Passada uma semana sem qualquer notícia de verdadeiro interesse para o nosso presente e futuro próximo, pensei que não havia notícia verdadeiramente digna de comentário. Habituados à costumeira feira de vulgaridades ou ao omnipresente cheirete da ETAR mediática que desagua à hora do jantar nos telejornais, deverá ter passado quase despercebida, a entrevista de Gonçalo Ribeiro Telles à revista do Notícias (sábado). Muitas vezes discordei do Arquitecto, a maior parte das quais, confesso, por incompreensão e até preconceito. Numa época em que a agricultura e outras formas "tradicionais de viver eram e são consideradas como coisa do passado, o seu discurso soava a quimera votada ao esquecimento. No entanto, décadas passadas, é-me bastante fácil reconhecer o erro crasso, e a tremenda injustiça que para com este homem o país inteiro cometeu.
Primeiramente, há que dizê-lo, G.R.T. será decerto, um dos poucos homens públicos acima de qualquer suspeita, daí o espesso véu de silêncio que sempre o acompanhou ao longo de toda a sua vida política. Telles não interessou a qualquer uma das Situações que viveu. O seu inegável patriotismo e moderníssima visão do porvir a conquistar, tornaram-no incómodo aos Donos do país. Não pactuou jamais com interesses mesquinhos. Denunciou cumplicidades e malfeitorias várias. Não cedeu à simples ambição, desejo de notoriedade e prebendismo fácil que caracteriza a generalidade de quem nos comanda. É um teimoso nas suas certezas e isto é raro, numa época de constante cedência ao interesse do momento. Decerto poderia ter obtido uma audiência muito vasta, mas carregou sempre uma colossal pedra de Sísifo: é monárquico e disso está tão seguro e certo, como da inevitabilidade do reconhecimento da sua posição de salvaguarda do nosso ambiente e património monumental. E nunca cedeu, crime tremendo em Portugal. Nunca cedeu, nem cederá.
Esta entrevista, deveu-se à momentânea ansiedade nacional decorrente do verdadeiro dilúvio, que caindo como praga do Egipto na área da grande Lisboa, fez os rios galgarem margens, transformou insignificantes regatos em poderosas torrentes de lama e, como sempre acontece, arruinou a vida e os parcos haveres de gente pobre e sem esperança.
Telles não se mostra surpreendido e alerta para a constante repetição de fenómenos idênticos e até, de um inevitável agravamento do desastre. Mais do que a mera crítica, explica e propõe as soluções que rapidamente corrigiriam os erros de quase quarenta anos de especulação e caos urbanístico. Já em 1971, dizia na RTP, que as cheias deviam-se "à falta de planeamento, inépcia, ignorância e incompetência". E decorridos tantos anos, a situação piorou terrivelmente.
A Reserva Ecológica Nacional e a Reserva Agrícola Nacional são pelo Arquitecto consideradas, como de uma importância fundamental para a comunidade, preservando o território e a paisagem. Ao mesmo tempo que alerta para o facilitismo do lucro a curto prazo - a especulação, agiotagem, etc -, Telles vinca a necessidade de urgente protecção do litoral e de outras zonas sensíveis.
Num país onde o betonismo se tornou quase em ideologia oficial do regime, a oposição dos autarcas, sempre dependentes das suas clientelas e dos interesses mais escusos das grandes construtoras e empresas afins, levou-o ao longo dos anos, à denúncia de uma situação espúria e que pode ser considerada de crime contra o interesse geral. A construção de muralhas de betão à volta dos antigos centros urbanos, descaracterizou a paisagem, liquidou qualquer resquício de qualidade de vida e ameaçou irremediavelmente a sobrevivência de Portugal, como entidade com características próprias e sui generis. Desta forma, os chamados "interesses inconfessáveis" que tentacularmente tomaram posse de quase todos os organismos vivos do Estado, erigiram G.R.T. como um inimigo a abater.
Acusa em várias direcções, desde a agricultura intensiva explorada por estrangeiros com contornos alegadamente mafiosos, à desastrosa situação de caos que a construção desenfreada e sem valor, trouxe até mesmo ao centro das grandes cidades. Esta entrevista não é parca em denúncias e citação de nomes bem conhecidos da cúpula do sistema e só por isso, valeria a pena lê-la com redobrada atenção, uma vez que facilmente se adivinham os jogos de poder, as cumplicidades nas negociatas que transversalmente atingem todo o espectro político que há décadas - mesmo antes de 1974, diga-se, - controla o país.
Ribeiro Telles é aquilo a que os americanos apodam de bad news para o gangsterismo imperante e todo poderoso. Implícitas nas suas palavras, podemos entender até onde consegue ir o poder que não tendo qualquer necessidade de se ocultar, às claras e diante da sociedade nos vai condenando a uma inglória ruína.
Embora tenha atitudes por vezes incompreensíveis - como o empréstimo do seu prestígio a um partido rémora como é o clube BE -, Telles jamais cedeu, nem cederá no essencial. É que para garantir o futuro, ele vai até ao impossível: propõe um Portugal novo, saudável, limpo e consequentemente, a instauração da Monarquia. A Monarquia de todos nós.
Primeiramente, há que dizê-lo, G.R.T. será decerto, um dos poucos homens públicos acima de qualquer suspeita, daí o espesso véu de silêncio que sempre o acompanhou ao longo de toda a sua vida política. Telles não interessou a qualquer uma das Situações que viveu. O seu inegável patriotismo e moderníssima visão do porvir a conquistar, tornaram-no incómodo aos Donos do país. Não pactuou jamais com interesses mesquinhos. Denunciou cumplicidades e malfeitorias várias. Não cedeu à simples ambição, desejo de notoriedade e prebendismo fácil que caracteriza a generalidade de quem nos comanda. É um teimoso nas suas certezas e isto é raro, numa época de constante cedência ao interesse do momento. Decerto poderia ter obtido uma audiência muito vasta, mas carregou sempre uma colossal pedra de Sísifo: é monárquico e disso está tão seguro e certo, como da inevitabilidade do reconhecimento da sua posição de salvaguarda do nosso ambiente e património monumental. E nunca cedeu, crime tremendo em Portugal. Nunca cedeu, nem cederá.
Esta entrevista, deveu-se à momentânea ansiedade nacional decorrente do verdadeiro dilúvio, que caindo como praga do Egipto na área da grande Lisboa, fez os rios galgarem margens, transformou insignificantes regatos em poderosas torrentes de lama e, como sempre acontece, arruinou a vida e os parcos haveres de gente pobre e sem esperança.
Telles não se mostra surpreendido e alerta para a constante repetição de fenómenos idênticos e até, de um inevitável agravamento do desastre. Mais do que a mera crítica, explica e propõe as soluções que rapidamente corrigiriam os erros de quase quarenta anos de especulação e caos urbanístico. Já em 1971, dizia na RTP, que as cheias deviam-se "à falta de planeamento, inépcia, ignorância e incompetência". E decorridos tantos anos, a situação piorou terrivelmente.
A Reserva Ecológica Nacional e a Reserva Agrícola Nacional são pelo Arquitecto consideradas, como de uma importância fundamental para a comunidade, preservando o território e a paisagem. Ao mesmo tempo que alerta para o facilitismo do lucro a curto prazo - a especulação, agiotagem, etc -, Telles vinca a necessidade de urgente protecção do litoral e de outras zonas sensíveis.
Num país onde o betonismo se tornou quase em ideologia oficial do regime, a oposição dos autarcas, sempre dependentes das suas clientelas e dos interesses mais escusos das grandes construtoras e empresas afins, levou-o ao longo dos anos, à denúncia de uma situação espúria e que pode ser considerada de crime contra o interesse geral. A construção de muralhas de betão à volta dos antigos centros urbanos, descaracterizou a paisagem, liquidou qualquer resquício de qualidade de vida e ameaçou irremediavelmente a sobrevivência de Portugal, como entidade com características próprias e sui generis. Desta forma, os chamados "interesses inconfessáveis" que tentacularmente tomaram posse de quase todos os organismos vivos do Estado, erigiram G.R.T. como um inimigo a abater.
Acusa em várias direcções, desde a agricultura intensiva explorada por estrangeiros com contornos alegadamente mafiosos, à desastrosa situação de caos que a construção desenfreada e sem valor, trouxe até mesmo ao centro das grandes cidades. Esta entrevista não é parca em denúncias e citação de nomes bem conhecidos da cúpula do sistema e só por isso, valeria a pena lê-la com redobrada atenção, uma vez que facilmente se adivinham os jogos de poder, as cumplicidades nas negociatas que transversalmente atingem todo o espectro político que há décadas - mesmo antes de 1974, diga-se, - controla o país.
Ribeiro Telles é aquilo a que os americanos apodam de bad news para o gangsterismo imperante e todo poderoso. Implícitas nas suas palavras, podemos entender até onde consegue ir o poder que não tendo qualquer necessidade de se ocultar, às claras e diante da sociedade nos vai condenando a uma inglória ruína.
Embora tenha atitudes por vezes incompreensíveis - como o empréstimo do seu prestígio a um partido rémora como é o clube BE -, Telles jamais cedeu, nem cederá no essencial. É que para garantir o futuro, ele vai até ao impossível: propõe um Portugal novo, saudável, limpo e consequentemente, a instauração da Monarquia. A Monarquia de todos nós.
2 comentários:
Concordo em absoluto com o seu comentário. Discordo apenas de uma coisa, o BE não é um partido rémora. Não concordo com tudo no BE, mas o Francisco Louçã é um homem muito inteligente, que se estivesse num partido do centrão teria decerto uma carreira de muito mais visível para o grande público.
Não creio que o arqº Ribeiro Telles se identifique totalmente com o BE, mas tem projectos e necessita de quem os apoie e o BE tem tido sensibilidade para questões ambientais e de desenvolvimento sustentável.
É pena que o nosso país seja ainda tão maniqueísta e que as nossas elites de direita abominem os partidos de esquerda sem sequer tentarem compreender o seu contexto social e político. Como se os partidos de esquerda fossem produto da imaginação de uns quantos lunáticos invejosos do poder de alguns. Em vez de perceberem que é o distanciamento das elites da restante população que as remete para um palácio de marfim autista perante o sofrimento dos mais desfavorecidos. A injustiça económica e social é que está na origem da esquerda e que eu saiba o D. Afonso Henriques combatia ao lado das suas tropas, é por isso que conseguiu erguer uma nação.
Acredito na boa vontade da maioria dos partidos. O que me desagrada profundamente no BE, é a cegueira perante certas realidades, desde o encetar de uma nova cruzada contra a Igreja (erro crasso e anacrónico), até ao radicalismo contra tudo aquilo que lhes pareça establishment. nem tudo no regime é mau e suspeito bem - conheci na faculdade alguns que por lá militam -, que sucumbem perante o fascínio do totalitarismo. não desconfio, tenho a certeza absoluta. Acredito também que a direita aceita a existência da esquerda como condição diferenciadora, isto é, aquela direita que acredita no jogo partidário - coisa em que o BE não faz profissão de fé, apesar das aparências. Não gosto dos poster do Trotski na sede do PSR, nem dos posters do Estaline, na sede da UDP. Incomodam-me bastante. Quanto ao resto, tudo bem, concordo pontualmente com algumas posições, como e natural.
Visibilidade para o Louçã: será possível ainda mais, para um partido de 7%?
A injustiça económica e social mitiga-se com uma melhor distribuição da riqueza. No entanto, é necessário viabilizar a criação dessa riqueza e não me parece que o BE se preocupe muito com isso. O bota abaixo não leva a sítio algum. pelo menos, a um sítio aprazível...
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