O Diário de Notícias de ontem, sexta-feira, incluía um belo e emotivo artigo assinado pela jornalista Fernanda Câncio, alusivo aos sessenta anos de existência - ou fundação - do Estado de Israel.
Peça essencial no xadrês geopolítico nascido do desastre da II Guerra Mundial, Israel tem sobrevivido devido a factores endógenos e exógenos. Da sua persistência na afirmação de Um Povo, Um Território, conseguiu o respeito e generalizado reconhecimento internacional como um parceiro a considerar. Micro-Estado sob o ponto de vista territorial, tem pelo engenho das suas gentes e pela diáspora na Europa e Américas, uma especial importância que não pode ser negada. Durante quarenta anos, fez parte daquilo a comummente se chamava Mundo Livre e a sua segurança era tão essencial ao Ocidente, como a segurança da Suécia, Grécia ou Noruega. Os europeus sempre consideraram os israelitas como "uns dos nossos" e qualquer guerra desencadeada contra o Estado, era seguida com interesse e evidente simpatia para com a causa de Telavive e isto mesmo quando as opções israelitas nem sempre coincidiam com aquilo que se considera ser o Direito Internacional.
A direita liberal sempre foi entusiástica ou moderadamente aliada de Israel, enquanto a esquerda sofreu sempre uma inconciliável clivagem derivada do posicionamento relativo dos partidos quanto à Guerra Fria. Os social-democratas mostraram uma disponibilidade de contemporização - quando não de total apoio - para com os israelitas, enquanto os comunistas subjugados pela tutela da URSS, faziam abertamente o jogo tradicional do antisemitismo herdado da praxis social nos países do Leste europeu e do seu antagonismo perante o claro aliado dos EUA.
Israel é um país de contrastes. É um Estado de direito, onde a liberdade de expressão e de publicação é garantida. Existe a igualdade de sexos perante a Lei e o ordenamento jurídico impõe as normais garantias e liberdades facilmente reconhecíveis em qualquer país da Europa ocidental. Existe também um tremendo problema de consolidação de fronteiras, onde uma população pouco homogénea e dispersa em núcleos irredutíveis entre si, disputam há décadas a primazia. Israel nasceu do Grande Desastre e esse tem sido o principal e basilar cabouco da construção e fortalecimento do país. Sendo claramente um dos grandes vencedores da Guerra Fria, deverá iniciar um novo caminho, difícil e pleno de contradições e esperada violência, mas capaz de finalmente obter o reconhecimento dos seus vizinhos. Israel tem feito o serviço que a Europa não pode ou não quer executar: Osirak, a liquidação das fantasias nucleares de Damasco ou o previsível ajuste de contas com o atom-Ahmadinedjad, fazem o Ocidente respirar de alívio. Temos que retribuir e esse justo prémio é a amizade. Tão difícil para os bem conhecidos e turvos interesses da economia global e tão fácil para a simples consciência de homens livres do mundo livre.
No momento em que os portugueses tomam conhecimento das veleidades expansionistas propaladas pela al-Qaeda, há que olhar o mapa do Médio Oriente tal como hoje existe. Quando Zawahiri declara que a península ibérica é território islâmico ocupado por cruzados, isto equivale a uma declaração de guerra. Não podemos fingir alheamentos e sobretudo, não podemos ceder. E Israel é um bom exemplo para todos.
2 comentários:
Juntamente com outras pequenas clareiras, como a Jordânia, é, claramente, um ponto que irradia luz naquela região, não obstante os extremismos,a que, à semelhança de qualquer país, não está, naturalmente, imune...
Nuno, Israel é sem dúvida um belíssimo exemplo para todos.
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