quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Numa democracia...

...digna desse nome, com uma monarquia liberal e uma religião de estado, mas onde vivem imensas pessoas com variadíssimos credos (tal como mostra a foto abaixo, pois parece-me que há ali uns senhores que de anglicanos terão muito pouco), e onde encontramos aquele arcaísmo antidemocrático que é a Câmara dos Lordes, segundo Vital Moreira, a quem a Helena Matos respondeu num dos melhores posts da blogosfera nos últimos tempos, acontece isto:

Ministers have been accused of "rank hypocrisy" after it emerged that a third of Gordon Brown's Cabinet are campaigning against Government plans to axe post offices in their own constituencies. The Government said the proposals to close 2,500 branches in Britain were necessary to preserve the Post Office network's £150 million-a-year subsidy, and cut its estimated losses of £4 million a week. However, the move has caused widespread public opposition and The Daily Telegraph can disclose that seven Cabinet members oppose the plans in their constituencies. Some have organised petitions to spare their post offices from closure. The group includes some of Mr Brown's most senior colleagues - Jack Straw, the Justice Secretary; Jacqui Smith, the Home Secretary; and Geoff Hoon, the Chief Whip. Andy Burnham, the Culture Secretary; Tessa Jowell, the Olympics minister; John Denham, the Secretary of State for Innovation, Universities and Skills, and Paul Murphy, the Welsh Secretary, are also campaigning, or have campaigned, to save their local post offices.

(Jack Straw numa manifestação para salvar o posto de correios da sua constituency)

Ainda que Smith, Jowell e Straw sejam acusados de hipocrisia visto terem previamente aprovado a redução dos postos de correio, estando agora a tentar salvar os das suas constituencies, pode-se arguir como tantas vezes se faz no nosso país que as circunstâncias mudam e as opiniões mudam também, ou não tenhamos nós na memória de curto prazo o caso do Aeroporto OTA/Alcochete.

Mas o que realmente nos interessa é que neste Portugal onde a matriz política da alma lusitana é tendencialmente absolutista e repressora das opiniões divergentes, seria impossível algo como isto acontecer. É a diferença entre uma pseudo-democracia e uma verdadeira democracia evoluída onde os partidos não agrilhoam os seus miliantes à disciplina de voto e ao pensamento único, entre uma jovem envelhecida democracia da obediência ao chefe e uma velha jovial democracia que cultiva a rebeldia e a divergência como forma de intervenção política e cívica, entre um verdadeiro país politicamente desenvolvido e um verdadeiro país de políticos desenvolvidamente atrasados e ignorantes na arte de governar.

Ainda haverá por aí alguém a querer dar lições de democracia aos britânicos?

Um comentário:

Nuno Castelo-Branco disse...

Curiosa, essa ideia de anacronismo apontada pelo senhor Vital. Para quem passou quase toda a vida a militar numa coisa decrépita e sem qualquer prurido ético - como o seu ex-partido -, não deixa de ser uma originalidade.