terça-feira, 4 de março de 2008

Um novo partido ao centro?

Muito se tem ouvido falar por aí de tendências institucionalizadas dentro dos partidos existentes, de novos partidos a surgir eventualmente à esquerda ou à direita, e até se ouvem alguns, na minha opinião bem mais pragmáticos, que avaliam o actual sistema de partidos como decrépito, em declínio, pelo que mais tarde ou mais cedo terá que ser reestruturado.

Agora, nunca tinha ouvido falar era de um novo partido ao centro. Esta gente ou é muito idealista ou não deve saber nada de teoria política. A História e a experiência mostram que quando se instala um bloco central não há mais espaço entre os dois partidos dominantes para o surgimento de outro partido, sendo os restantes que ainda se pautem por uma ideologia, afastados para as franjas do espectro político-partidário, normalmente chamados pelo bloco central em determinadas questões, apenas para dar um ar democrático ao sistema. Sobre a viabilidade dessa opção, ler isto, em que não é por ser do ISCSP, mas alinho bem mais pelo pragmatismo do professor Meirinho.

Fico é esclarecido quando leio isto:

O responsável explicou à Lusa que o MEP é um projecto "de gente comum", constituído por 60 cidadãs e cidadãos, que decidiu dar um passo em frente e que, com esse gesto, "quer transmitir esperança, no sentido de que a política é uma responsabilidade de todos nós e não só de alguns".

"O MEP é um movimento humanista que quer estar ao centro do centro político, entre o PS e o PSD, para que a partir daí seja possível construir pontes e sublinhar mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa", explicou Rui Marques.

Ou seja, é um movimento constituído por alguns ex-governantes ou personalidades que vagueiam pelos meandros do poder, que pretendem construir "pontes" (gosto bastante do eufemismo), leia-se, arranjar tachos. Deixem-me que vos diga, já vão atrasados quanto à originalidade. O que estão a tentar fazer é algo que o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, já faz. O PMDB tem cerca de, salvo erro, 3000 dos 5000 municípios do país, sem esquecer governos estaduais. É um partido que se apresenta como de centro, não tendo nenhuma ideologia definida, que nunca tem candidatos para a Presidência, e se coliga sempre com quem ganha. Todos os candidatos à Presidência do Brasil sabem que têm sempre que negociar com o PMDB. Porém, os países e respectivas sociedades são bem diferentes, quer em extensão territorial quer em estrutura social. Portugal é demasiado pequeno, somos muito poucos, conhecemo-nos todos, os meandros do poder são extremamente reduzidos. É por questões como esta que se diz que no Brasil reaprende-se Ciência Política, pois o seu sistema partidário é de uma pluralidade enorme com cerca de 30 a 40 partidos com assento parlamentar, em que a barganha é a actividade quotidiana mais praticada.

Mas, a acreditar na boa fé deste movimento, se pretendem mesmo assumir-se como uma ideologia de centro que pretende dar respostas alternativas aos problemas dos portugueses, são apenas mais um que se quer regular pelo marketing político. E PS e PSD com as suas monstruosas máquinas partidárias já fazem o mesmo.

No fundo, é só fazer uma analogia à película vencedora do Óscar para melhor filme, adaptado para "No country for new parties".

3 comentários:

Nuno Castelo-Branco disse...

Bah, mais uma data de canalizações enferrujadas, a desaguar na ETAR do costume...

João Pedro disse...

O PMDB fazia sentido no antigo regime militar brasileiro, mas alguém se esqueceu de que a sua utilidade se esvaziou com a democracia, nos anos oitenta. Agora é uma enorme estrutura, sem utilidade, que absorve qual buraco negro apolítica partidária brasileira.

Samuel de Paiva Pires disse...

Completamente de acordo João, levam ao máximo o extremo utilitarista e desideologizado, que no caso brasileiro leva à distribuição de cargos e afins para conseguir fazer aprovar as leis que o governo quer passar.