segunda-feira, 9 de junho de 2008

Conservadores e a filosofia, de novo

Como o Samuel publicou um daqueles textos da direita triste, resta-me responder ao voltar a publicar algo que escrevi há uns tempos sobre outro desses "filósofos" conservadores mas que se aplica lindamente a quase toda a "espécie":

Para defender qualquer opinião com um minimo de coerência é util ler o que os nossos opositores vão escrevendo. Foi o que fiz, peguei num livro de um filósofo conservador para ver qual era a ideia geral - escolhi por mero acaso Alexander Boot e o seu livro "How the West was Lost". A ideia geral é que existe um Homem Ocidentel e existe um Homem Moderno e que os dois jamais podem conviver pacificamente. O primeiro depende de uma sociedade aristocrática e do apoio teológico de uma religião que legitime o Direito Divino da Monarquia que torna possivel a tal aristocracia. Pela própria definição de Boot a suposta cultura ocidental que ele defende é feita para uma elite política, económica e militar (e para Boot qualquer aristocracia real tem que controlar absolutamente estes três ramos) por uma elite ainda mais pequena de artista tementes a Deus. A cultura popular podia ser toda posta num caixote de lixo segundo Boot; apesar de ter sérias dúvidas sobre o valor de certas expressões populares actuais não consigo levar a tal extremo o desprezo que esse senhor sente por quase todos os compositores pós-Bach.

O Homem moderno segundo nos quer fazer crer o professor Boot é naturalmente inferior e o seu único propósito desde o inicio da nossa era seria destruir o que o Homem Ocidental cria. Obviamente que temos alguns problemas com esta visão simplista:

1) Para um autor que pensa que o comunismo é satânico demonstra uma visão supreendentemente Hegeliana e Marxista (as duas forças monolíticas que se opõem, o individualismo que nem aparece...).
2) O tratamento dado a uma e outra cultura são desiguais; escolher o topo da criação artística moderna como Bach e depois comparar com o pior que se faz hoje em dia é intelectualmente desonesto, tal como comparar um modelo teórico da monarquia benéfica do passado (inteiramente imaginária) e comparar com os piores regimes que existiram é jogar com as emoções de repulsa do leitor
3) Boot inventa uma noção de perseguição ao tradicionalismo sem nunca investigar muito fundo o porquê (para ele basta-lhe o modelo discutido em 1)). Abandono não é perseguição, por muito que os conservadores torçam o nariz.
4) O notório em todo o livro é a ausência de qualquer reconhecimento que qualquer erro tenha sido cometido pelo Antigo Regime (monarquia absoluta). Mais cego é o que não quer ver.
Por mais que leia e estude não vejo qualquer lógica às queixas do movimento conservador... até os seus filósofos se baseiam em retórica, generalizações e conclusões imaginárias sobre o sentido da história sem demonstrar grande capacidade de criação filosófica ou de investigação histórica.
Outro ponto que me toca no livro (e aqui acabo) é que existem referências à cultura Helénica-Romana e o reconhecimento de que são diferentes da cultura "ocidental" mas Boot tem sempre o cuidade de nem se atrever a fazer qualquer comparação entre essa cultura clássica e a que o Cristianismo inspirou... na minha humilde opinião de leigo penso que o professor Boot sabe quem iria ficar mal visto se tal comparação fosse feita.

Um comentário:

Nuno Castelo-Branco disse...

Pois, parece-me que seria extremamente interessante uma conversa a dois entre os srs. Boot e Chomski. Talvez saissem juntos para tomar umas cervejas e descascar uns camarões al ajillo. Há gente para tudo.