Tal como prometido à Cristina, uma breve nota sobre as conferências de hoje. Aproveito também para indicar aos interessados que podem acompanhar a cobertura dessas no blog do Núcleo de Estudantes de Ciência Política do ISCSP. Já agora, novamente, o cartaz das jornadas está aqui.
De manhã, na conferência subordinada ao tema "Tributo, Poder e Corrupção", fiquei agradavelmente surpreendido com o Secretário de Estado Adjunto e da Justiça, José Conde Rodrigues, que não só se prestou a ficar durante toda a conferência (para mim, algo inédito quanto aos agentes do poder. Lembro-me de ver ridículos presidentezecos de câmaras municipais a ir só à abertura de um qualquer evento porque se acham demasiado importantes para ficar até ao fim), como teve uma erudita, esclarecida e realista intervenção, enquanto mais uma vez se assistiu a Maria José Morgado a debitar o common knowledge sobre o tema da corrupção. Ainda coloquei uma questão, se não achava a demasiada exposição mediática contraproducente, na medida em que retira espaço de manobra aos investigadores e agências que se ocupam do combate à corrupção, enquanto a opinião pública vai exigindo cada vez mais resultados. Resultados esses, praticamente nulos. Gostei da sua relativização do assunto, alertou que não poderíamos ter uma visão normativista da coisa, isto é, não podemos pensar que vamos acabar totalmente com a corrupção, podemos sim eliminar parte dessa.
Foi também agradável ouvir Luís de Sousa, investigador do ISCTE, que nos deu uma visão de como o fenómeno da corrupção pode ser estudado academicamente, a quem ouvimos muito justamente dizer que não há, não houve, e que tem dúvidas sobre se alguma vez haverá uma estratégia nacional de combate à corrupção. Acrescento ainda, não há, desde há muito, estratégia nacional seja para o que for. Não há responsabilidade, não há sentido de Estado, não há nenhum projecto colectivo de desenvolvimento nacional. Quanto mais uma estratégia para combater um dos fenómenos que, também ele, está na origem da inércia do Estado português.
Continuo a achar que a corrupção é um fenómeno intrínseco à própria vida em sociedade, é uma das componentes do fenómeno Estado, enquanto emanação da sociedade, mais ainda nos países latinos, onde se denota a tendência inata para a prática dos favorecimentos, compra do poder e afins. E ainda que o Professor Doutor João Catarino de forma normativa e ideal defenda que não há uma diferença a nível ético, mas sim valores que todos devemos perseguir, continuo a achar que a ética protestante aliada ao liberalismo de matriz anglo-saxónica produz sociedades e indivíduos responsáveis que não se prestam aos desvios que os latinos, católicos e herdeiros da tradição francesa, infelizmente se prestam. O protestantismo é implacável perante os desvios. O catolicismo é naturalmente tolerante. Por isso é que os políticos latinos, regra geral, não têm qualquer sentido de responsabilidade perante as suas populações.
Quanto à conferência da tarde, sobre "A melhor forma de governo", excusar-me-ei a comentar detalhadamente, devido a uma delicada situação interna que se vive na faculdade. Limito-me a remeter para o blog do Professor Maltez, e para os escritos que leu de forma emocionada, ilustrando o seu sentimento de revolta, de quem tem a liberdade como a mais elevada das propriedades.
Noto como a sala esteve a "abarrotar" da parte da tarde, com pessoas pelo chão, de pé, à porta do auditório. Os jornalistas que ficaram para fazer as perguntas da praxe a Maria José Morgado, deveriam era ter ficado para filmar toda a conferência da tarde e mostrar na televisão o que é Ciência Política e Relações Internacionais, para talvez assim se começar a fazer os portugueses entender como é que as coisas realmente funcionam.
Em breve resumo, os Professores António de Sousa Lara e António Marques Bessa deram-nos uma visão pragmática, realista, em grande parte pessimista, que nos alerta para aquilo de que já Orwell falava, e que o Professor Sousa Lara ilustra nas suas últimas obras (A Grande Mentira e O Terrorismo e a Ideologia do Ocidente), isto é, a deriva para um novo totalitarismo com uma ideologia do pensamento único inculcada sob a égide da exportação da democracia para todo o mundo.
A destacar dois pontos quanto à intervenção do Professor Sousa Lara. Em primeiro lugar, a noção de que não há uma melhor forma de governo, há formas de governo que se adequam às populações, às circunstâncias, à cultura, enfim, às especificidades antropológicas dos indivíduos, comunidades e sociedades. É por isso que agarrar em modelos ocidentais e copiá-los para todo o resto do mundo resulta nas asneiras que tem resultado. Em segundo lugar, a essencial distinção entre a forma e a substância do poder. A substância que se está a exportar para o todo mundo é a mesma. As formas pouco interessam, posto que a substância é a de que sempre existirão oligarquias, plutocracias, primado da tecnologia e da globalização, o Estado espectáculo e o marketing político como base de legitimação do poder político. Posto isto, as formas são simbólicas, porque na essência estamos todos a caminhar para o mesmo, para uma ordem internacional que a plutocracia mundial vai ditando.
Bom, e como breve nota pessoal da minha parte, infelizmente, é triste notar como a decadência está já à nossa frente, demonstrada de forma crua pelos poucos justos revoltados que ainda vão sobrevivendo à ditadura da maioria, do pensamento único, da obediência da carneirada. E a maior parte de todos os outros, nem sequer se apercebe que vamos a caminho do fim. A Universidade já perdeu o sentido do que deve ser, do que foi, passou simplesmente a ser mais uma ferramenta na mão dos governos, em detrimento das sociedades, a quem a verdadeira Academia deu voz um dia. Em Portugal, pelo menos.
De manhã, na conferência subordinada ao tema "Tributo, Poder e Corrupção", fiquei agradavelmente surpreendido com o Secretário de Estado Adjunto e da Justiça, José Conde Rodrigues, que não só se prestou a ficar durante toda a conferência (para mim, algo inédito quanto aos agentes do poder. Lembro-me de ver ridículos presidentezecos de câmaras municipais a ir só à abertura de um qualquer evento porque se acham demasiado importantes para ficar até ao fim), como teve uma erudita, esclarecida e realista intervenção, enquanto mais uma vez se assistiu a Maria José Morgado a debitar o common knowledge sobre o tema da corrupção. Ainda coloquei uma questão, se não achava a demasiada exposição mediática contraproducente, na medida em que retira espaço de manobra aos investigadores e agências que se ocupam do combate à corrupção, enquanto a opinião pública vai exigindo cada vez mais resultados. Resultados esses, praticamente nulos. Gostei da sua relativização do assunto, alertou que não poderíamos ter uma visão normativista da coisa, isto é, não podemos pensar que vamos acabar totalmente com a corrupção, podemos sim eliminar parte dessa.
Foi também agradável ouvir Luís de Sousa, investigador do ISCTE, que nos deu uma visão de como o fenómeno da corrupção pode ser estudado academicamente, a quem ouvimos muito justamente dizer que não há, não houve, e que tem dúvidas sobre se alguma vez haverá uma estratégia nacional de combate à corrupção. Acrescento ainda, não há, desde há muito, estratégia nacional seja para o que for. Não há responsabilidade, não há sentido de Estado, não há nenhum projecto colectivo de desenvolvimento nacional. Quanto mais uma estratégia para combater um dos fenómenos que, também ele, está na origem da inércia do Estado português.
Continuo a achar que a corrupção é um fenómeno intrínseco à própria vida em sociedade, é uma das componentes do fenómeno Estado, enquanto emanação da sociedade, mais ainda nos países latinos, onde se denota a tendência inata para a prática dos favorecimentos, compra do poder e afins. E ainda que o Professor Doutor João Catarino de forma normativa e ideal defenda que não há uma diferença a nível ético, mas sim valores que todos devemos perseguir, continuo a achar que a ética protestante aliada ao liberalismo de matriz anglo-saxónica produz sociedades e indivíduos responsáveis que não se prestam aos desvios que os latinos, católicos e herdeiros da tradição francesa, infelizmente se prestam. O protestantismo é implacável perante os desvios. O catolicismo é naturalmente tolerante. Por isso é que os políticos latinos, regra geral, não têm qualquer sentido de responsabilidade perante as suas populações.
Quanto à conferência da tarde, sobre "A melhor forma de governo", excusar-me-ei a comentar detalhadamente, devido a uma delicada situação interna que se vive na faculdade. Limito-me a remeter para o blog do Professor Maltez, e para os escritos que leu de forma emocionada, ilustrando o seu sentimento de revolta, de quem tem a liberdade como a mais elevada das propriedades.
Noto como a sala esteve a "abarrotar" da parte da tarde, com pessoas pelo chão, de pé, à porta do auditório. Os jornalistas que ficaram para fazer as perguntas da praxe a Maria José Morgado, deveriam era ter ficado para filmar toda a conferência da tarde e mostrar na televisão o que é Ciência Política e Relações Internacionais, para talvez assim se começar a fazer os portugueses entender como é que as coisas realmente funcionam.
Em breve resumo, os Professores António de Sousa Lara e António Marques Bessa deram-nos uma visão pragmática, realista, em grande parte pessimista, que nos alerta para aquilo de que já Orwell falava, e que o Professor Sousa Lara ilustra nas suas últimas obras (A Grande Mentira e O Terrorismo e a Ideologia do Ocidente), isto é, a deriva para um novo totalitarismo com uma ideologia do pensamento único inculcada sob a égide da exportação da democracia para todo o mundo.
A destacar dois pontos quanto à intervenção do Professor Sousa Lara. Em primeiro lugar, a noção de que não há uma melhor forma de governo, há formas de governo que se adequam às populações, às circunstâncias, à cultura, enfim, às especificidades antropológicas dos indivíduos, comunidades e sociedades. É por isso que agarrar em modelos ocidentais e copiá-los para todo o resto do mundo resulta nas asneiras que tem resultado. Em segundo lugar, a essencial distinção entre a forma e a substância do poder. A substância que se está a exportar para o todo mundo é a mesma. As formas pouco interessam, posto que a substância é a de que sempre existirão oligarquias, plutocracias, primado da tecnologia e da globalização, o Estado espectáculo e o marketing político como base de legitimação do poder político. Posto isto, as formas são simbólicas, porque na essência estamos todos a caminhar para o mesmo, para uma ordem internacional que a plutocracia mundial vai ditando.
Bom, e como breve nota pessoal da minha parte, infelizmente, é triste notar como a decadência está já à nossa frente, demonstrada de forma crua pelos poucos justos revoltados que ainda vão sobrevivendo à ditadura da maioria, do pensamento único, da obediência da carneirada. E a maior parte de todos os outros, nem sequer se apercebe que vamos a caminho do fim. A Universidade já perdeu o sentido do que deve ser, do que foi, passou simplesmente a ser mais uma ferramenta na mão dos governos, em detrimento das sociedades, a quem a verdadeira Academia deu voz um dia. Em Portugal, pelo menos.
3 comentários:
Mas a mim ninguém me cala!
Samuel, temos que nos encontrar, há muito para falar. E que tal, aqui e publicamente convidarmos o Fontela a participar com textos parisienses? Seria interessante.
Sim Nuno temos que combinar isso! Concordo plenamente com o convite ao Pedro, não sei se ele terá visto estes comentários pelo que te "encarrego" de o publicitares no blog :p)
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