segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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"Jantar com uns patetas diplomados (e diplomatas) prestando serviço nas embaixadas da Europa das manias gastas e arrogâncias velhas. Um cretino castelhano repetindo minuto-sim, minuto-não, a esfadíssima tese do "se estivessemos juntos, Portugueses e Espanhóis, teríamos outro peso na arena internacional"; uma italiana coberta de pechisbeque discreteando sobre as grandezas de Roma, mas dirigindo-se-me sempre em inglês; um francês tresandando a perfume e bedum lembrando-me la francofie dos portugueses, até aquela que lhe manifesta a sua porteira de Paris, "qui est du Portugal". Ou seja, para os espanhóis Portugal não devia existir, para os italianos somos a Última Flor do Lácio, mas a língua de Catão e Cícero deve ser substituída pela língua franca da CNBC e para os franceses somos - que honra - uns bons criados. Não sei o que querem da Europa, mas naquela gente paga a peso de ouro para as frivolidades da diplomacia de pastel e espumante não vejo outro futuro que o de uma tumba com o epitáfio "aqui repousam os ossos frios de uma civilização que não conseguiu ultrapassar velhos demónios que a estilhaçaram em tiras". Olhando para o pequeno coro de imitadores e aprendizes de Metternicht, não me ocorreu outro nome que o do locatário de Berchtesgaden, que tinha o mesmíssimo conceito da finalidade da diplomacia: anexar, impor e fazer escravos."

Miguel Castelo-Branco
in Combustões.

Um comentário:

Nuno Castelo-Branco disse...

Miguel, parece-me que a culpa não lhes cabe inteiramente. É que ao observarem tanta subserviência por parte de quem nos rege, habituaram-se à imagem do criado, da porteira e do patanisqueiro patusco.