quinta-feira, 8 de maio de 2008

Dou todo o meu apoio a esta proposta do BE

Sim, leram bem o título, por incrível que pareça. Comecem é já certas almas a contorcerem-se quando souberem que o Bloco de Esquerda apresentou hoje na Assembleia na República um projecto de lei que pretende tornar obrigatória a frequência de uma área curricular de educação sexual nas escolas, com a duração de 90 minutos.

Se já existem disciplinas como Área de Projecto, Educação Cívica ou Estudo Acompanhado, mais balelas para dar pouco trabalho aos professores e manter os alunos entretidos sem grandes chatices do que realmente disciplinas, penso ser de maior importância a existência de uma disciplina de educação sexual nas escolas. Questões como as Doenças Sexualmente Transmissíveis ou o uso de preservativo têm que ser esclarecidas junto da população mais jovem para evitar o aumento do número de infectados com DST's (onde se inclui o HIV/SIDA), e de mães adolescentes.

Não me venham com as cretinices de que "isso" se aprende naturalmente. Nota-se pela quantidade de asneiras que se ouvem todos os dias. Além do mais, com a quantidade de informação disponível, entre filmes, séries e novelas, sem falar em filmes pornográficos, revistas, livros ou tudo o que uma criança hoje pode ver na internet, correm-se riscos quanto à maneira como as crianças e adolescentes encararão a sua futura vida sexual, se as devidas medidas não forem tomadas para que se possa proceder à sua devida formação.

E também não venham dizer que é aos pais que tal cabe. A maior parte dos pais tem vergonha de falar com os filhos sobre qualquer assunto relacionado com sexo. Tenho a sorte de ter uns pais com mentalidades avançadas, até porque os anos que viveram fora daqui, no norte da Europa, assim o proporcionaram. A minha mãe desde cedo me foi instruindo correctamente, falando comigo e comprando-me livros de educação sexual (acabaria por aproveitar o que aprendi para disciplinas como Ciências da Natureza, quanto à matéria sobre o corpo humano), que entretanto serviram também para ensinar a minha irmã. Mas aposto que como os meus pais não haverão mais do que 1 ou 2 em cada 1000 ou 10000 pais portugueses.

Se a educação é de facto para ser dada em casa, cabendo à escola a instrução, no campo da educação sexual, se os pais não são suficientemente capazes, então que à escola caiba essa função.

Já agora, à notícia do Público surge o seguinte comentário de uma senhora:

É preciso não confundir! O que tais mentalidades querem é sexo nas escolas e não educação sexual! Mas quem é que precisa de educação sexual! Apreende-se, naturalmente, quando chega a altura! O que me parece necessário, é aprenderem a controlar-se e a respeitarem uns aos outros! Já sabemos que o prazer está acima de tudo, sobretudo nos tarados!

Subscrevo as palavras do Não Compreendo as Mulheres: Nada como a intervenção duma senhora que, apesar de adulta, não faz a mínima ideia do que é educação sexual, para ficar demonstrado que o projecto de lei tem toda a razão de ser.

4 comentários:

Luís Bonifácio disse...

99.9 % dos estudantes do Secundário pensam, e estão à espera, que a "educação sexual" seja "Sexo nas Escolas".
HIV, Sifilis, aparelho reprodutor, etc. Isso não lhes interessa nada. O que eles pensam obter é o Kama-Sutra com aulas práticas.

Nuno Castelo-Branco disse...

Inteiramente de acordo, Samuel. Assino por baixo. Se o BE servisse apenas para a modernização e consciencialização da população, tudo bem. O pior é o gato escondido de rabo de fora, com os Lenines, Trotskis, Estalines, Chávez e quejandos. ..

Samuel de Paiva Pires disse...

Caro Luís, mas não será isso que vão obter, independentemente daquilo que pensem. O que interessa é aquilo que a escola lhes terá que ensinar, que quase nunca se pauta pelo que os estudantes querem (nem na universidade às vezes, quanto mais no secundário).

Luísa A. disse...

Meu caro Samuel, pela primeira vez, receio estar em desacordo consigo e com o Nuno. Não porque não ache importante a educação sexual nas escolas. Mas porque ela já é dada hoje na tal cadeira de Ciências da Natureza com bastante detalhe. E com uma enorme incidência nas questões sanitárias, que refere. Tive oportunidade de acompanhar os estudos da minha filha e fiquei muito agradavelmente surpreendida com a profundidade da abordagem – acho até que aprendi qualquer coisa. :-D
O que me leva a partilhar a desconfiança do Luís Bonifácio…