terça-feira, 13 de maio de 2008

Croniquetas republicanas (5): José Relvas diz de Teófilo Braga


"Há no seu aspecto externo um desleixo miserável. Sem hábitos sociais, tendo vivido uma longa existência confinada entre quatro paredes da sua desordenada biblioteca, dotado de uma natureza fundamental e incorrigivelmente plebeia, avarento, fazendo livros sem probidade, atacando sinuosamente os homens em quem receia competidores, descendo até vis insinuações (...), ambicioso, mas de uma vulgar e baixa ambição, sem a nobreza de quem aspira a um alto destino para a realização de um alto ideal, Teófilo Braga exterioriza o tipo do adelo, coçado ao balcão, em que tem vendido a algumas gerações uma obra feita de retalhos, cheia das promiscuidades do bricabraque literário, em que as botas cambadas e rotas dos pontapés que deu a Herculano e Castilho, emparelham com a casaca do casamento, com que teve o impudor de se apresentar na primeira festa diplomática oferecida pelo ministro da Argentina ao Governo da Revolução! (...) É uma fraca inteligência e um coração insensível (...) A sua acção no Directório, como havia de ser mais tarde no governo Provisório, ou era nula (...) ou era ditada pelos seus interesses, pelas suas ambições e muitas vezes pelos seus rancores. "

Eis o juízo que Relvas fazia daquele que era considerado como luminosa inteligência resgatadora da Nação. Foi o segundo presidente da república.

6 comentários:

cristina ribeiro disse...

Estas suas crónicas, Nuno, merecem um tempo de mais disponibilidade para as ler, mas numa primeira leitura, totalmente em diagonal, já deu para perceber o quanto vêm acrescentar...

Nuno Castelo-Branco disse...

Cristina, estas crónicas não são minhas, que sou suspeito na matéria. São do milionário Relvas, um ocioso senhor que brincou à revolução. Temos que lhe dar a palavra, ele conhecia bem os seus correligionários.

Pedro Fontela disse...

Olhem que isso depende muito da facção de Relvas...

Nuno Castelo-Branco disse...

Pedro, o Relvas era um grande privilegiado, vivendo à grande no solar dos Patudos, onde a família real era frequente visita do seu pai, Carlos relvas. Homem culto, estava habituado às cavaqueiras que tão bem conhecemos em certos meios, onde tipos refastelados em cadeirões Luís XV de época, peroram a respeito dos males que fustigam o planeta Terra. naquele tempo, bebericando uma boa pinga da sua recheada adega de família, lá organizava uns serões com a burguesia endinheirada de Lisboa, que almejava obter o derradeiro e inacessível reduto que lhe escapara à voracidade: o trono. Viu-se no que deu. A opinião que o homem tinha dos seus pares é assombrosa e por si, é um autêntico libelo contra o regime que proclamou. Voltaremos ao caso.
Abraços. Paris deve estar uma maravilha, porque Maio sempre foi o mês ideal para visitar a cidade.

Anônimo disse...

Jà li algures o contraponto de Braga sobre Relvas, acusando-o de ser um interesseiro, que chegava a exercer todo o tipo de chantagens para obter lugares no poder, no que Braga nunca condescendeu, pois - com todos os seus defeitos e até o seu furioso positivismo anticlerical - era um republicano monástico e de folha limpa.

José Raimundo Noras disse...

Nuno Castelo Branco, esclareço que José Relvas nunca foi o "burguês absentista que caracteriza". A fortuna que obteve foi muito fruto do seu próprio trabalho de gestão quando herda uma poderosa casa agrícola (criado por seu avô) em situação financeira difícil, que obrigou a vender a casa dos pais (entre outras coisas) após partilha com pai e irmão por morte da mãe. Foi o seu sucesso como "reformador" da viticultura que o tornou conhecido nos meios agrários e fora deles. Dos seus subalternos (funcionários do Ministério das Finanças), camponeses, para além de ódios (foi o primeiro dirigente a colocar relógios de ponto no serviço público) também granjeou grandes amizades e simpatias, bem presente nas sinceras homenagens que lhe fizeram. Liberal conservador, a questão social nunca esteve ausente das suas preocupações. Os concertos nos Patudos onde se "beberricava" o vinho abafado produzido na herdade, eram abertos a toda a população. À República que ajudou a criar, na morte precoce dos herdeiros, deixou a maioria do vasto património fundiário e artístico que reuniu em vida. Chegava a ter preocupações em cartas que dirige ao filho e ao feitor com a compra correta das ovelhas, mas também com a possibilidade de (à semana ou à jorna, como na época se usava) aumentar salários no inverno. Teófilo Braga foi professor de José Relvas, em Lisboa conheciam-se bem. Mas ao contrário de outros, "gentelman" como era nunca, não o acusou, nos tribunais, de plágio descarado. Relvas não obteve os "grandes cargos" que insinua, o que seria fácil se recorrer a forma menos honradas e patrióticas, visto que também foi um dos financiadores do PRP. Em relação ao "anónimo" gostaria da citação de texto de Braga. O que José Relvas escreveu sobre Teófilo Braga (bem pior disse do Rei D. Manuel II, com quem terá eventualmente brincado em criança) era para ser publicado como memória no fim da vida depois 1990, como "testamento/ajuste de contas" para uma República, para uma vida de idealista pragmático, que sempre lhe foi ingrata. Ao senhor anónimo gostaria de ter conhecimento da citação de Teófilo Braga sobre Relvas. Obrigado pela atenção. Bem haja.