quarta-feira, 30 de abril de 2008
O Dalai Lama vigilante
Uma lição negligenciada...
Para certos amigos que pretendem nada esquecer e nada aprender, uma sugestão de leitura. Já agora, procurem algo sobre o conde de Chambord e mais concretamente, sobre o período da sua vida na década de 65-75 do século XIX.
terça-feira, 29 de abril de 2008
A Esquerda, a Direita e o Antes Pelo Contrário
Até já
Como estas ainda estão assim, vou em demanda de outras paragens, onde possam já ter florido...
Se pudesse, mandava um Gin Tónico do Peter's. Fica a intenção.
Os EUA e o fim da ordem unipolar - o necessário reajustamento estratégico
Embora a realidade do declínio da hegemonia dos Estados Unidos da América seja evidente aos olhos de todos, algo desde há muito teorizado sobre a forma dos ciclos de poder e hegemonia internacional, até porque empiricamente observável em termos de domínio material pelo hard power, tal não significa no entanto que os interesses dos Estados Unidos estejam ameaçados, tal como procuraremos demonstrar sucintamente.
Se com o fim da Guerra fria entrámos na era da unipolaridade no sistema internacional, com Francis Fukuyama a clamar pelo Fim da História através do aguardado mas (ainda?) não concretizado efeito dominó de expansão das democracias liberais a todo o mundo, com um claro domínio material do sistema internacional por parte dos Estados Unidos e da aliança vencedora, isto é, a NATO, com o advento dos ataques terroristas ao World Trade Center em 11 de Setembro de 2001, ganharia um reforçado ênfase a tese do Choque de Civilizações de Samuel Huntington, implicitamente exaltada em Precisará a América de uma Política Externa, obra em que Henry Kissinger procura responder às necessidades de reajustamento norte-americano às rápidas mudanças no panorama internacional.
Em termos militares é claro o domínio norte-americano e transatlântico através da NATO, que se tem transformado para dar resposta a novas problemáticas numa bipolaridade entre o Ocidente e seus aliados contra o Terrorismo Internacional. Mas é também claro que o conceito de segurança abarca hoje áreas tão distintas como os direitos humanos, energia, ambiente ou desenvolvimento, o que faz com que os instrumentos de Washington estejam cada vez mais desadequados à realidade vigente, sendo insuficientes para responder a todos os inputs do sistema internacional.
Porém, em termos ideológicos é facilmente colocada em perspectiva a noção de que os ideais norte-americanos presidem à construção da Ordem Internacional vigente, em que o surgimento e/ou ressurgimento de novos actores como potências com um papel importante a desempenhar, acontece segundo as regras do jogo e da arena construída a partir do ponto central, os Estados Unidos, sendo de assinalar que em termos políticos a legitimidade internacional é construída com base nas formas democráticas de governo e nas economias de mercado.
Todo o sistema financeiro, económico e comercial a nível mundial tem a intervenção dos Estados Unidos, quer em termos públicos e directos através de organizações como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, quer através de meios privados, pela bolsa, pela banca e pelas suas empresas transnacionais que além fronteiras se instalam por todo o mundo e constituem o motor produtivo da economia mundial.
No recente artigo The Future of American Power, publicado na Foreign Affairs de Maio/Junho 2008, Fareed Zakaria faz um paralelismo entre a hegemonia norte-americana e a hegemonia do Império Colonial Britânico, onde demonstra que enquanto a queda do Império Britânico se deveu a termos económicos, ultrapassado no fim do século XIX pelos Estados Unidos e Alemanha, e posteriormente devassado com duas Guerras Mundiais, no caso dos Estados Unidos o seu declínio explica-se precisamente em termos políticos, pela falta de ajustamento de Washington às transformações no sistema internacional.
A influência sob a forma de hard power que os Estados Unidos têm vindo a perder é natural à luz do surgimento de outros actores e das transformações de um sistema internacional com centros de poder cada vez mais difusos, mas se o mundo está a mudar, é no sentido dos ideais norte-americanos, pelo que normativamente nos parece que o ajustamento dos instrumentos de Washington se deve dar por forma a permitir o domínio em termos de soft power.
Como refere Zakaria, estamos a entrar numa era pós norte-americana, em que os Estados Unidos continuam a ser o actor central decisivo para o funcionamento do sistema mas que têm que se adaptar para ocupar menos espaço e permitir que o jogo funcione segundo as regras por si criadas, onde os seus interesses não se encontram ameaçados porque são simultaneamente os interesses de todos os outros actores, que hoje em dia se pautam pela constante necessidade de desenvolvimento para os seus países, populações e organizações.
Para concluir, parece-nos salutar, em altura de eleições para a Presidência norte-americana, relembrar Paul Kennedy em A Ascensão e Queda das Grandes Potências ao considerar que a natureza liberal e muito pouco estruturada da sociedade americana (…) lhe dá provavelmente maiores hipóteses de se reajustar a circunstâncias mutáveis do que as que teria uma potência rígida e dirigista. Mas isso, por seu turno, depende da existência de uma liderança nacional que consiga compreender os mais amplos processos em funcionamento no mundo actual e que tenha consciência tanto dos pontos fracos como dos fortes da posição dos Estados Unidos enquanto procura ajustar-se ao contexto global em mutação, até porque, por ter tanto poder quer para o bem, quer para o mal, por ser a pedra angular do sistema ocidental de alianças e o centro da economia global actual, aquilo que faz, e o que não faz, é muito mais importante do que aquilo que qualquer das outras potências decide fazer.
Agora é esperar para vermos o que nos aguarda.
Terapia termal (1)
Vidago, por exemplo, é um lugar mágico, e percorrer os vastos jardins do Palace Hotel, abertos ao público- quando lá fui, ainda o hotel estava em obras- é, por si só, a melhor das terapias.
Mais perto, são famosas as Termas de Vizela e as de Caldelas; a todas elas é comum, além da calma que lhes é, justamente, associada, uma atmosfera da "Belle-Époque", que, também, marcou Portugal.
segunda-feira, 28 de abril de 2008
O "meu" Paul (2)
Precisamente há 25 anos
"obrigado"?
Um dia,estava eu na primeira classe, mandou-me devolver um qualquer objecto a um professor de outra sala, e que não me esquecesse de agradecer. Assim fiz; quando regressei perguntou o que tinha eu dito: "obrigado", respondi, ao que a Dona Maria contrapôs- "então achas que o senhor deve estar agradecido por nos ter emprestado (o tal objecto, que já não lembro o que era) ?".
Há bocado lembrei-me novamente da Dona Maria...
Se quer casar,
Via Memórias de Araduca, um blogue que se dedica a publicitar tudo quanto a Guimarães respeita, e no passo em que procura estátuas com a característica que particulariza a que serve de símbolo à cidade, as duas caras, soube que também por cá temos um santo casamenteiro.
Encontra-se este no Bom Jesus do Monte , em Braga, e também esta estátua, equestre, ostenta uma cara suplementar, esta no escudo do cavaleiro representado.
Parece que no Brasil é invocado quando alguém perde algo, mas aqui reparte com Santo António as virtudes de arranjar marido a quem a ele recorre,
domingo, 27 de abril de 2008
Domingo, 27 de Abril, uma da tarde
O encontro entre os indivíduos na cidade normal: tudo ao som de AIR e em um cenário a “la Mies van Der Rohe”
Leiam a seguir um bom exemplo desse fato:
Brasília, 31 de outubro de 2005.
3:00 da tarde:
Vou para o trabalho dirigindo calmamente num trânsito em que se você quiser sempre chegará no horário certo. As vias retas, perfeitas, a rapidez do trânsito e o som do AIR no meu ouvido. O dia está fresco, como é raro aqui em Brasília, e o posto de gasolina estava vazio. Chego à escola e tenho que dar uma micro aula sobre Le Corbusier, Bauhaus, Gropius e afins. Me empolgo e acabo falando da casa que um dia quero desenhar com o traçado todo a “la Mies Van Der Rohe”. Lá dentro as coisas vão flutuar como no desenho dos Jetsons e algumas paredes vão ser verde água.
6:00 da noite:
Saio da escola e volto pra casa num trânsito ainda tranqüilo. O dia está totalmente bucólico, o som do AIR continua nos meus ouvidos e as pessoas em Brasília voltam para casa sorrindo sorrisos amarelos depois de mais um dia “tranqüilo” de trabalho.
A trilha sonora que ouço torna tudo alegre e verde água, e eu me sinto numa tarde dos anos 60. Passo vagarosamente olhando alguns blocos antigos e fico imaginando se “Corbu” estivesse sentado aqui, do meu lado no carro.
6:30 da noite:
Estou entrando na quadra comercial da minha super quadra. O trânsito já não é tão tranqüilo neste horário. Entre as quadras os carros se engarrafam e eu começo a olhar, ainda ao som de AIR, o “rapaz” (adoro essa palavra retrô) bonito do carro de trás que está tranqüilo ajeitando o cabelo pelo retrovisor. O som da música nos meus ouvidos está alto e tudo parece cena de filme. Numa das entradas em que estou parada, ainda olhando o “rapaz” bonito do carro de trás, avança um ônibus: ele é verde exército e tem aquele design amebóide dos ônibus antigos que carregavam soldados americanos nos anos 60.
O motorista me pede a passagem e eu cedo. Fico pensando de onde saiu aquele ônibus “retro” maravilhoso, enquanto ainda olho o “rapaz” bonito do carro de trás (ele era realmente bonito). Tudo está calmo demais, o som do AIR ainda toca nos meus ouvidos e o trânsito parece enfim avançar. É quando de repente olho pelo retrovisor lateral e vejo uma moto derrapando no chão, derrapou porque bateu de frente com uma senhora gordinha que atravessava feliz a via com seu cachorro bassê. A gordinha cai no chão derrapando também, o bassê late assustado, uma moça vem e ajuda a senhora a se levantar. O cachorro quase é atropelado por um outro carro que vem em alta velocidade. Então, os dois, cachorro e dona, vão correndo pra um dos canteiros, e eu, tenho que partir sem poder entender direito o que havia acontecido ali. Olho pelo retrovisor e vejo que o “rapaz” bonito, preocupado também, estaciona o carro em fila dupla indo ajudar a gordinha e o bassê. E eu parto para minha quadra, entro no estacionamento e pego o elevador, já sem o som do AIR nos meus ouvidos.
Pois é, tudo ia perfeito demais entre o bom contato e o mau contato, e é isso que faz da cidade "ideal" uma cidade "normal".
Le Corbusier: “Cidade ideal, o local onde o silêncio e a solidão se conjugam com o contato diário entre os indivíduos”.
Pois é, por mais que tudo pareça perfeito há sempre o contato entre os indivíduos, será que ele se esqueceu disso? Sempre que eu leio os conceitos de Le Corbusier sobre “a vida perfeita nas cidades” me lembro daqueles livros antigos de medicina alternativa, "Beba 2 litros de água, durma 8 horas por dia, caminhe, etc..." Acho engraçado ler os pré-requisitos que ele determinava para que uma cidade fosse “saudável”. E por mais que ele seja radical, às vezes é muito difícil discordar do que Corbu diz. Fico imaginando como seria conversar com ele e tentar entrar em discussão.
Le Corbusier: - As 8 horas de repouso continuado, a prática de esporte deve ser acessível a todos os habitantes da cidade. O esporte deve ser praticado bem ao lado de casa, bla, bla, bla...
Eu: - Mas senhor...Isso tudo é tão obvio, tão claro, e chato, chato demais! Eu adoro Brasília, gosto da facilidade que existe pra se chegar aos lugares (mas só quando é de carro) da ordem milimetricamente calculada das super quadras, gosto dos imensos verdes vazios e etc...Mas toda essa ordem é tão chata, tão chata quanto a voz de um médico dizendo que carne vermelha faz mal pra saúde!
Le Corbusier: - Mas escuta, todas as vezes que a linha for quebrada, interrompida, descontínua, pontuda, nossos sentidos serão afetados, dolorosamente afetados, nosso espírito se afligirá com a desordem, e pensará: ISSO É BÁRBARO! (Bárbaro de bruto mesmo).
Eu: - Eu discordo, senhor Lê Corbusier, acho muito chato ter sempre o mesmo jeito de voltar pra casa sem a possibilidade de mais outros mil caminhos. Acho chata a retidão das ruas sem um beco que apareça do nada ou uma ladeira linda e imensa que dê pra ver lá embaixo os moleques soltando pipa. Acho chato não me deparar de repente com uma rua de paralelepípedos ou uma curva que dê numa via sem saída. Definitivamente, acho chata a retidão da cidade planejada.
Le Corbusier: - Minha filha, o homem caminha em linha reta porque tem um objetivo, sabe aonde vai. Decidiu ir a algum lugar e caminha em linha reta porque é inteligente. Já a mula ziguezagueia, vagueia com cabeça oca e distraída, evita os grandes pedregulhos, busca a sombra, empenha-se o menos possível.
Eu: - Pois então meu senhor, que vivam as ruas desenhadas pelas mulas! Onde possa se vagar com a cabeça oca e distraída!
A mula é um flâneur!!! Eu sou uma mula!
E já agora comecem a nacionalizar empresas e propriedades
Os campeões do liberalismo querem sempre menos Estado, deixar funcionar o mercado. Quando se trata de amassar fortuna a fortuna, com lucros fabulosos, designadamente no sector bancário, aí "alto, o Estado que não se meta". Agora, tendo em conta a especulação mobiliária, tendo em conta as bolhas que existem e as dificuldades, então "aqui d'el rei, venha lá o Estado salvar-nos".
Não sei que liberais é que o líder do PCP conhece ou tem ouvido falar, mas só a um tolo poderá parecer crível tal afirmação. A questão está que em Portugal o Estado anda sempre com os privados atrás, aí não há liberalismo nenhum. Não me recordo de ver algum liberal a clamar pela intervenção do Estado para nos salvar em tempo de crises financeiras ou económicas. Aliás, quanto ao que se passa actualmente nos mercados financeiros mundiais do que tenho lido de diversos liberais é o aviso quanto à injecção abrupta de milhares de milhões de dólares para garantir a liquidez dos mercados, que poderá causar o efeito precisamente contrário ao pretendido. Mas camarada Jerónimo ainda faz melhor:
Em relação à banca, achamos que cinquenta por cento desse sector deveria estar [nas mãos do Estado].
Pois claro, saudades dos tempos do PREC não é camarada?
Fins-de Semana
(«O Leopardo», de Giusepe Tomasi di Lampedusa)
Sentada no sofá, muitas foram as vezes em que os olhos paravam neste título, na lombada de um livro fininho, há muito tempo na estante, sem vontade de o abrir, com receio de me decepcionar, tanto gosto do filme protagonizado por Burt Lancaster.
O normal é o contrário: decepção com a adaptação cinematográfica da obra literária; mas este filme de Visconti está num pedestal tão alto...; acontecera uma coisa assim com «Despojos do Dia», em que tive medo de o livro não ser digno das interpretações de Anthony Hopkins e Emma Thompson...
Até que ontem o livrinho venceu esses receios, e já vou a meio, sem que tivesse ainda vontade de o pôr de lado.
Pedaços do Minho
Pequenino e airoso,
Quem n'elle tomar amores
Póde-se dar por ditoso.
A agua do rio Minho
Corre por baixo da ponte,
Quem quizer o cravo louco
Ponha-lhe a rosa defronte.
Alta serra do Gerez
Onde a neve se detem,
Chamo, ninguem me responde,
Olho, não vejo ninguem.
O' alta serra da Estrella
Onde se tece a cambraia,
Se d'esta me vejo livre
Não temas que eu n'outra caia.
(in «O Minho pittoresco»)
sábado, 26 de abril de 2008
Pensamento (3)
Ainda do Diário de João Bigotte Chorão
Em Portugal, o desprezo pelo outro tornou-se de tal sorte que suspeitamos ser norma consagrada constitucionalmente.
Quando pela primeira vez fui turista no Estrangeiro
Foi um grande périplo, que nos levou até a Normandia, vale do Loire, e Paris.
Da Normandia lembro bem, além do Mont Saint Michel, o termos visitado o Museu do Desembarque Aliado; recordo ter visto, projectado num grande ecrã, o lançamento de centenas de pára-quedistas, e a reconstituição , em maquete, do desembarque dos tanques. Foi nessa altura que pela primeira vez ouvi falar no soldado Milhões, não sei bem porquê, pois que aquele é um museu dedicado à Segunda Guerra: mas o meu pai aproveitava sempre para fazer associações históricas...
Do Vale do Loire lembro, claro, os castelos que pareciam ter saído direitinhos de um conto de fadas, e de Paris lembro todos aqueles museus e monumentos. Recordo Versailles, o Palácio e os jardins fabulosos.
Já lá voltei várias vezes, mas esta imagem é a que permaneceu, indelével...
Comemorações abrilistas ao som de Chico Buarque
Será?
Pelo menos, os que amanham a terra puderam começar as sementeiras da batata: já muitos se lamentavam.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
A qualidade da democracia em Portugal
Assim tento responder ao desafio do Nuno...
Tê-lo-á visitado, também, na casa do escritor no Porto, na Rua de S. Lázaro, em 1872, quando este já se encontrava doente: "Tornou-se assunto de conversação a analyse de uns quadros que o senhor Camillo Castello Branco tinha na sala, mostrando o soberano vastos conhecimentos sobre pintura".
Depois de o escritor ter oferecido a D. Pedro um quadro com os vinte e um primeiros reis portugueses, tendo-se ele" comprazido de possuir umas lembrança de Camillo (...), fallaram de literatura, tanto portuguesa como brasileira, matéria sobre a qual o monarcha discursou largamente, com perfeito conhecimento de causa".
Finalmente, num dos volumes de "Dispersos de Camilo" , coligidos por Júlio Dias da Costa, encontrei uma carta dirigida a Tomás Ribeiro, na qual diz Camilo: "No « Livro de Consolação», pagina primeira, está impresso um documento que eu desejo fazer-te conhecido. É uma carta escripta a S. Magestade o Imperador do Brasil, dedicando-lhe affoitamente e audaciosamente, o meu livro. Essa carta manifesta o meu grande respeito e a minha profunda gratidão áquelle magnanimo homem, que não carecia de diadema para ser um dos mais veneraveis cultores das letras, e amigo dos operarios que vivem acorrentados á galé dos trabalhos do espírito, em que a alma, alando-se para altas regiões, vai deixando cahir em terra o corpo despedaçado».
Manifestação em Lisboa de apoio à rainha Carlota
Histórias do Minho: O imperador do Brasil visita Camilo
Por muito querer à sua terra (2)
Tudo se tornaria mais claro a partir do século X, quando a viúva Condessa Mumadona vem de Tui fundar um mosteiro na sua quinta de Vimaranes, onde hoje se situa a Colegiada, começando a formar-se uma povoação, que, mais tarde, com a vinda do Conde D. Henrique, iria salientar-se no seio do território governado por Afonso VI de Castela e Leão, dado o importante contributo deste Príncipe na luta de Reconquista, o qual viria a ser reforçado quando seu filho, Afonso Henriques, toma nas suas mãos o combate aos sarracenos, ganhando , deste modo, e após a decisiva Batalha de Ourique, travada em 1139, legitimidade para se proclamar Primeiro Rei do novo Reino que agora nascia.
E mesmo quando a corte se desloca mais para Sul, para Coimbra, Guimarães irá continuar a prosperar, culminando no "estabelecimento da corte dos Duques de Bragança, a família mais nobre e opulenta do Reino".
Feliz Aniversário, Majestade!
Nasceu em Aranjuez a 25 de Abril de 1775, D. Carlota Joaquina de Bourbon, rainha de Portugal e imperatriz do Brasil. Faz hoje 233 anos. Nesta solarenga sexta-feira, desejamos um feliz aniversário a Sua Majestade.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Pedaços do Minho
Qual é mais para sentir,
Se amar e viver ausente,
Se vêr e não possuir.
Eu hei de amar-te de noite
Que a noite tudo encobre
Dá-me uma falla, amorsinho,
Que a tua gente já dorme.
Ó luar da meia noite
Não sejas meu inimigo,
Estou á porta de quem amo,
Não posso entrar comtigo.
Rosa que estás na roseira
Fechadinha no botão,
Deixa-te lá estar dentro
Que lá te procurarão.
Ninguem se fie nos homens
Nem no seu doce fallar,
Que tem fallinhas de mel,
Coração de rosalgar.
Rosa que estás na roseira
Deixa-te estar que estás bem
Debaixo ninguem te chega,
Acima não vae ninguem.
Elle chove, elle chovisca
Na folha ao manjaricão,
É bem tola e é bem varia
Quem por homens tem paixão.
(in «O Minho Pittoresco» )
A Rainha Sofia e a milionésima passagem em revista das tropas espanholas
Com quem os pratica,
Não queiram enganar-nos
A ler
The Future of American Power, por Fareed Zakaria (editor da Newsweek International).
The Age of Nonpolarity, por Richard Hass (presidente do Council on Foreign Relations).
A ler
Os limites do bom senso...dos jornalistas, pelo Alexandre Guerra n'O Diplomata:
À primeira vista esta seria, no mínimo, uma brincadeira de mau gosto e que poderia colocar em causa o princípio de liberdade de imprensa, no entanto, lendo com mais atenção a notícia percebe-se o ambiente em que tudo se passou e chega-se a uma conclusão diferente: ao contrário de outras situações no passado, desta vez Il Cavalieri foi apenas sarcástico perante uma pergunta inconveniente da jornalista russa. Esta, talvez pensando que estaria a servir os interesses dos leitores russos, perguntou a Putin se estava em processo divórcio.
Além da questão por si só não ser motivo de notícia nem de interesse público, dificilmente se a consegue enquadrar numa visita do Presidente russo ao estrangeiro, sobretudo durante uma conferência de imprensa acompanhado do chefe de Governo de outro país. Há limites e noções de bom senso que devem reger os jornalistas em diferentes situações, e neste tipo de conferências de imprensa estas são perguntas que apenas servem para cobrir de rídiculo o próprio repórter.
Dia Mundial do Livro
Kissinger: Mas que exigência é esta de pôr as nossas agências de informações a descobrir golpes pelo mundo fora? (...) Será que nós temos que ter um FBI em cada país? (...) Nós dizemos que [Portugal] é uma ditadura, com serviços de segurança internos. Se os serviços de segurança internos portugueses não previram o golpe, como diabo íamos nós conseguir prever o golpe?
Sozinho
quarta-feira, 23 de abril de 2008
A respeito da alegada ratificação do Tratado de Lisboa
Ao contrário do que se afirma no Público (aqui, aqui e aqui, pelo menos), no Expresso, no Sol e em vários outros jornais on-line, Portugal AINDA NÃO RATIFICOU o Tratado de Lisboa. O parlamento limitou-se a aprovar o Tratado para ratificação. A ratificação propriamente dita é competência própria do Presidente da República, através de Decreto-presidencial antes do qual é incorrecto falar-se em ratificação.
O Presidente pode, entre outras coisas, solicitar ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva da constitucionalidade do Tratado antes de o ratificar.
Não sendo provável que o Presidente utilize esta prerrogativa, considerar, desde já, ratificado o Tratado constitui uma grave subalternização do papel constitucional do PR.
Fim de tarde na Praça do Comércio
Breves Escritos Internacionais
Estado Sentido torna-se luso-brasileiro
Este é um espaço cada vez mais multifacetado, e de certa forma cada vez mais completo, versando sobre temas que sempre andaram de mãos dadas, Política, Arte e Literatura. A todos, leitores e colegas de blog, o meu sentido agradecimento, e que possamos continuar com esta bem sucedida empresa.
Lisboa arruinada (29) O terreno da Feira Popular
Por muito querer à sua terra (1)
Nascido em 1843, foi este "Este espírito ilustrado, aprimorado cultor das letras(...) , um escritor esmerado e jornalista vigoroso", nas palavras do prefaciador da actual edição, Francisco Martins, num texto datado de 1923.
Nele, "o sentimento de amor à Pátria" foi uma realidade de todos os dias.
Sobre Guimarães, escreve:
"Guimarães, cúria augusta do primeiro Afonso, berço nobilíssimo da monarquia portuguesa, assenta em prados verdejantes, que se alastram nas fraldas ocidentais da serra pitoresca de Santa Catarina(...). É tão aprazível e bela a sua estância que um dos nossos antigos infantes, ao contemplar Guimarães da vertente da montanha, dissera enleado por tão formoso quadro: quem te deu, não te viu, se te vira, não te dera. Aludia, diz Frei Leão de S. Tomás, aos reis antepassados, que doaram a vila à Casa de Bragança, o que decerto não fariam, se a vissem tão bem assentada, tão bem murada, coroada de tanta frescura e arvoredo, e tão formosa em si.
(...) Daqui nasce, que, sendo tão pequena esta região, é sumamente fértil, e a benignidade dos seus ares, a afluência dos seus rios, as abundâncias e delícias dos seus campos comprovam a fama do seu admirável temperamento, donde se animou a dizer Manuel de Faria que se no Mundo houve Campos Elísios, existiam nesta Província, e se os não houve, merecia que somente os houvesse nela..."
Só para dizer Olá
Um blogue luso-brasileiro, este que encontrei quando liguei o computador. Já estávamos à sua espera, mas veio sem fazer barulho, de mansinho. Bem-vinda!
Pra começar que tal falar um pouquinho sobre arte contemporânea?
O salão de Paris não aceitava os quadros dos pintores impressionistas, por isso eles se uniram e criaram um outro jeito pra mostrar sua arte. E qual era a maior alegria de Van Gogh? Mostrar sua pintura. Quando ele leu pela primeira vez uma crítica de seus quadros ele saiu saltitando de alegria pelos trigais! E Gauguim? Foi pra uma ilha do Pacífico conseguir novas idéias, um novo estilo, qualquer coisa que fizesse com que seus quadros fossem novamente admirados pelos parisienses (que num certo momento começaram a o ignorar) .
Interessante, a pessoa que eu mais tenho visto atualmente escrever e criticar arte contemporânea não é um crítico de arte, nem um artista plástico, é um músico, o Bruno Medina da banda Los Hermanos. E por que será? Num dos posts em seu blog, Medina fala novamente do problema que tem com as instalações. Isso acontece porque ele faz parte da maioria das pessoas que gostam de arte. Feliz do Seu Jorge que toca seu violãozinho e não precisa se preocupar com o "conceito da performance estrutural da vídeo arte inserida na contemporaneidade do homem virtual". Ele canta ali, diante do mesmo público que Van Gogh, Pissarro, Degas e Gauguim buscavam. Que bom que ainda existem pessoas que gostam de arte, sem conceitos, sem problematizações, sem grandes questionamentos, gente feito o Bruno Medina, que reclama por uma arte que ele entenda. Eu torço muito, muito, pra que os tais problemáticos da arte não contaminem esse público e ele não se torne preconceituoso, vazio e frio, como parte da arte contemporânea. E quem não ouviu ainda Seu Jorge e sua música "Tive razão", tem que ouvir, porque é linda, aliás, é brega usar essa palavra em arte contemporânea, né?
terça-feira, 22 de abril de 2008
Pensamento (2)
Até no clima a tradição se mantém...
A crise do PSD e a parcialidade sacerdotal do P.R.
A NATO, o Terrorismo e a Nova Ordem Mundial
A NATO, o Terrorismo e a Nova Ordem Mundial - Os Estados Unidos da América, a NATO, a Al-Qaeda, o 11 de Setembro de 2001 e o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial
I. Introdução
Neste breve ensaio, fruto de uma reflexão pessoal para a qual, desde já advertimos, pelo carácter algo polémico, que nos é permitido pelo facto de ser um ensaio crítico de opinião, não descritivo, partindo de determinados elementos de análise pretendemos demonstrar como a multilateral relação entre fenómenos aparentemente tão díspares como a organização terrorista Al-Quaeda, os Estados Unidos da América e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, doravante designada pela expressão em inglês, NATO – North Atlantic Treaty Organization), estão intrinsecamente relacionados com o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial formulada a partir dos Ataques Terroristas de 11 de Setembro de 2001.
Outros fenómenos há, desde actores internacionais como empresas multi e transnacionais, passando por organizações como as Nações Unidas ou a União Europeia, até movimentos como a opinião pública cada vez mais transnacionalizada através dos meios de comunicação de massas, que merecem ser considerados como variáveis na análise do tema sobre o qual nos propomos debruçar brevemente, porém, para que não se perca o foco devido à circunscrita relação em análise, optámos por centrar esta reflexão nas variáveis previamente referidas.
As razões que nos compelem à realização deste ensaio prendem-se com o natural interesse que desperta o tema da Ordem Internacional, conceito esse presente de forma imemorial na Humanidade, desde que os primeiros povos, tribos, clãs, cidades-estado, nações, e Estados, se propuseram a relacionar-se, e que no caso em análise já nos têm vindo a inquietar desde há algum tempo[1].
Se a opinião vigente, à qual não somos certamente alheios até certo ponto, constata que a chamada Nova Ordem Mundial (porque deixou de ser apenas internacional, i.e., inter nationes), ainda se está a tentar definir, procuraremos demonstrar que poderá existir um outro ponto de vista analítico que vale a pena ser explorado, onde a NATO poderá ter pelo menos um papel a desempenhar em relação ao aparente estabelecimento dessa ordem, ou, em última instância, um papel fulcral adaptado às circunstâncias quanto ao que Francis Fukuyama classificou como o Fim da História, sob a ideia da alegada natural expansão das democracias liberais ao resto do mundo.
Como tal considerámos apropriado estabelecer uma estrutura dividida em três partes, a primeira dedicada a uma breve conceptualização necessária sobre o conceito de Terrorismo, a segunda reportando-se a uma contextualização do tema em análise, e a terceira prendendo-se essencialmente com a consequente argumentação quanto ao que nos propomos demonstrar posteriormente na conclusão.
II. O Conceito de Terrorismo
Sendo um dos conceitos que, porventura, tem suscitado mais controvérsia na academia, não podemos escusar-nos a tomar como referencial o património teórico desta nossa casa que é o ISCSP. Em primeiro lugar, tomamos em linha de conta a consideração do Professor Adriano Moreira quanto ao que classifica de poderes erráticos, formas de subversão da ordem instituída, reconhecendo ainda o terrorismo internacional como um actor na arena internacional[2], o que se nos afigura como extremamente útil quanto à relação que pretendemos demonstrar.
Em segundo lugar, o Professor António de Sousa Lara, deixa-nos de forma resumida na sua recentemente publicada obra “O Terrorismo e a Ideologia do Ocidente”, as mais importantes acepções quanto ao conceito de Terrorismo, nomeadamente distinguindo, em primeiro lugar, entre terrorismo indiscriminado e terrorismo selectivo:
No primeiro caso incluem-se todos os atentados e agressões que visam generalizar um dano de monta a um paciente previamente indefinido, anónimo ou indistinto. É relativamente irrelevante quem morre ou fica ferido, desde que morra ou fique ferida muita gente. No segundo caso, trata-se exactamente do contrário, ou seja, visa-se um alvo concreto, que se quer pressionar, eliminar, que se quer chantagear, fazer desaparecer de cena ou condicionar de forma definitiva, com vista a alterar o paralelograma de forças ou o circunstancialismo político de uma determinada correlação vigente[3].
Para logo de seguida nos deixar a distinção de super terrorismo, enquanto uma nova fase da avançada terrorista abrangendo meios cada vez mais poderosos e letais, designadamente de natureza biológica, química e nuclear, de concepção e execução transnacional, o que constitui, diga-se de passagem, um dos vectores principais da criação da NATO Response Force (NRF), enquanto força de intervenção altamente habilitada a actuar em teatros hostis provocados por ataques com armas biológicas, químicas e nucleares, adicionando ainda a esta categoria de super terrorismo, as acções suicidas de larga escala[4].
Fica assim tratado o fenómeno do Terrorismo, sobre o qual não nos alongaremos mais posto que está objectivamente definido no âmbito a que nos prestamos neste ensaio.
III. Contextualização
Fundada em 1949 pelo Tratado de Washington, a NATO surgiu como a expressão ideológica contrária à que naturalmente se lhe viria a opor durante o período da Guerra Fria, nomeadamente, a União Soviética e o Pacto de Varsóvia.
Até à Queda do Muro de Berlim em 1989, simbólico anúncio da consequente dissolução da União Soviética e do Pacto de Varsóvia nos anos seguintes, assistimos a um sistema internacional dominado pela lógica bipolar, que não degenerou em nenhum dos sistemas de Morton Kaplan, mas cujo fim imprevisto revelou a incapacidade de analistas e académicos em prever tal acontecimento que se processou de forma tão singular e abrupta.
Se, durante a Guerra Fria, de um lado tínhamos o chamado bloco comunista, com a União Soviética como potência directora e o Pacto de Varsóvia como organização militar exprimindo a ideologia que presidia a este pólo (ainda que enquanto na NATO o domínio dos Estados Unidos da América se fe(a)z sentir pelo soft power, no caso do Pacto de Varsóvia, vários analistas catalogaram a organização como mera forma de controlo e legitimação desse controlo sob os países satélites da órbita soviética[5]), do outro tínhamos o bloco Ocidental das democracias capitalistas liberais, liderado pelos Estados Unidos da América, em parceria com o Canadá e os tradicionais aliados da Europa Ocidental, com a devida expressão ideológica representada no campo militar pela NATO.
Esta era a ordem internacional definida de acordo com a sempre importante lógica dialéctica da oposição entre dois ou mais pólos numa balança de poderes, que presidiu desde 1648 às relações internacionais no sistema internacional dominado pelo, e derivado do, continente europeu, que sempre se mostrou avesso ao surgimento de uma potência destabilizadora dessa ordem, mas que também se revelou afoito a deixar-se cair numa monopolaridade com um vácuo de poder quanto ao tradicional equílibrio de poderes, pelo que a doutrina da Mutual Assured Destruction assentou perfeitamente no sistema internacional vigente durante a Guerra Fria, onde os parcos conflitos no terreno apenas ocorreram nas franjas desse sistema, e no qual não foram sequer permitidos conflitos de índole étnica ou religiosa como aqueles a que vimos assistindo desde o fim da Guerra Fria.
Porém, com o declínio do poderio soviético, assistiu-se desde então a uma transformação no sistema internacional (optamos pela definição de sistema internacional na acepção da Escola Inglesa de Teoria das Relações Internacionais, analisando a nível mundial a existência de um sistema internacional, composto por sub-sociedades e eventuais sub-comunidades internacionais, onde ainda assim, elementos do conceito de sociedade internacional desenvolvido por Hedley Bull e outros, poderão estar presentes no sistema internacional) onde o domínio dos assuntos relacionados com a segurança foi alargado, passando esse conceito a estar presente e a depender de sectores como o ambiente, direitos humanos, energia ou desenvolvimento sustentável.
Dessa forma se tem vindo a processar uma desmilitarização do sistema internacional, por vezes mais ténue, outras vezes até ameaçada, onde numa primeira análise a NATO seria condenada ao desaparecimento, posto que se cumpriu o seu objectivo de oposição ao Pacto de Varsóvia, entretanto dissolvido.
Fukuyama não se poderia ter enganado de forma mais assoberbada ao determinar a aparente consequente expansão das democracias liberais a todo o mundo, quando Samuel Huntington, não só contrariou essa tendência com o seu Choque de Civilizações, imensamente criticado, mas cada vez mais acertado no mundo pós-11 de Setembro de 2001, como teorizou sobre as Ondas de Democratização, estabelecendo que a cada Onda de Democratização se segue uma onda reversa onde democracias mais fracas regressam a formas não democráticas de governo[6].
A aparente falta de legitimidade quanto à existência continuada por parte da NATO, tendo em conta o aguardado efeito dominó das democracias liberais, foi rapidamente colmatada pela não verificação desse efeito, pelo surgimento de novos conflitos de índole étnica e religiosa, como nos Balcãs, e através do processo de politização interna da mesma, originando uma transformação que pretende conduzir a ainda aliança e organização regional de defesa colectiva[7] a uma aliança global de intervenção rápida em determinados desafios como crises humanitárias ou catástrofes naturais (como exemplos, a intervenção em Nova Orleães após a passagem do Furacão Katrina em Agosto de 2005, e a intervenção no Paquistão após o terramoto ocorrido em Outubro de 2005), actuando proactivamente no estabelecimento da paz e segurança, através de uma acção preventiva em relação à não proliferação de armas de destruição massiva e no combate ao terrorismo, o que pretende alcançar através de diversas ferramentas de índole política como sejam o Conselho Euro-Atlântico de Parceria, as Parcerias para a Paz, o alargamento a novos membros, o diálogo com a Rússia e Ucrânia que têm fora próprios de consulta com a NATO, o Diálogo Mediterrâneo ou a parceria estratégica com a União Europeia quanto à Política de Segurança e Defesa Europeia, a que se juntam as recentes ferramentas militares reestruturadas e criadas com as cimeiras de Praga (2002) e Istambul (2004), desde as tradicionais forças de estabelecimento e manutenção de paz, passando pela novíssima NRF, uma força de resposta rápida altamente especializada, até à elaboração de um plano conjunto de combate ao Terrorismo, no qual se inserem os países Parceiros para a Paz e os do Diálogo Mediterrâneo[8].
Porém, até chegar ao estado corrente, ocorreu um importantíssimo evento que mudaria a face do sistema internacional, o Ataque Terrorista de 11 de Setembro de 2001, novamente imprevisto, à semelhança da Queda do Muro de Berlim, que serviria como potenciador das transformações acima referidas e cuja análise prévia das suas implicações é por de mais necessária.
IV. Os Estados Unidos da América, a NATO, A Al-Qaeda, o 11 de Setembro de 2001 e o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial
Atentemos então nas considerações de Henry Kissinger num dos mais famosos exercícios de realismo puro em relações internacionais, a sua obra “Diplomacia”, já quanto às suas reflexões sobre o repensar da nova ordem mundial:
A tarefa da Aliança é a de adaptar as duas instituições básicas que modelam a relação atlântica, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e a União Europeia (antes Comunidade Económica Europeia), às realidades do mundo pós-guerra fria[9].
Ora de facto, como já referimos, a NATO encetou um processo de transformação interno que, porém, só viria a ser acelerado, e a trazer à organização um acrescido prestígio e importância na arena internacional, com os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, que se colocam como marco histórico da definição do terrorismo internacional enquanto pólo oposto ao dominante no sistema internacional, ocorrendo o que o Professor António de Sousa Lara considerou na obra “A Grande Mentira”:
O terrorismo, também, a que fiz suficiente alusão do enquadramento em “A Subversão do Estado”, passou a ser a forma de fazer a guerra da parte dos fracos contra os poderosos. E quando muitos analistas incautos e cientistas do imediato se apressaram a decretar o fim das ideologias e o termo da História, eis que renasce das cinzas esta forma de combate subversivo com uma expressão nunca vista, passando a constituir uma das frentes, senão a mais importante, da fase a que já se chamou de “a Terceira Guerra Mundial”. Trata-se da actualização de uma fórmula conhecida a uma situação avassaladora de “ideologia única” e de “imperialismo monopolar”.[10]
Os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001 levariam desta forma o já referido Henry Kissinger a reflectir novamente sobre a ordem mundial, rejeitando Fukuyama:
Durante toda uma década, as democracias tinham-se progressivamente tornado prisioneiras da ilusão de que as ameaças externas tinham virtualmente desaparecido, de que os perigos, se alguns havia, tinham antes de mais, origem psicológica ou sociológica e de que, de certa forma, a história, tal como fora registada até então, se transformara numa subdivisão da economia ou da psiquiatria[11].
Aceitando a tese de Huntington quanto ao Choque de Civilizações:
Simultaneamente, o desastre ensinou à América que alguns dos confortáveis pressupostos do mundo globalizado não se aplicam à porção do mundo que recorre ao terrorismo. Esse segmento parece motivado por um ódio de tal forma profundo pelos valores do Ocidente que os seus representantes se dispõem a enfrentar a morte e a infligir um grande sofrimento a inocentes na procura da destruição das nossas sociedades, em nome do que eles entendem como um choque de valores incompatíveis[12].
Denunciando a Al-Qaeda como símbolo do novo pólo de poder na dialéctica do sistema internacional, i.e., o terrorismo internacional:
(…) o secretário de Estado Colin Powell soube trazer à luz do dia uma coligação global que legitimava o uso da força militar contra o Afeganistão, o mais flagrante fornecedor de um santuário ao mais evidente símbolo do terrorismo internacional, Osama bin Laden[13].
Ainda que a eliminação de bin Laden, da sua rede e associados enquanto força unificada tenha constituído um sucesso significativo, tratou-se apenas do início de uma campanha mundial continuada[14].
Finalmente, exaltando à acção no seio da NATO:
Na medida em que estas realidades penetraram as consciências do mundo democrático, os terroristas perderam uma importante batalha logo no seu início. Na América enfrentaram um povo unido e determinado a erradicar o mal do terrorismo. No seio da Aliança Atlântica acabaram – pelo menos, durante algum tempo – com o debate sobre se ainda existia um propósito comum no mundo pós-Guerra Fria. As democracias ocidentais – pelo menos, na sua primeira reacção – aperceberam-se de que o ataque aos Estados Unidos mostrava talvez as ainda maiores vulnerabilidades das suas próprias sociedades[15].
O que é de ressalvar, tendo, em consideração a histórica evocação, pela 1.ª vez na história da NATO, do Artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte, como resposta aos ataques terroristas.
V. Conclusão
De tudo o acima exposto podemos, agora sim, inferir a conclusão quanto ao que nos propomos demonstrar.
Se durante a década de 90 do século XX os Estados Unidos da América viveram numa ilusão de monopolaridade e segurança, tentando exportar o seu modelo democrático, enquanto a NATO agiu pontualmente nos Balcãs, passando por um período de reflexão interna, seriam, ironicamente, os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001 a servir como catalisador para a necessária reestruturação dos propósitos da NATO, o que se reflecte na reestruturação da própria organização nos últimos anos.
A ordem internacional definiu-se então muito rapidamente, ao contrário do que a ajuizada e conservadora opinião da maioria diz, utilizando um poderoso símbolo do terrorismo fundamentalista islâmico sob a permanente ameaça do recurso a formas de super terrorismo, Bin Laden e a Al-Qaeda, numa lógica maquiavélica, napoleónica e bismarckiana de promoção da coesão interna através da difusão de um inimigo comum.
O Choque de Civilizações tem vindo a sair do campo do debate entre valores culturais e religiosos, entrando no campo do confronto no terreno entre terroristas (embora não sejam só os fundamentalistas islâmicos), e principalmente a NATO, que se assume cada vez mais como uma legítima instituição, porque geradora de consenso, para assumir os esforços do Ocidente e dos seus parceiros contra o terrorismo.
Desta forma os Estados Unidos da América vão mantendo o estatuto de super-potência, e em consonância com a Europa promovem a ideologia do Choque de Civilizações para justificar simultaneamente o combate ao terrorismo e a exportação do modelo das democracias liberais e da economia capitalista, assim definindo e construindo a Nova Ordem Mundial nessa lógica bipolar, que substituiu a União Soviética e o Pacto de Varsóvia pelas organizações terroristas e países apoiantes dessas.
Do lado do terrorismo, não existe um Estado ou Ideologia moralmente razoável ou legítima, enquanto do outro lado, com esta representação de um inimigo comum, a fazer lembrar a ficção orwelliana em “1984”, contra o qual todos os Estados de bem deverão agir, se consegue assim justificar a nova ordem onde a NATO tem sem dúvida um papel fulcral, porque reunindo o consenso que os Estados Unidos da América não reúnem, pode de facto transformar-se para dar resposta ao super terrorismo internacional, o que tem acontecido, como forma de definição da ordem mundial, enquanto, por outro lado, poderá agir de forma cada vez mais proactiva na difusão das ideias das democracias liberais.
É praticamente uma fórmula perfeita de onde todos saem a ganhar, o inimigo comum que está a salvo porque praticamente invisível, e porque invisível e comum todos se unem contra ele, o que justifica os esforços de manutenção, transformação e alargamento da NATO, permitindo aos Estados Unidos promover a sua política externa com base na bipolaridade entre terrorismo fundamentalista islâmico vs. Ocidente, como base para a justificação da sua missão quase “evangelizadora” do mundo.
Resta saber se é esta a verdadeira Nova Ordem Mundial há muito anunciada, ou se ainda iremos assistir a grandes alterações nos próximos tempos, o que poderá ser bem possível com o surgir de potências como a China, Rússia, Brasil e Índia.
Consideremos, por último, que a NATO constitui-se assim como um estabilizador por excelência da actual ordem mundial, enquanto definidora dessa ordem na lógica bipolar e de promoção da coesão interna, que se tem vindo a reestruturar e alargar para dar resposta aos novos desafios que se lhe apresentam, no caso, o contra-terrorismo.
Notas
[1] Ver Pires, Samuel de Paiva - “A Importância de Bin Laden para a Ordem Internacional” in http://estadosentido.blogspot.com/2008/03/da-importncia-de-bin-laden-na-ordem.html publicado em 20/03/2008.
[2] Ver Moreira, Adriano - Teoria das Relações Internacionais, 5.ª ed, Coimbra, Edições Almedina (1.ª ed., Coimbra, 1996), 2005, pp. 371-374.
[3] Ver Lara, António de Sousa - O Terrorismo e a Ideologia do Ocidente, Coimbra Edições Almedina, 2007, p. 44.
[4] Idem, Ibidem, pp. 46-47.
[5] Ver Curtis, Glenn E. – “The Warsaw Pact” (excerpted from Czechoslovakia: A Country Study). Washington, D.C.: Federal Research Division of the Library of Congress; 1992. in http://www.shsu.edu/~his_ncp/WarPact.html acedido em 13/11/2008.
[6] Ver Huntington, Samuel – “Democracy’s Third Wave” in Larry Diamond & Marc Plattner, The Global Ressurgence of Democracy. Baltimore, John Hopkins University Press, 1996.
[7] Ver Artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte in NATO Handbook, Public Diplomacy Division, Brussels, 2006, pp. 372.
[8] Ibidem.
[9] Ver Kissinger, Henry A. – Diplomacia, Lisboa: Gradiva, (1.ª edição 1994), 2.ª ed.; 2002, p. 716
[10] Ver Lara, António de Sousa – A Grande Mentira – Ensaio sobre a Ideologia e o Estado, Lisboa, Hugin, 2004, p. 97.
[11] Ver Kissinger, Henry A. – Precisará a América de Uma Política Externa?. Lisboa: Gradiva, 2002, p. 273
[12] Idem, ibidem, p. 274
[13] Idem, ibidem, p. 276
[14] Idem, ibidem, p. 277
[15] Idem, ibidem, p. 274.
Bibliografia
Kissinger, Henry A. – Diplomacia, Lisboa: Gradiva, (1.ª edição 1994), 2.ª ed.; 2002.
________________ – Precisará a América de Uma Política Externa?. Lisboa: Gradiva, 2002.
Lara, António de Sousa - O Terrorismo e a Ideologia do Ocidente, Coimbra Edições Almedina, 2007, p. 44.
___________________ – A Grande Mentira – Ensaio sobre a Ideologia e o Estado, Lisboa, Hugin, 2004.
Moreira, Adriano - Teoria das Relações Internacionais, 5.ª ed, Coimbra, Edições Almedina (1.ª ed., Coimbra, 1996), 2005.
NATO Handbook, Public Diplomacy Division, Brussels, 2006,
Webgrafia
Curtis, Glenn E. – The Warsaw Pact (excerpted from Czechoslovakia: A Country Study). Washington, D.C.: Federal Research Division of the Library of Congress; 1992; in http://www.shsu.edu/~his_ncp/WarPact.html acedido em 13/11/2008.