No centro do anfiteatro estava aquela a quem ainda aludimos, em temente sussurro, como "ministra da educação". Certo ignaro lhe perguntou toscamente em tosca linguagem qualquer coisa como 'por que hão-de contar para a avaliação dos professores as classificações dos alunos?'. Desconheço se o bruto atrevido fazia parte do Bloco, do PC, do PSD ou do PP. O que sei e vi é que ela, a ministra, irada com a ingratidão das gentes, se levantou destemida e exclamou estas palavras, que se esforçam já por sair do pobre invólucro da linguagem:
'as classificações dos alunos contam para a avaliação dos professores, porque era o que faltava que não contassem!' [sublinhado meu para realçar a força desmedida do argumento]
A malta bestial, alapada em redor, com excepção dos iniciados mistéricos do centro em concordância respeitosa, desatou a contorcer-se e a soltar grunhidos e risadas. Desgraçados, que não compreenderam o que se tinha ali passado.
Consegue o arguto leitor imaginar argumento mais inatacavelmente completo do que aquele citado? Brilhante (na verdade, fulgurante), ela não foi cobardemente buscar uma razão, uma explicação exterior à coisa. Não. Ela afirmou a coisa em toda a sua inteireza como o melhor, o único argumento de si própria.
'as classificações dos alunos contam para a avaliação dos professores, porque era o que faltava que não contassem!' [sublinhado meu para realçar a força desmedida do argumento]
A malta bestial, alapada em redor, com excepção dos iniciados mistéricos do centro em concordância respeitosa, desatou a contorcer-se e a soltar grunhidos e risadas. Desgraçados, que não compreenderam o que se tinha ali passado.
Consegue o arguto leitor imaginar argumento mais inatacavelmente completo do que aquele citado? Brilhante (na verdade, fulgurante), ela não foi cobardemente buscar uma razão, uma explicação exterior à coisa. Não. Ela afirmou a coisa em toda a sua inteireza como o melhor, o único argumento de si própria.
Carlos Botelho in O Cachimbo de Magritte
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