segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

TIMOR-LESTE: o tempo das dúvidas

Os acontecimentos da última madrugada, vieram confirmar as dúvidas internacionais, acerca da viabilidade do novo Estado criado sob os auspícios das Nações Unidas.

As tradicionais disputas tribais que durante décadas pareceram desvanecer-se devido à presença portuguesa, regressaram com inaudita violência, que sucessora da guerrilha contra a ocupação indonésia, possui características muito próprias. É que hoje, o móbil do conflito é de difícil classificação, não se enquadrando no quadro da sublevação armada de cariz ideológico - ou de luta contra uma potência estrangeira -, nem de revolta das populações contra um regime opressor.

A república de Timor-Leste, foi criada do nada, do vazio deixado por duas potências coloniais. A primeira delas, Portugal, pela introdução e posterior consolidação do elemento religioso, deu consistência ao aglomerado tribal que pelo catolicismo, divergia claramente do conjunto muçulmano envolvente. O triste abandono das responsabilidades por parte das autoridades de Lisboa (1975), exactamente numa das fases mais agudas do conflito este-oeste, tornou inevitável a intervenção armada da Indonésia, que desrespeitando o que era convencionado tacitamente pela ONU , ocupou e anexou o território.

Os anos de Timor como província da república da Indonésia, logicamente não criaram as condições para a construção de estruturas que viabilizassem uma futura independência. Desta forma, o autêntico vazio de poder, só pode ser colmatado, pela presença de forças estrangeiras que garantam a segurança mínima da população, dos bens e da própria autoridade político-administrativa. É aquilo a que de forma simplista poderemos chamar de "Estado em construção".

Os preconceitos decorrentes da nova realidade internacional pós-1945, impossibilitaram no ano do referendo para a autodeterminação, a terceira pergunta que era necessário colocar nos boletins de voto. Pergunta que aliás, estaria na mente da maioria dos timorenses, ou seja, uma forma de união política à antiga potência colonial. Portugal decerto tem capacidade para uma mais estreita colaboração na organização da administração pública do território e na formação de quadros, desde as forças armadas, ao ensino e saúde.

No entanto, a segurança deveria continuar a ser garantida por forças destacadas pelas Nações Unidas, ao mesmo tempo que as F.A.P. re-orientariam os recursos hoje disponíveis noutros cenários de intervenção. O aparente desinteresse internacional por tudo aquilo a que quase semanalmente assistimos através dos noticiários, não é susceptível de augurar um futuro tranquilizador. A própria disputa acerca das riquezas naturais timorenses, está longe do seu epílogo e de um acordo definitivo entre as partes interessadas (Austrália, Indonésia e Timor).

Um último factor não negligenciável, será a ameaça de desestabilização das zonas vizinhas, isto é, de Timor ocidental e de outras ilhas do arquipélago indonésio. As ambições locais de maior autonomia e até de independência, poderão levar a uma segunda intervenção dos sectores militares, que em Jacarta, decerto não tolerarão qualquer outra secessão do conjunto herdado do antigo império holandês.

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