sexta-feira, 16 de maio de 2008

Camilo visto por

3. Silva Pinto

Ao mesmo tempo que dirigia os maiores encómios a confessos adversários de Camilo, como Teófilo Braga, este jornalista e escritor não desperdiçava uma oportunidade para tentar destruir a reputação daquele, tanto no plano literário como no da sua dignidade de homem.
Mas, após uma longa série de polémicas, iniciadas em 1874, em que nenhum dos dois foi parco no uso de uma linguagem virulenta, semeada de insultos e calúnias, a reconciliação viria cinco anos mais tarde, passando o que iniciara tamanha hostilidade,, de panfletário desbocado a admirador incondicional daquele a quem passou a considerar Mestre, e como tal se lhe dirigia, a ponto de escrever: "Era o mais completo e puro tipo de fidalgo, assim no aspecto como no trato, (...). O maior escritor de Portugal nunca me impôs, em convívio a sua opinião literária. Àquele vasto e poderosíssimo cérebro,,,"
Depois de ter começado a frequentar a casa de Seide, adquiriu na localidade habitação própria para melhor desfrutar "da sua genialidade".

6 comentários:

Nuno Castelo-Branco disse...

E para longos momentos de má-língua, calculo.

Pedro Fontela disse...

Eu acho isso tipicamente português (e extremamente irritante), todos querem estar bem com deus e com o diabo e ser "amigo" de todos - o que leva aquele cinismo em que ninguém pode dizer uma verdade frontal sem ser acusado de ser um tipo anti-social, já para não falar no não saber encarar uma critica laboral mas enfim... não me alongo mais nas minhas experiências laborais menos positivas :)

ps para o Nuno,
Já vi o mail :) Assim que tiver mais tempo respondo como dever ser mas em principio aceito de bom grado o convite.

cristina ribeiro disse...

Nuno, pelo que já me foi dado ler, acredito :)


Pedro Fontela, não me parece que tenha sido esse o caso.
Silva Pinto não se terá eximido de ser frontal nunca; mas chegou à conclusão de que o homem era literariamente superior (e não só literariamente pois que, apesar do conhecido mau feitio, já li muitos testemunhos sobre uma certa generosidade de carácter).

Anônimo disse...

Compreendo bem o que ambos querem dizer. O Pedro sabe bem que a hipocrisia atravessa qualquer sociedade e nem sequer é apanágio da portuguesa. Já estive dúzias de vezes em França e como convidado para jantares, etc, muitas vezes recebi palmadinhas nas costas, ao mesmo tempo que os nossos compatriotas lá residentes, eram desdenhosamente criticados, coisa que eu achava de uma descomunal grosseria. À minha frente era impossível fazê-lo. Os portugueses são talvez muito bem comportados e honestos. Se começassem a queimar carros e a assaltar nos comboios, talvez fossem mais respeitados. Que ignomínia. Um dia destes conto uns episódios.
Quanto ao Camilo, creio que a Cristina acerta na conclusão ou julgamento do homem. Parece que tinha uma conversa absolutamente fascinante, inventava palavras com segurança e autoridade e fazia rir os outros. se estivesse bem disposto, claro.
Nuno

O Réprobo disse...

Ora cá está ele! Silva Pinto era sempre excessivo, mesmo quando tinha razão, o que não era o caso. E percebeu-o, arrependendo-se dos juízos expelidos.
Penso que o mau hábito certeiramente apontado ao nosso modo de ser não se aplica no caso, por não ter havido contemporaneidade das posições antagónicas.
Beijo e abraços

cristina ribeiro disse...

E que gozo dá a leitura das polémicas, em que cada um deles tenta superar o outro na arte de maldizer :)
Beijo