Caro Nuno,
Concordo na quase totalidade com a sua análise, e no que discordo é mais por omissão do que por divergência de opiniões.
Neste sentido, deixe-me apenas comentar que a aliança com a potência marítima, depois do fim da fragmentação peninsular, serviu de suporte estratégico da independência portuguesa, com apoio (quase) sempre da Inglaterra. Nunca foi, no entanto, o factor exclusivo do equilíbrio peninsular: veja-se por exemplo o interesse português pelo norte de África ao longo do século XV, que não me parece ter sido apenas um primeiro passo experimental na direcção das descobertas, mas também uma forma de contornar geopoliticamente Castela. Podemos remontar ainda à independência e à procura do reconhecimento papal e da Primazia de Braga como forma de escapar à pressão continental dos nossos vizinhos.
Nada impede, assim, que esse suporte estratégico na potência marítima tenha, em certos momentos, vindo a ser posta em causa. Falo do conturbado período da diplomacia da restauração e do partido francês existente em Portugal (e do partido português, em França). Não me cabe aqui estabelecer a verdadeira orientação estratégica dessa aproximação a Paris, que, no fim, acabou por ser bem instrumentalizada por Portugal.
Dando um norme salto, até às vésperas da Conferência de Berlim, salienta-se a tentativa de Portugal de jogar a Alemanha contra o Reino Unido, a que nos faltou claramente habilidade diplomática e, sobretudo, base de poder para o fazer. O resultado foi o que nós sabemos, e o que alguns não sabem, acordos de partilha das colónias portuguesas entre Berlim e Londres, com o grande Soveral a ter que beber bastantes gin with tonic com Eduardo VII para recuperar o mal feito. Não obstante, na vergonhosa política de appeasement pré II Guerra Mundial, crê-se que o Almirantado britânico tenha proposto ao Foreign Office que oferecesse as colónias portuguesas a Hitler.
Passando para a guerra colonial em si, e ainda não li o trabalho de Pedro Aires de Oliveira, o orgulhosamente sós foi desmistificado, e se os ventos da história de Macmillan nos provocaram uma tempestade, contámos com a neutralidade benevolente, agora, americana, depois dos devaneios de Kennedy, com a sinceridade de uma França que partulhava uma certaine idée com Portugal, e com a amizade militar alemã, consubstanciada nesta base militar aqui a 30 km de onde escrevo, em Beja.
A tentativa de regresso à democracia foi mais um cenário de procura de apoios no aliado marítimo, onde os EUA se assumiram, definitivamente, como o maior aliado do interesse que saiu vencedor. Aqui é claro e sublinhado o papel de Carlucci contra a falta de visão, ou de interesse, que Kissinger manifestava face a Portugal.
Ao longo da história, nestas equações de múltiplas variáveis, o interesse nacional sempre se jogou em aliança com o Reino Unido e, a partir de certo momento, com os Estados Unidos. Tal terá necessariamente de ser assim, já que geopoliticamente Portugal é essencialmente um país atlântico e não europeu. Basta pensar em Vestefália e Viena, dois dos acontecimentos definidores da ordem europeia no passado. E sempre se jogou na procura de não deixar a Espanha ocupar o lugar estratégico de Portugal na aliança com as potências marítimas. E assim se explica o "americanismo" da política externa portuguesa, que é pragmática e realista (além de, em minha opinião pessoal, saudável).
E acho que todos sabemos o que teria feito o PS, nesta história do Iraque, se estivesse no governo. Das poucas pessoas que, nesse contexto, tomaram uma posição pública séria em termos de política externa, no quadro do PS, lembro-me de Bernardino Gomes e António Rebelo de Sousa.
Concordo na quase totalidade com a sua análise, e no que discordo é mais por omissão do que por divergência de opiniões.
Neste sentido, deixe-me apenas comentar que a aliança com a potência marítima, depois do fim da fragmentação peninsular, serviu de suporte estratégico da independência portuguesa, com apoio (quase) sempre da Inglaterra. Nunca foi, no entanto, o factor exclusivo do equilíbrio peninsular: veja-se por exemplo o interesse português pelo norte de África ao longo do século XV, que não me parece ter sido apenas um primeiro passo experimental na direcção das descobertas, mas também uma forma de contornar geopoliticamente Castela. Podemos remontar ainda à independência e à procura do reconhecimento papal e da Primazia de Braga como forma de escapar à pressão continental dos nossos vizinhos.
Nada impede, assim, que esse suporte estratégico na potência marítima tenha, em certos momentos, vindo a ser posta em causa. Falo do conturbado período da diplomacia da restauração e do partido francês existente em Portugal (e do partido português, em França). Não me cabe aqui estabelecer a verdadeira orientação estratégica dessa aproximação a Paris, que, no fim, acabou por ser bem instrumentalizada por Portugal.
Dando um norme salto, até às vésperas da Conferência de Berlim, salienta-se a tentativa de Portugal de jogar a Alemanha contra o Reino Unido, a que nos faltou claramente habilidade diplomática e, sobretudo, base de poder para o fazer. O resultado foi o que nós sabemos, e o que alguns não sabem, acordos de partilha das colónias portuguesas entre Berlim e Londres, com o grande Soveral a ter que beber bastantes gin with tonic com Eduardo VII para recuperar o mal feito. Não obstante, na vergonhosa política de appeasement pré II Guerra Mundial, crê-se que o Almirantado britânico tenha proposto ao Foreign Office que oferecesse as colónias portuguesas a Hitler.
Passando para a guerra colonial em si, e ainda não li o trabalho de Pedro Aires de Oliveira, o orgulhosamente sós foi desmistificado, e se os ventos da história de Macmillan nos provocaram uma tempestade, contámos com a neutralidade benevolente, agora, americana, depois dos devaneios de Kennedy, com a sinceridade de uma França que partulhava uma certaine idée com Portugal, e com a amizade militar alemã, consubstanciada nesta base militar aqui a 30 km de onde escrevo, em Beja.
A tentativa de regresso à democracia foi mais um cenário de procura de apoios no aliado marítimo, onde os EUA se assumiram, definitivamente, como o maior aliado do interesse que saiu vencedor. Aqui é claro e sublinhado o papel de Carlucci contra a falta de visão, ou de interesse, que Kissinger manifestava face a Portugal.
Ao longo da história, nestas equações de múltiplas variáveis, o interesse nacional sempre se jogou em aliança com o Reino Unido e, a partir de certo momento, com os Estados Unidos. Tal terá necessariamente de ser assim, já que geopoliticamente Portugal é essencialmente um país atlântico e não europeu. Basta pensar em Vestefália e Viena, dois dos acontecimentos definidores da ordem europeia no passado. E sempre se jogou na procura de não deixar a Espanha ocupar o lugar estratégico de Portugal na aliança com as potências marítimas. E assim se explica o "americanismo" da política externa portuguesa, que é pragmática e realista (além de, em minha opinião pessoal, saudável).
E acho que todos sabemos o que teria feito o PS, nesta história do Iraque, se estivesse no governo. Das poucas pessoas que, nesse contexto, tomaram uma posição pública séria em termos de política externa, no quadro do PS, lembro-me de Bernardino Gomes e António Rebelo de Sousa.
3 comentários:
Subscrevo integralmente o que escreve neste post. Se não comentei com detalhe as diversas fases da Aliança Luso-Britânica - com todos os seus períodos de colaboração íntima e ocasionais afastamentos -, isso deveu-se tão só e apenas, ao tentar cingir-me ao assunto de momento. É que a fase da Guerra da Restauração, evidenciou especificidades que jamais voltariam a verificar-se, desde a apontada aliança tácita e bastante provisória com a França, às tentativas de apaziguamento daquele Estado que terá sido, talvez, o nosso maior inimigo durante quase dois séculos: a Holanda. Fez bem em mencionar a errónea política de aproximação à Alemanha do II Reich, porque Barros Gomes, não poderia ambicionar a um tratamento equitativo entre os dois países, dada a desproporção evidente de forças. Esta política irrealista, levou a um previsível Ultimatum, que como consequência imediata, reconduziu Portugal à órbita do Reino Unido, única força no mundo - como constantemente frisava o rei D. Carlos - que podia e queria garantir o status quo peninsular e a manutenção das "fronteiras amigas" em África. Era vital para os ingleses e ainda mais para os portugueses. Tudo o que se possa dizer acerca de uma eventual tentativa de negociação britânica com Hitler, encontra-se ainda no campo especulativo e os arquivos ainda não fizeram luz - nem os da Wilhelmstrasse - acerca deste nebuloso assunto.
Quanto à política externa do PS, não seria tão pessimista, porque foi, desde 1974, o partido dos americanos. É que estar na oposição, permite as grandes (?) tiradas oratórias e a promessa de intenções várias e conscientemente irrealizáveis. Quando chega ao poder, creio que aquilo a que vulgarmente chamamos de interesse nacional, sobrepoem-se a paixões pueris e momentâneas. Não posso crer que exista um só candidato a primeiro-ministro deste país, que não tenha em conta esta realidade. Apesar de tudo, a irresponsabilidade, ou pior, a reserva mental, tem limites. Tudo o resto, será de somenos importância, isto é, "para inglês ver".
Ferro Rodrigues apoyó la Invasión de Iraq (Operación Libertad Duradera II) a diferencia de José Luis Rodriguez Zapatero, que me mostró contrario a ella en entrevista con Robin Cook en la calle Ferraz de Madrid y mitin en Valladolid.
Para o filomeno2006.
E Ferro Rodrigues fez muito bem, porque se pretendia ser primeiro-ministro de Portugal, decerto teve a consciência das realidades. A nossa aliança, é com a potência marítima dominante no Atlântico, os EUA. O Reino Unido é o aliado tradicional e continuará a sê-lo enquanto Portugal for um estado independente.
A política de Zapatero, é a habitual e errática política de Espanha, oscilando entre desvarios continentais - que levou à sua ruína - e um atlantismo mitigado. Nisto e em muitos outros aspectos, não há conciliação possível.
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