sábado, 9 de fevereiro de 2008

Uma outra análise das Presidenciais nos EUA

Com a devida curiosidade fui descobrir que Mitt Romney tem como antepassado o pintor George Romney. E como até sou um curioso da genealogia, fui à procura das devidas árvores genealógicas dos restantes candidatos à presidência norte-americana, e outras figuras.

Eis que "descobri" que tanto Clinton (o Bill), como Bush, como Obama, descendem, segundo o Geneall, de Guilherme I, o Conquistador de Inglaterra. E tanto Bush como Clinton são ainda descendentes de D. Afonso Henriques. (É o que indicam as "bolinhas" cuja legenda está aqui).

Descobri ainda este site, onde se encontram bem detalhadas todas as árvores genealógicas de todos os candidatos e outras figuras como senadores e governadores.

Fui depois pesquisar que Universidades os diversos candidatos frequentaram. Obama estudou em Columbia e Harvard. Hillary, depois de Wellesley, seguiu para Yale. McCain, por seu lado, cursou na Academia Naval. Ron Paul estudou na Universidade de Gettysburg. Romney em Stanford, Brigham e Harvard. Huckabee formou-se em teologia em duas pequenas universidades. Edwards cursou na North Carolina State University. Gravel depois da experiência militar, estudou em Columbia.

Assim como que a obedecer à Lei de Ferro da Oligarquia de Robert Michels, que nos diz que o poder nunca sai das elites, se verifica que neste caso, mesmo com atípicos candidatos como Hillary e Obama, ela mulher, ele muçulmano e negro, ainda que não se observe na totalidade a típica regra Male WASP (White Anglo-Saxon Protestant), não deixam os candidatos de pertencer à elite e, na sua maioria, descender de nobres e antigas linhagens europeias.

Por outro lado, apesar dos backgrounds diversificados, todos eles obtiveram graus académicos, tendo uns estado nas grandes universidades (não menosprezar o facto de a grande maioria dos Presidentes norte-americanos terem cursado na Ivy League), outros noutras mais pequenas, Huckabee ligado à religião e Gravel e McCain, por seu lado, pertencem a famílias com tradição militar e como tal seguiram também essa via.

Numa sociedade de matriz puritana protestante que se arroga de ser a chamada "terra da oportunidade", não deixa de ser interessante verificar que a mobilidade social vertical talvez não seja tão ampla como parece à primeira vista, até porque quando se trata da Presidência, tendem a aparecer sempre os que estão ligados aos valores tradicionais e conservadores, que se apresentam como estáveis e socialmente aceitáveis, como o sejam os valores ligados às grandes universidades, à religião e à tradição militar. Daí que a análise do Nuno sobre Obama seja certeira quando nos diz que:

"Obama é conservador e prova disso, é a irresistível atracção que exerce sobre uma franja não negligenciável dos republicanos. Mesmo a sua imagem, parece absolutamente convincente e genuína. A forma de vestir, a sua casa e família, não são consequência de uma varinha de condão dos image makers contratados às agências competentes. Obama atrai os conservadores, pela autenticidade. Tem tudo para afastar a nossa "esquerda" doméstica, sempre à procura de um híbrido de Bonaparte com Afonso Costa."

A conclusão a retirar, embora não seja novidade para ninguém, é que em termos políticos a sociedade norte-americana é de um conservadorismo avassalador (até porque mesmo muitos Democratas se considerados à luz do espectro das ideias políticas europeias terão fortes características conservadoras), reflexo de uma matriz social puritana protestante e contratualista, que quer os seus interesses políticos assegurados por alguém que prossiga uma política que não se encontre desprovida e desligada de uma moral fortemente impregnada de valores religiosos, o que é certamente perigoso quanto a determinadas acções como a chamada "Guerra contra o Terrorismo", que é bem reflexo do que Huntington avisa no "Choque de Civilizações". Se de um lado estão os fanáticos muçulmanos, do outro estão os fanáticos puritanos, uma espécie de Israel moderado, e no meio estão os sempre hesitantes Europeus, que nem vão pelo multi-culturalismo, a braços que estamos com a problemática da imigração, mas que também não se deixam levar pelas ideias peregrinas e de Cruzada norte-americana de expansão da democracia liberal como fim da História, como pensa Fukuyama.

Portanto, considerando alguns padrões que sempre se podem encontrar nos candidatos à Presidência, certas características nas quais está baseada a sociedade norte-americana e tendo ainda em linha de conta o marketing político a que quer Democratas, quer Republicanos obedecem, até que ponto não se poderá hoje dizer que a diferença ideológica entre os dois pólos do espectro não será já muito diminuta, sendo que a acção futura em termos de liderança interna e política externa poderá não ser assim tão diferente entre os candidatos derradeiros, mais próximos do chamado centrão?

Um comentário:

Nuno Castelo-Branco disse...

Não encontrei o fio à meada que me levasse o Clinton a D. Afonso I