terça-feira, 8 de abril de 2008

Zimbabué, Moçambique, Zaire, Angola... a velha história!

A farsa das eleições no Zimbabué parece ter saído muito cara ao regime de Mugabe.  Desta vez nem a coacção moral ou física surtiram efeito e o eleitorado, mesmo temendo pelas consequências da sua decisão, decidiu terminar com o ciclo de violência e escabrosa incompetência que caracteriza o actual regime. Legitimado pelas primeiras eleições após a independência, Mugabe assenhorou-se do país como se este fosse propriedade exclusiva. Modificou a Constituição, rasgou os acordos celebrados com o Reino Unido e na clássica fuga em frente de um exacerbado populismo, aniquilou a presença "colonial" branca no território, com o pretexto da distribuição equitativa de terras roubadas.  Assistimos há anos a deploráveis cenas de violência, onde a depredação de bens é acompanhada pela mais infame carnificina diante dos operadores de televisão, num ajuste de contas que tem como único fim a manutenção do ditador no poder. Não é novidade porque os portugueses testemunharam há três décadas, cenas em tudo semelhantes que a coberto dos "ventos da história", devastaram países outrora prósperos e com um futuro promissor, relegando-os à condição de meras caricaturas de Estados onde, se o tribalismo não é assumido como tal, conseguiu transfigurar--se no chamado Partido. 
Em 1974-75, Samora Machel fez sorridentemente, exactamente aquilo que Mugabe hoje nos apresenta de face carrancuda. Não nos podemos esquecer dos morticínios e purgas mesmo durante o período de transição e sob soberania portuguesa, quando elementos exteriores à Frelimo - Joana Simeão e Urias Simango, entre milhares de outros -, foram massacrados sem qualquer simulacro de legalidade. O poder total e tentacular, os ódios antigos e a escandalosa incompetência dos novos senhores, condenaram Moçambique a descer à categoria de um dos países mais miseráveis do mundo, onde a guerra civil lavrou durante décadas. Desembaraçando-se da presença branca colonizadora, o país caiu no caos, sem serviços públicos, sem professores e escolas, com infraestruturas abandonadas, desastres agravados ainda pela  voracidade dos novos amigos internacionalistas - alemães, búlgaros, russos ou cubanos - que exploraram até à exaustão os recursos do moçambicanos. Como se tornou evidente, alguns dos nossos actuais  parceiros da U.E., os dinamarqueses, holandeses e suecos, obtiveram o precioso quinhão nos despojos, recebendo a recompensa por tudo tem feito para expulsar a presença portuguesa. 
Tudo isto era previsível, porque a Tanzânia do iluminado Nyerere já há anos trilhara o caminho do denominado socialismo africano, mero sofisma que escondia a inépcia e o despotismo mais descarado e sangrento. Samora Machel era um rancoroso e um incapaz. Era e não vale a pena negá-lo porque até os seus próximos hoje o reconhecem. O seu regime mergulhou os moçambicanos na penúria mais extrema, onde cidades inteiras e os hospitais não possuiam água corrente e electricidade, as pontes tombavam por falta de manutenção, os grandes hotéis se tornaram viveiros de ratos ou pocilgas. Um povo abandonado sem serviços de saúde mínimos, devastado pela fome e pela guerra civil, sem escolas e escravizado por desdenhosos senhores eslavos ou nórdicos que habilmente o saquearam até à exaustão. É esta a verdade. Contudo, o regime de Samora teve cúmplices nos tutores do leste europeu ansiosos pela conquista de mais uma peça no "dominó imperialista" e mesmo em Portugal, sabemos bem que os piores colaboradores são facilmente identificáveis, vivendo alguns bem perto de todos nós. De nada se arrependeram e ufanamente dizem que tudo repetiriam, confiantes no hegemónico, contingente e convencionado princípio do politicamente correcto. O regime estabelecido na ex-Lourenço Marques teve a seu favor a impunidade consequente da ausência de informação durante o período de máximo expansionismo soviético no mundo e das claríssimas cumplicidades compradas em Lisboa, onde turvas negociatas e camaradagens nascidas de lutas de outrora, silenciaram a verdade dos factos. Mugabe não é diferente de Samora, nem sequer de Agostinho Neto, Nyerere, Mobutu, Bokassa, Touré ou Idi Amin, para citar apenas alguns magnicidas do nosso tempo. O zimbabueano tem hoje contra si o simples factor informação que quase tudo revela e pouco deixa encoberto. Mugabe será dentro de pouco tempo, uma triste recordação num continente que merece melhores dias.
É que nem todos beneficiaram da sorte de  ter como Chefe de Estado, um Mandela ou um Senghor. Infelizmente.

8 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Caro Nuno

Há um erro no seu raciocínio.
Há uma coisa que, pelo menos, Samora, Neto, Nyerere não se pareciam com Bokassa. Não consta que comessem criancinhas.

Nuno Castelo-Branco disse...

Pois, esqueci-me desse detalhe. Prefriam matá-las à fome ou incorporá-las nos exércitos de "libertação".

cristina ribeiro disse...

Certíssimo!...

Nuno Castelo-Branco disse...

Queria dizer, preferiam e não prefriam. Tenho que passar a corrigir os textos!

Anônimo disse...

Implacável e incómodo mas acertivo. A Mandela e Senghor apenas acrescentaria Jomo Kenyatta.

Nuno Carvalho disse...

Um texto admirável!

LUIS BARATA disse...

OPORTUNÍSSIMO TEXTO NESTA MARÉ DE VISITAS PRESIDENCIAIS DE FAZ-DE-CONTA...

Anônimo disse...

E o tal Cavaco e a sua imbecil mulher que passam a vida a lamber as botas daqueles tipos?