portugal, o desprezo pelo outro tornou-se de tal sorte que suspeitamos ser norma consagrada constitucionalmente.

Quando pela primeira vez fui turista no Estrangeiro

Acabara a Quarta Classe da Escola Primária, quando, nas férias grandes, o meu pai nos meteu- a mim e aos meus quatro irmãos mais velhos, todos rapazes, - num velhinho Vauxhall Victor, e fomos, um bocado sem destino, apenas com a ideia de ir até França. Levávamos uma tenda connosco, provisões, e os utensílios necessários para prepararmos as nossas refeições. Uma grande aventura.
Foi um grande périplo, que nos levou até a Normandia, vale do Loire, e Paris.
Da Normandia lembro bem, além do Mont Saint Michel, o termos visitado o Museu do Desembarque Aliado; recordo ter visto, projectado num grande ecrã, o lançamento de centenas de pára-quedistas, e a reconstituição , em maquete, do desembarque dos tanques. Foi nessa altura que pela primeira vez ouvi falar no soldado Milhões, não sei bem porquê, pois que aquele é um museu dedicado à Segunda Guerra: mas o meu pai aproveitava sempre para fazer associações históricas...
Do Vale do Loire lembro, claro, os castelos que pareciam ter saído direitinhos de um conto de fadas, e de Paris lembro todos aqueles museus e monumentos. Recordo Versailles, o Palácio e os jardins fabulosos.
Já lá voltei várias vezes, mas esta imagem é a que permaneceu, indelével...

Comemorações abrilistas ao som de Chico Buarque

Em tempo de comemoração do 25 de Abril, atentemos na homenagem prestada por um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira, pelas músicas Tanto Mar e Fado Tropical:




Esta tarde, na Avenida

Será?

Pergunto-me se "quem está à beira dos Alpes" terá, ainda, de viajar "à volta do seu quarto". Não, se por lá estiver um tempo, por pouco aproximado que seja, como o que tivemos no dia de ontem, com um céu assim, em que muitos foram os que arejaram já as vestes de Verão. Mas temos de atender ao adágio popular que diz ser fraco o Maio que não rompe uma croça .
Pelo menos, os que amanham a terra puderam começar as sementeiras da batata: já muitos se lamentavam.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

A qualidade da democracia em Portugal

Em dia de comemoração da Revolução dos Cravos, vale a pena ler o único discurso oficial sem lugares comuns, o do Presidente da República, sobre o distanciamento dos jovens em relação à vida política, e os artigos do Público sobre o descontentamento de destacados oficiais militares em relação à qualidade da democracia em Portugal, aqui, aqui e aqui.

Assim tento responder ao desafio do Nuno...


Comecei por socorrer-me do arquivo do Combustões, pois que tinha uma vaga ideia de um post em que versa esta matéria. Depois de uma busca, encontrei-o:" O Brasil de D. Pedro II e o Brasil de Lula", de 4 de Outubro de 2006; - aí diz o Miguel ser aquele "Homem de grande dimensão moral e intelectual(...)que sempre viveu de forma discreta" tendo sido grande amigo de Portugal e das letras portuguesas", referindo as visitas do Imperador a Camilo Castelo Branco. Mas os dois homens terão, além disso, mantido uma correspondência regular, como me dei conta ao consultar, entre outros, o «Boletim da Casa de Camilo.
Tê-lo-á visitado, também, na casa do escritor no Porto, na Rua de S. Lázaro, em 1872, quando este já se encontrava doente: "Tornou-se assunto de conversação a analyse de uns quadros que o senhor Camillo Castello Branco tinha na sala, mostrando o soberano vastos conhecimentos sobre pintura".
Depois de o escritor ter oferecido a D. Pedro um quadro com os vinte e um primeiros reis portugueses, tendo-se ele" comprazido de possuir umas lembrança de Camillo (...), fallaram de literatura, tanto portuguesa como brasileira, matéria sobre a qual o monarcha discursou largamente, com perfeito conhecimento de causa".
Finalmente, num dos volumes de "Dispersos de Camilo" , coligidos por Júlio Dias da Costa, encontrei uma carta dirigida a Tomás Ribeiro, na qual diz Camilo: "No « Livro de Consolação», pagina primeira, está impresso um documento que eu desejo fazer-te conhecido. É uma carta escripta a S. Magestade o Imperador do Brasil, dedicando-lhe affoitamente e audaciosamente, o meu livro. Essa carta manifesta o meu grande respeito e a minha profunda gratidão áquelle magnanimo homem, que não carecia de diadema para ser um dos mais veneraveis cultores das letras, e amigo dos operarios que vivem acorrentados á galé dos trabalhos do espírito, em que a alma, alando-se para altas regiões, vai deixando cahir em terra o corpo despedaçado».

Achmed, o Terrorista

Manifestação em Lisboa de apoio à rainha Carlota

Inacreditável! Estão a reunir-se grandes grupos populares na zona do Marquês de Pombal, preparando-se para descer a avenida da Liberdade, numa manifestação comemorativa do aniversário da rainha Carlota Joaquina. Aproveitam para nesta mesma data celebrar a aclamação de D. Miguel (25-4-1828) como rei, pelo Senado de Lisboa. Ao fim de dois séculos o povo não perdeu a memória e é ainda com os cravos vermelhos que encheram a carruagem real que sai à rua.

Histórias do Minho: O imperador do Brasil visita Camilo

Aqui vai um desafio à Cristina. O imperador D. Pedro II era um erudito e um dos mais decentes homens do seu tempo. Visitou Camilo Castelo Branco em S. Miguel de Seide. Assim, desafio a Cristina a elaborar um post que nos esclareça acerca das relações que o bom monarca manteve  com essas terras e gentes... Que tal?

Por muito querer à sua terra (2)


É ainda por muito ter querido à terra onde nascera, que o Padre Ferreira Caldas, membro da Associação dos Arqueólogos Portugueses e da Sociedade de Geografia "se passava dias inteiros a passear na Costa, na Penha ou ainda na Citânia de Briteiros" dedicava-se a estudar aturadamente tudo o que a ela respeitava, nomeadamente as suas origens, começando por constatar o quão nebulosas elas eram: que esta povoação, situada na confluência dos rios Ave e Vizela, tenha sido a Araduca- a Cidade das Letras- mencionada por Ptolomeu, é apenas uma das hipóteses, com bastante acolhimento na Tradição, embora.
Tudo se tornaria mais claro a partir do século X, quando a viúva Condessa Mumadona vem de Tui fundar um mosteiro na sua quinta de Vimaranes, onde hoje se situa a Colegiada, começando a formar-se uma povoação, que, mais tarde, com a vinda do Conde D. Henrique, iria salientar-se no seio do território governado por Afonso VI de Castela e Leão, dado o importante contributo deste Príncipe na luta de Reconquista, o qual viria a ser reforçado quando seu filho, Afonso Henriques, toma nas suas mãos o combate aos sarracenos, ganhando , deste modo, e após a decisiva Batalha de Ourique, travada em 1139, legitimidade para se proclamar Primeiro Rei do novo Reino que agora nascia.
E mesmo quando a corte se desloca mais para Sul, para Coimbra, Guimarães irá continuar a prosperar, culminando no "estabelecimento da corte dos Duques de Bragança, a família mais nobre e opulenta do Reino".

Feliz Aniversário, Majestade!


Nasceu em Aranjuez a 25 de Abril de 1775, D. Carlota Joaquina de Bourbon, rainha de Portugal e imperatriz do Brasil. Faz hoje 233 anos. Nesta solarenga sexta-feira, desejamos um feliz aniversário a Sua Majestade.


* O trepa-moleque que a rainha ostenta é fabuloso. Por onde andará? A Laura Junot tinha muita inveja dos diamantes de D. Carlota.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Quarto com vista nocturna

E agora tentem imaginar a música do Nocturno, da Luísa...

Pedaços do Minho


Pergunta a quem saiba amar
Qual é mais para sentir,
Se amar e viver ausente,
Se vêr e não possuir.

Eu hei de amar-te de noite
Que a noite tudo encobre
Dá-me uma falla, amorsinho,
Que a tua gente já dorme.

Ó luar da meia noite
Não sejas meu inimigo,
Estou á porta de quem amo,
Não posso entrar comtigo.

Rosa que estás na roseira
Fechadinha no botão,
Deixa-te lá estar dentro
Que lá te procurarão.

Ninguem se fie nos homens
Nem no seu doce fallar,
Que tem fallinhas de mel,
Coração de rosalgar.

Rosa que estás na roseira
Deixa-te estar que estás bem
Debaixo ninguem te chega,
Acima não vae ninguem.

Elle chove, elle chovisca
Na folha ao manjaricão,
É bem tola e é bem varia
Quem por homens tem paixão.

(in «O Minho Pittoresco» )

A Rainha Sofia e a milionésima passagem em revista das tropas espanholas

A blogosfera anda excitadíssima com a foto da ministrazeca da defesa de Espanha, que grávida de onze meses, passa em revista esta e aquela guarda de honra. Grande coisa! Quantas vezes a rainha Sofia fez o mesmo? A propósito, convém lembrar a estes bajuladores dos estrangeiros, que Portugal, que jamais adoptou a Lei Sálica, teve duas mulheres como Chefes do Estado e comandantes-em-chefe das Forças Armadas. Que tal este tema como debate nos blogs? 

* Sinal de grande progresso e modernidade será uma passagem em revista pela ministra, com o trambolho ao colo daqui a uns seis meses, no momento em que o neo-nato chupe furiosamente um dos terminais abastecedores em plena parada. Isso é que era!

Com quem os pratica,

No Desconversa o Mike faz uma reflexão muitíssimo pertinente, e pergunta se não é certo que os actos ficam com quem os pratica. Claro que ficam, Mike. Podem deixar-nos magoados, e até custar a "encaixá-los", mas acabamos, felizmente, por assim concluir, numa espécie de catarse...

Não queiram enganar-nos

O governo resolveu dar a volta ao texto, ou melhor ao nome, porque o essencial dele permaneceu, e aquela coisa brindada com um "porreiro pá!" lá foi aprovada. Não foi ainda ratificada, mas não esperemos que o não seja: é só uma questão de agenda do mais alto magistrado...; pensam que vão continuar a enganar os tolos com bolos. Assumam a natureza do texto que aprovaram...

A ler

Sem dúvida imperdíveis, para quem se interessa por estas coisas, dois artigos na Foreign Affairs que com algum wishfull thinking à mistura, como de resto é normal atendendo ao contexto da publicação em causa, alertam para o que poderá consubstanciar um novo paradigma na Teoria das Relações Internacionais ou, de forma mais prática, o tipo de transformações a que poderemos assistir nos próximos anos, no que diz respeito ao declínio do domínio norte-americano do sistema internacional entendido sob a forma de um mundo pós-americano:

The Future of American Power, por Fareed Zakaria (editor da Newsweek International).

The Age of Nonpolarity, por Richard Hass (presidente do Council on Foreign Relations).

A ler

Os limites do bom senso...dos jornalistas, pelo Alexandre Guerra n'O Diplomata:

Pelos vistos, a Federação Nacional de Imprensa Italiana (FNSI) terá ficado chocada pelo facto de Berlusconi ter simulado com as mãos uma arma a disparar para uma jornalista russa que estava na conferência, após ter feito uma pergunta que Putin não terá gostado.

À primeira vista esta seria, no mínimo, uma brincadeira de mau gosto e que poderia colocar em causa o princípio de liberdade de imprensa, no entanto, lendo com mais atenção a notícia percebe-se o ambiente em que tudo se passou e chega-se a uma conclusão diferente: ao contrário de outras situações no passado, desta vez Il Cavalieri foi apenas sarcástico perante uma pergunta inconveniente da jornalista russa. Esta, talvez pensando que estaria a servir os interesses dos leitores russos, perguntou a Putin se estava em processo divórcio.

Além da questão por si só não ser motivo de notícia nem de interesse público, dificilmente se a consegue enquadrar numa visita do Presidente russo ao estrangeiro, sobretudo durante uma conferência de imprensa acompanhado do chefe de Governo de outro país. Há limites e noções de bom senso que devem reger os jornalistas em diferentes situações, e neste tipo de conferências de imprensa estas são perguntas que apenas servem para cobrir de rídiculo o próprio repórter.

Dia Mundial do Livro

Ora quase me esquecia que hoje, isto é, ontem, 23 de Abril, se comemorou o Dia Mundial do Livro. E para comemorar, nada melhor do que ter um desconto de 20% pela minha condição estudantil ao adquirir o recente livro de Nuno Simas, Portugal Classificado - Documentos Secretos Norte-Americanos 1974-1975, por alturas da comemoração da revolução abrilista. Para já estou a gostar, especialmente do sempre pragmático Henry Kissinger, que a 8 de Outubro de 1975 reunia com os seus conselheiros:

Kissinger: Por que diabo tínhamos nós que saber mais do que o Governo que foi derrubado?

Hyland: Eu disse isso, que [Marcelo] Caetano foi apanhado de surpresa. Mas a resposta ao que eles [Comissão Pike] queriam saber - prevemos o golpe? - é não (...)

Kissinger: Mas que exigência é esta de pôr as nossas agências de informações a descobrir golpes pelo mundo fora? (...) Será que nós temos que ter um FBI em cada país? (...) Nós dizemos que [Portugal] é uma ditadura, com serviços de segurança internos. Se os serviços de segurança internos portugueses não previram o golpe, como diabo íamos nós conseguir prever o golpe?

Sozinho

É e sempre será uma das minhas canções favoritas. Caetano Veloso ao Vivo na MTV. Um grande abraço aos nossos irmãos brasileiros e aos seus imensos artistas.


quarta-feira, 23 de abril de 2008

A respeito da alegada ratificação do Tratado de Lisboa

A mostrar como os jornalistas portugueses padecem de uma grave formação em diversas matérias, Carlos Loureiro do Blasfémias alerta:

Ao contrário do que se afirma no Público (aqui, aqui e aqui, pelo menos), no Expresso, no Sol e em vários outros jornais on-line, Portugal AINDA NÃO RATIFICOU o Tratado de Lisboa. O parlamento limitou-se a aprovar o Tratado para ratificação. A ratificação propriamente dita é competência própria do Presidente da República, através de Decreto-presidencial antes do qual é incorrecto falar-se em ratificação.

O Presidente pode, entre outras coisas, solicitar ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva da constitucionalidade do Tratado antes de o ratificar.

Não sendo provável que o Presidente utilize esta prerrogativa, considerar, desde já, ratificado o Tratado constitui uma grave subalternização do papel constitucional do PR.

Fim de tarde na Praça do Comércio


O Arco Triunfal, a estátuta de D. José I, o Castelo de S. Jorge ao fundo, um dos principais componentes da sede do poder lusitano e uma imensa praça que desde há muito deixou de ser do comércio, banhada pelo Tejo e com um tecto luzidio de um leve sol primaveril.

Breves Escritos Internacionais

A Joana é uma amiga e colega de faculdade que tem vindo desde há algum tempo a esta parte a revelar-se como uma das mais promissoras "aspirantes" a especialista em Relações Internacionais, no que ao Médio Oriente diz respeito. Para além de sermos colegas de blog no Nostrum Symposium, o seu blog a título pessoal é sem dúvida um ponto de passagem obrigatória para quem se atreve a tentar perceber um pouco mais sobre uma das zonas mais problemáticas do globo. Ora ide lá ver.

Estado Sentido torna-se luso-brasileiro

A mostrar que não precisamos de acordos ortográficos para nos entendermos, e reflectindo a demanda que os nossos leitores de além mar representam nas visitas ao Estado Sentido, é com grande prazer que este se torna um blog luso-brasileiro, para já, com a Cristiane Alcântara, docente universitária da área de artes, uma grande amiga que deixei em Brasília, a quem agradeço ter aceite o convite para integrar a equipa do Estado Sentido.

Este é um espaço cada vez mais multifacetado, e de certa forma cada vez mais completo, versando sobre temas que sempre andaram de mãos dadas, Política, Arte e Literatura. A todos, leitores e colegas de blog, o meu sentido agradecimento, e que possamos continuar com esta bem sucedida empresa.

Lisboa arruinada (29) O terreno da Feira Popular

Em Entrecampos, o enorme terreno onde outrora se ergueu a Feira Popular, encontra-se limpo de ruínas e aguarda por novas construções. A cidade de Lisboa tem sido privada de espaços de lazer e a Feira Popular foi um grande polo de atracção durante décadas, onde gerações se divertiram no luna park disponível, comemorando aniversários ou participando em patuscadas nos Santos Populares. É um apetecível espaço para o sector betoneiro que domina o país e é com preocupação que os lisboetas imaginam o uso a que está destinado. Será decerto mais um colosso a perder de vista e sem qualquer interesse para a população, com volumetrias disparatadas, alumínios e placas em pedra polida ao gosto de qualquer WC de hotel de Tegucigalpa. Nada de novo.
Lisboa precisa urgentemente de espaços lúdicos adaptados às novas necessidades de uma juventude adepta de novos desportos e formas de lazer. Este terreno seria ideal para a construção de um prolongamento do jardim do Campo Grande, estendendo a malha verde em direcção ao renovado Campo Pequeno e incluindo pistas para ciclistas, skatters e patinadores.
Argumentarão com os compromissos tomados. Gesticularão com a ameaça de indemnizações, processos em tribunais nacionais e europeus. O interesse da comunidade está muito acima dos jogos da especulação e seria curioso verificar até onde pode ir a cumplicidade entre as diversas forças políticas dominantes na Câmara e as empresas investidoras interessadas ou "proprietárias" do espaço. Como disse anteriormente, nacionalizações ou expropriações "Por Bem" não amedrontam seja quem for. Ficamos à espera de um projecto do arq. Ribeiro Telles.

Por muito querer à sua terra (1)

Encontrando-se de há muito esgotada a primeira edição, datada de 1881, entenderam por bem, e para bem de todos nós, a Câmara Municipal de Guimarães e a Sociedade Martins Sarmento, reeditar a obra máxima do Padre António José Ferreira Caldas, «Guimarães, Apontamentos Para a Sua História».
Nascido em 1843, foi este "Este espírito ilustrado, aprimorado cultor das letras(...) , um escritor esmerado e jornalista vigoroso", nas palavras do prefaciador da actual edição, Francisco Martins, num texto datado de 1923.
Nele, "o sentimento de amor à Pátria" foi uma realidade de todos os dias.
Sobre Guimarães, escreve:
"Guimarães, cúria augusta do primeiro Afonso, berço nobilíssimo da monarquia portuguesa, assenta em prados verdejantes, que se alastram nas fraldas ocidentais da serra pitoresca de Santa Catarina(...). É tão aprazível e bela a sua estância que um dos nossos antigos infantes, ao contemplar Guimarães da vertente da montanha, dissera enleado por tão formoso quadro: quem te deu, não te viu, se te vira, não te dera. Aludia, diz Frei Leão de S. Tomás, aos reis antepassados, que doaram a vila à Casa de Bragança, o que decerto não fariam, se a vissem tão bem assentada, tão bem murada, coroada de tanta frescura e arvoredo, e tão formosa em si.
(...) Daqui nasce, que, sendo tão pequena esta região, é sumamente fértil, e a benignidade dos seus ares, a afluência dos seus rios, as abundâncias e delícias dos seus campos comprovam a fama do seu admirável temperamento, donde se animou a dizer Manuel de Faria que se no Mundo houve Campos Elísios, existiam nesta Província, e se os não houve, merecia que somente os houvesse nela..."

Só para dizer Olá

À Chris,
Um blogue luso-brasileiro, este que encontrei quando liguei o computador. Já estávamos à sua espera, mas veio sem fazer barulho, de mansinho. Bem-vinda!

Pra começar que tal falar um pouquinho sobre arte contemporânea?

Quem já viu o vídeo-clip do cantor Seu Jorge com a música "Tive Razão"? Bem, quem já viu sabe do que eu estou falando. É lindo! Simplesmente ele está sentado em frente a uma igreja de Roma cantando e tocando tranquilamente seu violão. Pode parecer uma observação boba, mas aquela imagem ali, pra mim, resume tudo que um artista quer da vida: mostrar - exibido, o que faz. E digo mais, vou somente uns 100 anos atrás pra mostrar um outro exemplo: Os impressionistas. Qual era o grande intuito deles? Mostrar o que faziam, e não adianta negar, eles queriam ser aceitos.
O salão de Paris não aceitava os quadros dos pintores impressionistas, por isso eles se uniram e criaram um outro jeito pra mostrar sua arte. E qual era a maior alegria de Van Gogh? Mostrar sua pintura. Quando ele leu pela primeira vez uma crítica de seus quadros ele saiu saltitando de alegria pelos trigais! E Gauguim? Foi pra uma ilha do Pacífico conseguir novas idéias, um novo estilo, qualquer coisa que fizesse com que seus quadros fossem novamente admirados pelos parisienses (que num certo momento começaram a o ignorar) .
Interessante, a pessoa que eu mais tenho visto atualmente escrever e criticar arte contemporânea não é um crítico de arte, nem um artista plástico, é um músico, o Bruno Medina da banda Los Hermanos. E por que será? Num dos posts em seu blog, Medina fala novamente do problema que tem com as instalações. Isso acontece porque ele faz parte da maioria das pessoas que gostam de arte. Feliz do Seu Jorge que toca seu violãozinho e não precisa se preocupar com o "conceito da performance estrutural da vídeo arte inserida na contemporaneidade do homem virtual". Ele canta ali, diante do mesmo público que Van Gogh, Pissarro, Degas e Gauguim buscavam. Que bom que ainda existem pessoas que gostam de arte, sem conceitos, sem problematizações, sem grandes questionamentos, gente feito o Bruno Medina, que reclama por uma arte que ele entenda. Eu torço muito, muito, pra que os tais problemáticos da arte não contaminem esse público e ele não se torne preconceituoso, vazio e frio, como parte da arte contemporânea. E quem não ouviu ainda Seu Jorge e sua música "Tive razão", tem que ouvir, porque é linda, aliás, é brega usar essa palavra em arte contemporânea, né?

Lygia Clark e sua complicada "Arquiteturas biológicas", de 1969.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Pensamento (2)


A ler «Diário Quase Completo», de João Bigotte Chorão, de uma forma aleatória e intervalada, por sentir assim mais proveitosa a leitura de um livro recheado de sabedoria empírica, deparo no escrito no dia do mês correspondente ao de hoje, mas de 1965, com a frase "Céu nublado. Chuva. Como estas nuvens hostis, assim os homens- certos homens- nos ocultam a límpida face do céu."
Até no clima a tradição se mantém...

A crise do PSD e a parcialidade sacerdotal do P.R.


Os recentes acontecimentos no maior partido da oposição, o PSD, parecem confirmar a progressiva decadência do sistema partidário consolidado no regime da Constituição de 1976. Para a reconhecidamente apática opinião pública nacional, o partido é matéria putreciente após um longo declínio iniciado exactamente em 1995, quando o seu chefe de momento e actual presidente da república, decidiu retirar-se do lugar que com total soberania ocupara durante uma década. O PPD ou o PSD - concedamos "generosamente" a oportunidade de situação aos seus militantes -, sempre foi palco de raivenças mais ou menos resolvidas quando do seu cíclico e previsível regresso à condução da nau do Estado. A situação que hoje se vive poderia apenas confirmar a tradição do baronatismo que nele sempre imperou, mas que no momento de sagração de um chefe por todos aceitável, conduziu à união de velhos e de novos militantes, abrindo as mais luzidas esperanças de ascensão a muitos e à conquista de um fugaz mas apetecido El Dorado na gigantesca máquina governamental.  Estamos agora perante uma situação bem diversa, porque às habituais picardias, sucederam-se safarrascadas sem quartel, onde os presidentes do partido foram imolados pelos Brutus de ocasião, tornando-se a agremiação "liberal", num sangradouro onde se torna missão arriscada o simples alvitre de um nome capaz de unificar todos os desavindos. O PSD sempre viveu do poder e foi desde o início do regime quem por  mais tempo dele se assenhorou, em governos mono-partidários ou em coligações à sua direita ou à sua esquerda. A sua missão foi apercebida pelo eleitorado como sendo a das sempre ansiadas e necessárias reformas, sem que o cidadão comum tenha jamais lobrigado o verdadeiro alcance do termo. Situacionistas por natureza, somos tentados a evitar confrontos  que descortinem um futuro incerto, mesmo que aparentemente as parcas o anunciem como promissor, daí o cuidado que todos os chefes dos dois partidos rotativos têm, em evitar a frequência de oráculos comprometedores que coloquem em risco futuros resultados eleitorais. O PSD falhou na missão reformista, quando há seis anos tudo tinha conquistado para se legitimar nesta tarefa: esmagou o PS nas autárquicas e atraiu o arredio CDS ao redil da coligação, subordinando-o aos seus desígnios. Falhou porque temeu as manchetes dos diários e as notícias de abertura dos telejornais. Falhou porque notórios militantes  foram os primeiros a marcar terreno no jogo de influências  que devendo ser simples manifestações de opinião interna, trouxeram à ribalta todas as quezílias e ódios acumulados, fazendo-se o ajuste de contas diante dos esbugalhados olhos dos eleitores de sempre. O sepuku parece não ter fim e nem a ameaça de irreversível residualização, parece demover os chamados grandes nomes do partido. Entre todos estes, figura o actual Chefe do Estado, entidade etéreamente tutelar e derradeiro - e hoje impossível - farol orientador da união da desavinda e dispersa frota laranja. O prof. Cavaco Silva sabe e tem a perfeita consciência que a manutenção do regime de 76 pressupõe um sólido e tacitamente aceite rotativismo. O rumo dado às políticas económicas ocidentais nos últimos dez anos e a emergência de novos polos de poder financeiro e industrial no globo, impelem a corrida partidária às reformas, encaradas estas como a última  - e sempre indesejada - oportunidade a uma Europa envelhecida e prisioneira do seu modelo social que poucos - nem nós - querem ver seriamente adulterado.

 O PSD perdeu a oportunidade, porque o seu eterno rival social-democrata, o PS, apreendeu a urgência e o maná oferecido, exactamente numa altura em que ele próprio se fizera desacreditar após duas maiorias absolutas conquistadas num período de relativa abastança económica mundial. O PS agarrou essa oportunidade e aproveitou-a, fazendo exactamente aquilo que no seu íntimo, o eleitorado esperara do governo PSD-CDS

A posição do Chefe de Estado é por demais típica para poder ser contestada pelos participantes no jogo do poder constituído. É o verdadeiro árbitro da situação e aquela dissolução da A.R., obtida pela directa e muito visível intervenção dos poderes fácticos - a banca -, expôs a figura presidencial de uma forma julgada por muitos como inaceitável, embora pressentida e há décadas interiorizada pelos cidadãos. O caso PRD e a rivalidade Eanes/Soares, a guerra de baixa intensidade entre Soares presidente e Cavaco primeiro-ministro, o fácies iracundo ou gelado de Sampaio durante o mandato de Barroso ou a aberta acrimónia manifestada nos tempos de Santana, são sintomas da ineficácia decorrente da hibridez do sistema semi-presidencial português, acrescendo-se ainda a pulverização em poderes subsidiários dos Supremos, etc.

O que hoje se torna visível para quem se interesse minimamente pelos negócios públicos, é a centralidade da figura presidencial, na qual os portugueses desde sempre depositaram vãs esperanças na obtenção do tal estatuto europeu que há muito nos foi esbulhado pelos avatares da história. Hoje, o presidente Cavaco é o questor maximus  do seu Partido e disso ninguém tem qualquer dúvida. Apesar de todos os desmentidos, para a generalidade dos portugueses surge como um rabdomante à procura do necessário chefe que minimamente congregue hostes ontem entregues a um hedonismo regabofista e hoje caídas no desespero motivado pela acefalia por elas mesmo propiciada pelo constante trucidar de personalidades.

O presidente olha pelos seus e isto tão só por interesse próprio, já na expectativa de um reafretamento de contingentes susceptíveis de viabilizar o segundo mandato. Na esperança de encontrar um chefe partidário capaz de capitalizar o descontentamento motivado pelas inevitáveis reformas - não se discute aqui o alcance ou a bondade das mesmas -, o presidente tem por fim último e lógico, o empossamento dos seus no cargo da governação. É a quitação dos compromissos, o saldar de contas. 

Cremos ser esta, a realidade da situação da república portuguesa, onde o aparelho do Estado no seu todo, é mero circo de exibição de façanhas de aprazados chefes que garantem os conhecidos e circunscritos interesses privados. Um verdadeiro Chefe de Estado terá que ser muito mais que um mero peão no  xadrês da pequena política nacional. A recente visita à Madeira denunciou a fragilidade do sistema, quando as normais e unanimemente aceites praxes de cortesia foram sacrificadas ao capricho de um irreflectido momento. Um caso semelhante é impossível na vizinha Espanha ou na velha aliada Inglaterra. Impossível, porque impensável, dado o universal respeito que a figura do máximo representante do Estado merece. Em Portugal, a clara identificação dos presidentes com a transumância eleitoral, traz o prejuízo irreparável da Situação, entendida esta como o edifício Constitucional que dá forma ao regime. A Democracia pode e merece mais. 

A simplicidade dos ordenamentos constitucionais ingleses ou dinamarqueses, com a presidencialização do poder do primeiro-ministro, dissipa dúvidas, concentra democraticamente o poder, racionaliza gastos e credibiliza os regimes. O Chefe do Estado não pode ser o permanente e incómodo intruso esbanjador de dotações anuais, o nosso bem conhecido participante na faena que corrói o sistema, assumindo em derradeira instância, a ingrata e escandalosa função de sacrificador-mor deste ou daquele governo.

Quando há alguns meses o general Eanes se referiu à  Monarquia Constitucional como o único regime capaz de unir as populações num projecto de liberdades e de progresso, sabia do que estava a falar. Confirmou apenas o que sempre pensámos e dissemos. O tempo o dirá.


A NATO, o Terrorismo e a Nova Ordem Mundial

(ensaio elaborado por Samuel de Paiva Pires para a cadeira de Organizações Técnicas e Científicas, leccionada ao 3.º ano da licenciatura em Relações Internacionais do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (Universidade Técnica de Lisboa), no ano lectivo de 2007/08 - também publicado em Nostrum Symposium)

A NATO, o Terrorismo e a Nova Ordem Mundial - Os Estados Unidos da América, a NATO, a Al-Qaeda, o 11 de Setembro de 2001 e o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial

I. Introdução

Neste breve ensaio, fruto de uma reflexão pessoal para a qual, desde já advertimos, pelo carácter algo polémico, que nos é permitido pelo facto de ser um ensaio crítico de opinião, não descritivo, partindo de determinados elementos de análise pretendemos demonstrar como a multilateral relação entre fenómenos aparentemente tão díspares como a organização terrorista Al-Quaeda, os Estados Unidos da América e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, doravante designada pela expressão em inglês, NATO – North Atlantic Treaty Organization), estão intrinsecamente relacionados com o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial formulada a partir dos Ataques Terroristas de 11 de Setembro de 2001.

Outros fenómenos há, desde actores internacionais como empresas multi e transnacionais, passando por organizações como as Nações Unidas ou a União Europeia, até movimentos como a opinião pública cada vez mais transnacionalizada através dos meios de comunicação de massas, que merecem ser considerados como variáveis na análise do tema sobre o qual nos propomos debruçar brevemente, porém, para que não se perca o foco devido à circunscrita relação em análise, optámos por centrar esta reflexão nas variáveis previamente referidas.

As razões que nos compelem à realização deste ensaio prendem-se com o natural interesse que desperta o tema da Ordem Internacional, conceito esse presente de forma imemorial na Humanidade, desde que os primeiros povos, tribos, clãs, cidades-estado, nações, e Estados, se propuseram a relacionar-se, e que no caso em análise já nos têm vindo a inquietar desde há algum tempo[1].

Se a opinião vigente, à qual não somos certamente alheios até certo ponto, constata que a chamada Nova Ordem Mundial (porque deixou de ser apenas internacional, i.e., inter nationes), ainda se está a tentar definir, procuraremos demonstrar que poderá existir um outro ponto de vista analítico que vale a pena ser explorado, onde a NATO poderá ter pelo menos um papel a desempenhar em relação ao aparente estabelecimento dessa ordem, ou, em última instância, um papel fulcral adaptado às circunstâncias quanto ao que Francis Fukuyama classificou como o Fim da História, sob a ideia da alegada natural expansão das democracias liberais ao resto do mundo.

Como tal considerámos apropriado estabelecer uma estrutura dividida em três partes, a primeira dedicada a uma breve conceptualização necessária sobre o conceito de Terrorismo, a segunda reportando-se a uma contextualização do tema em análise, e a terceira prendendo-se essencialmente com a consequente argumentação quanto ao que nos propomos demonstrar posteriormente na conclusão.

II. O Conceito de Terrorismo

Sendo um dos conceitos que, porventura, tem suscitado mais controvérsia na academia, não podemos escusar-nos a tomar como referencial o património teórico desta nossa casa que é o ISCSP. Em primeiro lugar, tomamos em linha de conta a consideração do Professor Adriano Moreira quanto ao que classifica de poderes erráticos, formas de subversão da ordem instituída, reconhecendo ainda o terrorismo internacional como um actor na arena internacional[2], o que se nos afigura como extremamente útil quanto à relação que pretendemos demonstrar.

Em segundo lugar, o Professor António de Sousa Lara, deixa-nos de forma resumida na sua recentemente publicada obra “O Terrorismo e a Ideologia do Ocidente”, as mais importantes acepções quanto ao conceito de Terrorismo, nomeadamente distinguindo, em primeiro lugar, entre terrorismo indiscriminado e terrorismo selectivo:

No primeiro caso incluem-se todos os atentados e agressões que visam generalizar um dano de monta a um paciente previamente indefinido, anónimo ou indistinto. É relativamente irrelevante quem morre ou fica ferido, desde que morra ou fique ferida muita gente. No segundo caso, trata-se exactamente do contrário, ou seja, visa-se um alvo concreto, que se quer pressionar, eliminar, que se quer chantagear, fazer desaparecer de cena ou condicionar de forma definitiva, com vista a alterar o paralelograma de forças ou o circunstancialismo político de uma determinada correlação vigente[3].

Para logo de seguida nos deixar a distinção de super terrorismo, enquanto uma nova fase da avançada terrorista abrangendo meios cada vez mais poderosos e letais, designadamente de natureza biológica, química e nuclear, de concepção e execução transnacional, o que constitui, diga-se de passagem, um dos vectores principais da criação da NATO Response Force (NRF), enquanto força de intervenção altamente habilitada a actuar em teatros hostis provocados por ataques com armas biológicas, químicas e nucleares, adicionando ainda a esta categoria de super terrorismo, as acções suicidas de larga escala[4].

Fica assim tratado o fenómeno do Terrorismo, sobre o qual não nos alongaremos mais posto que está objectivamente definido no âmbito a que nos prestamos neste ensaio.

III. Contextualização

Fundada em 1949 pelo Tratado de Washington, a NATO surgiu como a expressão ideológica contrária à que naturalmente se lhe viria a opor durante o período da Guerra Fria, nomeadamente, a União Soviética e o Pacto de Varsóvia.

Até à Queda do Muro de Berlim em 1989, simbólico anúncio da consequente dissolução da União Soviética e do Pacto de Varsóvia nos anos seguintes, assistimos a um sistema internacional dominado pela lógica bipolar, que não degenerou em nenhum dos sistemas de Morton Kaplan, mas cujo fim imprevisto revelou a incapacidade de analistas e académicos em prever tal acontecimento que se processou de forma tão singular e abrupta.

Se, durante a Guerra Fria, de um lado tínhamos o chamado bloco comunista, com a União Soviética como potência directora e o Pacto de Varsóvia como organização militar exprimindo a ideologia que presidia a este pólo (ainda que enquanto na NATO o domínio dos Estados Unidos da América se fe(a)z sentir pelo soft power, no caso do Pacto de Varsóvia, vários analistas catalogaram a organização como mera forma de controlo e legitimação desse controlo sob os países satélites da órbita soviética[5]), do outro tínhamos o bloco Ocidental das democracias capitalistas liberais, liderado pelos Estados Unidos da América, em parceria com o Canadá e os tradicionais aliados da Europa Ocidental, com a devida expressão ideológica representada no campo militar pela NATO.

Esta era a ordem internacional definida de acordo com a sempre importante lógica dialéctica da oposição entre dois ou mais pólos numa balança de poderes, que presidiu desde 1648 às relações internacionais no sistema internacional dominado pelo, e derivado do, continente europeu, que sempre se mostrou avesso ao surgimento de uma potência destabilizadora dessa ordem, mas que também se revelou afoito a deixar-se cair numa monopolaridade com um vácuo de poder quanto ao tradicional equílibrio de poderes, pelo que a doutrina da Mutual Assured Destruction assentou perfeitamente no sistema internacional vigente durante a Guerra Fria, onde os parcos conflitos no terreno apenas ocorreram nas franjas desse sistema, e no qual não foram sequer permitidos conflitos de índole étnica ou religiosa como aqueles a que vimos assistindo desde o fim da Guerra Fria.

Porém, com o declínio do poderio soviético, assistiu-se desde então a uma transformação no sistema internacional (optamos pela definição de sistema internacional na acepção da Escola Inglesa de Teoria das Relações Internacionais, analisando a nível mundial a existência de um sistema internacional, composto por sub-sociedades e eventuais sub-comunidades internacionais, onde ainda assim, elementos do conceito de sociedade internacional desenvolvido por Hedley Bull e outros, poderão estar presentes no sistema internacional) onde o domínio dos assuntos relacionados com a segurança foi alargado, passando esse conceito a estar presente e a depender de sectores como o ambiente, direitos humanos, energia ou desenvolvimento sustentável.

Dessa forma se tem vindo a processar uma desmilitarização do sistema internacional, por vezes mais ténue, outras vezes até ameaçada, onde numa primeira análise a NATO seria condenada ao desaparecimento, posto que se cumpriu o seu objectivo de oposição ao Pacto de Varsóvia, entretanto dissolvido.

Fukuyama não se poderia ter enganado de forma mais assoberbada ao determinar a aparente consequente expansão das democracias liberais a todo o mundo, quando Samuel Huntington, não só contrariou essa tendência com o seu Choque de Civilizações, imensamente criticado, mas cada vez mais acertado no mundo pós-11 de Setembro de 2001, como teorizou sobre as Ondas de Democratização, estabelecendo que a cada Onda de Democratização se segue uma onda reversa onde democracias mais fracas regressam a formas não democráticas de governo[6].

A aparente falta de legitimidade quanto à existência continuada por parte da NATO, tendo em conta o aguardado efeito dominó das democracias liberais, foi rapidamente colmatada pela não verificação desse efeito, pelo surgimento de novos conflitos de índole étnica e religiosa, como nos Balcãs, e através do processo de politização interna da mesma, originando uma transformação que pretende conduzir a ainda aliança e organização regional de defesa colectiva[7] a uma aliança global de intervenção rápida em determinados desafios como crises humanitárias ou catástrofes naturais (como exemplos, a intervenção em Nova Orleães após a passagem do Furacão Katrina em Agosto de 2005, e a intervenção no Paquistão após o terramoto ocorrido em Outubro de 2005), actuando proactivamente no estabelecimento da paz e segurança, através de uma acção preventiva em relação à não proliferação de armas de destruição massiva e no combate ao terrorismo, o que pretende alcançar através de diversas ferramentas de índole política como sejam o Conselho Euro-Atlântico de Parceria, as Parcerias para a Paz, o alargamento a novos membros, o diálogo com a Rússia e Ucrânia que têm fora próprios de consulta com a NATO, o Diálogo Mediterrâneo ou a parceria estratégica com a União Europeia quanto à Política de Segurança e Defesa Europeia, a que se juntam as recentes ferramentas militares reestruturadas e criadas com as cimeiras de Praga (2002) e Istambul (2004), desde as tradicionais forças de estabelecimento e manutenção de paz, passando pela novíssima NRF, uma força de resposta rápida altamente especializada, até à elaboração de um plano conjunto de combate ao Terrorismo, no qual se inserem os países Parceiros para a Paz e os do Diálogo Mediterrâneo[8].

Porém, até chegar ao estado corrente, ocorreu um importantíssimo evento que mudaria a face do sistema internacional, o Ataque Terrorista de 11 de Setembro de 2001, novamente imprevisto, à semelhança da Queda do Muro de Berlim, que serviria como potenciador das transformações acima referidas e cuja análise prévia das suas implicações é por de mais necessária.

IV. Os Estados Unidos da América, a NATO, A Al-Qaeda, o 11 de Setembro de 2001 e o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial

Atentemos então nas considerações de Henry Kissinger num dos mais famosos exercícios de realismo puro em relações internacionais, a sua obra “Diplomacia”, já quanto às suas reflexões sobre o repensar da nova ordem mundial:

A tarefa da Aliança é a de adaptar as duas instituições básicas que modelam a relação atlântica, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e a União Europeia (antes Comunidade Económica Europeia), às realidades do mundo pós-guerra fria[9].

Ora de facto, como já referimos, a NATO encetou um processo de transformação interno que, porém, só viria a ser acelerado, e a trazer à organização um acrescido prestígio e importância na arena internacional, com os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, que se colocam como marco histórico da definição do terrorismo internacional enquanto pólo oposto ao dominante no sistema internacional, ocorrendo o que o Professor António de Sousa Lara considerou na obra “A Grande Mentira”:

O terrorismo, também, a que fiz suficiente alusão do enquadramento em “A Subversão do Estado”, passou a ser a forma de fazer a guerra da parte dos fracos contra os poderosos. E quando muitos analistas incautos e cientistas do imediato se apressaram a decretar o fim das ideologias e o termo da História, eis que renasce das cinzas esta forma de combate subversivo com uma expressão nunca vista, passando a constituir uma das frentes, senão a mais importante, da fase a que já se chamou de “a Terceira Guerra Mundial”. Trata-se da actualização de uma fórmula conhecida a uma situação avassaladora de “ideologia única” e de “imperialismo monopolar”.[10]

Os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001 levariam desta forma o já referido Henry Kissinger a reflectir novamente sobre a ordem mundial, rejeitando Fukuyama:

Durante toda uma década, as democracias tinham-se progressivamente tornado prisioneiras da ilusão de que as ameaças externas tinham virtualmente desaparecido, de que os perigos, se alguns havia, tinham antes de mais, origem psicológica ou sociológica e de que, de certa forma, a história, tal como fora registada até então, se transformara numa subdivisão da economia ou da psiquiatria[11].

Aceitando a tese de Huntington quanto ao Choque de Civilizações:

Simultaneamente, o desastre ensinou à América que alguns dos confortáveis pressupostos do mundo globalizado não se aplicam à porção do mundo que recorre ao terrorismo. Esse segmento parece motivado por um ódio de tal forma profundo pelos valores do Ocidente que os seus representantes se dispõem a enfrentar a morte e a infligir um grande sofrimento a inocentes na procura da destruição das nossas sociedades, em nome do que eles entendem como um choque de valores incompatíveis[12].

Denunciando a Al-Qaeda como símbolo do novo pólo de poder na dialéctica do sistema internacional, i.e., o terrorismo internacional:

(…) o secretário de Estado Colin Powell soube trazer à luz do dia uma coligação global que legitimava o uso da força militar contra o Afeganistão, o mais flagrante fornecedor de um santuário ao mais evidente símbolo do terrorismo internacional, Osama bin Laden[13].

Ainda que a eliminação de bin Laden, da sua rede e associados enquanto força unificada tenha constituído um sucesso significativo, tratou-se apenas do início de uma campanha mundial continuada[14].

Finalmente, exaltando à acção no seio da NATO:

Na medida em que estas realidades penetraram as consciências do mundo democrático, os terroristas perderam uma importante batalha logo no seu início. Na América enfrentaram um povo unido e determinado a erradicar o mal do terrorismo. No seio da Aliança Atlântica acabaram – pelo menos, durante algum tempo – com o debate sobre se ainda existia um propósito comum no mundo pós-Guerra Fria. As democracias ocidentais – pelo menos, na sua primeira reacção – aperceberam-se de que o ataque aos Estados Unidos mostrava talvez as ainda maiores vulnerabilidades das suas próprias sociedades[15].

O que é de ressalvar, tendo, em consideração a histórica evocação, pela 1.ª vez na história da NATO, do Artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte, como resposta aos ataques terroristas.

V. Conclusão

De tudo o acima exposto podemos, agora sim, inferir a conclusão quanto ao que nos propomos demonstrar.

Se durante a década de 90 do século XX os Estados Unidos da América viveram numa ilusão de monopolaridade e segurança, tentando exportar o seu modelo democrático, enquanto a NATO agiu pontualmente nos Balcãs, passando por um período de reflexão interna, seriam, ironicamente, os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001 a servir como catalisador para a necessária reestruturação dos propósitos da NATO, o que se reflecte na reestruturação da própria organização nos últimos anos.

A ordem internacional definiu-se então muito rapidamente, ao contrário do que a ajuizada e conservadora opinião da maioria diz, utilizando um poderoso símbolo do terrorismo fundamentalista islâmico sob a permanente ameaça do recurso a formas de super terrorismo, Bin Laden e a Al-Qaeda, numa lógica maquiavélica, napoleónica e bismarckiana de promoção da coesão interna através da difusão de um inimigo comum.

O Choque de Civilizações tem vindo a sair do campo do debate entre valores culturais e religiosos, entrando no campo do confronto no terreno entre terroristas (embora não sejam só os fundamentalistas islâmicos), e principalmente a NATO, que se assume cada vez mais como uma legítima instituição, porque geradora de consenso, para assumir os esforços do Ocidente e dos seus parceiros contra o terrorismo.

Desta forma os Estados Unidos da América vão mantendo o estatuto de super-potência, e em consonância com a Europa promovem a ideologia do Choque de Civilizações para justificar simultaneamente o combate ao terrorismo e a exportação do modelo das democracias liberais e da economia capitalista, assim definindo e construindo a Nova Ordem Mundial nessa lógica bipolar, que substituiu a União Soviética e o Pacto de Varsóvia pelas organizações terroristas e países apoiantes dessas.

Do lado do terrorismo, não existe um Estado ou Ideologia moralmente razoável ou legítima, enquanto do outro lado, com esta representação de um inimigo comum, a fazer lembrar a ficção orwelliana em “1984”, contra o qual todos os Estados de bem deverão agir, se consegue assim justificar a nova ordem onde a NATO tem sem dúvida um papel fulcral, porque reunindo o consenso que os Estados Unidos da América não reúnem, pode de facto transformar-se para dar resposta ao super terrorismo internacional, o que tem acontecido, como forma de definição da ordem mundial, enquanto, por outro lado, poderá agir de forma cada vez mais proactiva na difusão das ideias das democracias liberais.

É praticamente uma fórmula perfeita de onde todos saem a ganhar, o inimigo comum que está a salvo porque praticamente invisível, e porque invisível e comum todos se unem contra ele, o que justifica os esforços de manutenção, transformação e alargamento da NATO, permitindo aos Estados Unidos promover a sua política externa com base na bipolaridade entre terrorismo fundamentalista islâmico vs. Ocidente, como base para a justificação da sua missão quase “evangelizadora” do mundo.

Resta saber se é esta a verdadeira Nova Ordem Mundial há muito anunciada, ou se ainda iremos assistir a grandes alterações nos próximos tempos, o que poderá ser bem possível com o surgir de potências como a China, Rússia, Brasil e Índia.

Consideremos, por último, que a NATO constitui-se assim como um estabilizador por excelência da actual ordem mundial, enquanto definidora dessa ordem na lógica bipolar e de promoção da coesão interna, que se tem vindo a reestruturar e alargar para dar resposta aos novos desafios que se lhe apresentam, no caso, o contra-terrorismo.

Notas


[1] Ver Pires, Samuel de Paiva - “A Importância de Bin Laden para a Ordem Internacional” in http://estadosentido.blogspot.com/2008/03/da-importncia-de-bin-laden-na-ordem.html publicado em 20/03/2008.

[2] Ver Moreira, Adriano - Teoria das Relações Internacionais, 5.ª ed, Coimbra, Edições Almedina (1.ª ed., Coimbra, 1996), 2005, pp. 371-374.

[3] Ver Lara, António de Sousa - O Terrorismo e a Ideologia do Ocidente, Coimbra Edições Almedina, 2007, p. 44.

[4] Idem, Ibidem, pp. 46-47.

[5] Ver Curtis, Glenn E. – “The Warsaw Pact” (excerpted from Czechoslovakia: A Country Study). Washington, D.C.: Federal Research Division of the Library of Congress; 1992. in http://www.shsu.edu/~his_ncp/WarPact.html acedido em 13/11/2008.

[6] Ver Huntington, Samuel – “Democracy’s Third Wave” in Larry Diamond & Marc Plattner, The Global Ressurgence of Democracy. Baltimore, John Hopkins University Press, 1996.

[7] Ver Artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte in NATO Handbook, Public Diplomacy Division, Brussels, 2006, pp. 372.

[8] Ibidem.

[9] Ver Kissinger, Henry A. – Diplomacia, Lisboa: Gradiva, (1.ª edição 1994), 2.ª ed.; 2002, p. 716

[10] Ver Lara, António de Sousa – A Grande Mentira – Ensaio sobre a Ideologia e o Estado, Lisboa, Hugin, 2004, p. 97.

[11] Ver Kissinger, Henry A. – Precisará a América de Uma Política Externa?. Lisboa: Gradiva, 2002, p. 273

[12] Idem, ibidem, p. 274

[13] Idem, ibidem, p. 276

[14] Idem, ibidem, p. 277

[15] Idem, ibidem, p. 274.

Bibliografia

Kissinger, Henry A. – Diplomacia, Lisboa: Gradiva, (1.ª edição 1994), 2.ª ed.; 2002.

________________ – Precisará a América de Uma Política Externa?. Lisboa: Gradiva, 2002.

Lara, António de Sousa - O Terrorismo e a Ideologia do Ocidente, Coimbra Edições Almedina, 2007, p. 44.

___________________ – A Grande Mentira – Ensaio sobre a Ideologia e o Estado, Lisboa, Hugin, 2004.

Moreira, Adriano - Teoria das Relações Internacionais, 5.ª ed, Coimbra, Edições Almedina (1.ª ed., Coimbra, 1996), 2005.

NATO Handbook, Public Diplomacy Division, Brussels, 2006,

Webgrafia

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