quarta-feira, 2 de abril de 2008

João villaret

Andava no primeiro ano do Liceu, quando o Professor de Português decidiu fazer um "concurso" de declamação dentro da turma, deixando a cada um de nós a escolha do poema.
Foi assim que escolhi «O Menino de Sua Mãe», de Fernando Pessoa:

"No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece
De balas trespassado
Duas, de lado a lado,
Jaz morto e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com o olhar langue
E cego os céus perdidos

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome, e o mantivera
"O menino de sua mãe"

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe . Está inteira
E boa a cigarreira
Ele é que já não serve

De outra algibeira , alada
Ponta a roçar o solo
A brancura embainhada
De um lenço...deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo

Lá longe, em casa há a prece:
"Que volte cedo, e bem"
(Malhas que o império tece")
Jaz morto e arrefece
O Menino de Sua Mãe"

No final o professor fez-me o maior dos elogios que podia, quando disse que lhe fizera lembrar João Villaret: não tinha qualquer memória do Declamador, mas sempre ouvira os rasgados encómios que o meu pai lhe fazia...

3 comentários:

O Réprobo disse...

Querida Cristina,
pois eu conheço o poema declamado pelo famoso especialista. Tenho a sensação de que me não seria difícil preferi-lo declamado pela Ilustre Bloguista.
Há outros poemas em que gosto de o ouvir, o pessoano ao volante do Chevrolet, por exemplo, mas nalguns acho-lhe a voz demasiado aguda, vejo-o mexer-se em demasia e os tiques prejudicam.
Por exemplo, na «Procissão», de António Lopes Ribeiro, prefiro Paulo Renato.
Beijo

cristina ribeiro disse...

Não sei, não, Paulo. Acho que foi benevolência do professor :)
Já tinha dito isso algures. Mas não conheço a versão de Paulo Renato.
(Lembro-me é de ouvir Villaret a declamar "E não me digam que a mulata é má", no "Je Maintiendrai")
Beijo

Anônimo disse...

Agora foi a senhora que me trouxe à memória o Cântico Negro de José Régio declamado superiormente por João Villaret (com um final tão sentido que arrepia)...