Não se trata de paranóia, nem de uma recôndita mania da perseguição, mas apenas de uma manifesta estranheza perante indícios que se vão paulatina, mas inexoravelmente acumulando.
Ontem à noite, no rescaldo da merecida vitória da selecção espanhola, foi já sem surpresa que ouvi um arauto dos comezinhos fait-divers semanais do regime - onde a efabulação, as meias palavras e a instilação de veneno são banais -, perorar babadamente acerca de imaginárias ilações políticas a retirar do espectáculo oferecido no estádio do Prater vienense. Referia-se - arvorando o seu melhor e pepsodêntico alvar sorriso -, à constante presença da família real espanhola no camarote de honra e às naturalissímas quebras de protocolo de Suas Majestades João Carlos e Sofia, indicando a unidade do país para o que de pior ou melhor pudesse acontecer. Inacreditável. A sumidade mostrava-se falsamente surpreendida pela forma como os monarcas desempenhavam as suas normais obrigações de Estado. Como se tal trivialidade fosse de espantar.
Esta gente, além de desleal - como certos e recentes acontecimentos comprovam à saciedade - é parva. O constante rastejar, a maquinação de ver coisas onde elas não existem, o vale tudo interno e o embevecimento pelo que lá fora vislumbram, começam verdadeiramente a enojar. Nojo pelo calculismo quiçá propiciador de benesses, nojo pela ignorância manifestada - e naquele caso imperdoável - e principalmente, nojo pelo situacionismo que dentro de Portugal pétreamente mantêm. Tudo isto é vergonhoso. Aquilo que lhes exalta o espírito no país vizinho, aqui desdenham e menorizam. Se em Lisboa estão cinicamente presentes em eventos onde a família real os honra pelo simples convite, logo a seguir apresentam diante dos noticiários da hora do jantar, o habitual rictus faciallis que infalivelmente se conota com o repúdio, dúbia mofa e a supina cretinice de certezas adquiridas pela cobiça ou preconceito. Estão simultaneamente em todas as situações e em nenhuma, vestindo a casaca mais conveniente às suas extemporâneas ambições.
Dias há em que parece vivermos em 1908, para vinte e quatro horas depois, remetermos as nossas existências a 1580, onde uma dúzia de oportunistas aguarda a colheita do fruto das suas actividades dissolventes e de comprometimento com interesses além-fronteira.
O ouro, sempre o ouro!
Estou farto desta ralé engravatada.
Não há quem os cale?
5 comentários:
Nem mais caro Nuno... continuam a abaundar os Cristóvãos de Moura...
Um abraço
Gostei! :)
(Apareci porque me lembrei daquela excelente resposta/comentário no post do Palácio da Pena)
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[]
I.
Desculpe. Nuno Castelo Branco.
Eu escrevi com o nick "Gonçalo Andrade" ... (ando numa "guerrilha" com o Rogério da Costa Pereira no 5Dias e mudei de Nick ) ... deixei comentário no Artigo do Paulo Pinto só depois é que reparei.
Vale.
infelizmente parece que não.
excelente.
Gostei muito do "post". A repúbliqueta é isto.
PS :Porque é que a palavra «anónimo» está escrevinhada «anônimo» ? É que nem do ponto de vista meramente oral, faz sentido ...
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