sábado, 22 de março de 2008

A respeito do vídeo em que os alunos violentam a professora que retira o telemóvel a uma aluna

Apetece citar o Kropotkine:

e um soco nos cornos?

só tou a perguntar....mas pareçe que não se pode tratar açim as "crianças"....

será que aquela aluna famosa, além dir agora apresentar programas na tevisão, participará nos sistemas de auto-aprendizagem automotivados e à medida que lhe "desperta" a curiusidade sem ser oprimida pela orientação desmotivadora dos profeçores?

Não vou pôr-me com grandes discursos a analisar o estado do ensino, sobre aquilo que já toda a gente sabe, ou seja, que desde o 25 de Abril a educação em Portugal tem caído a pique. Educação enquanto forma de ser e estar na vida que deve ser ensinada aos filhos pelos pais, e educação enquanto instrução, não só porque os programas do básico e secundário são na sua grande maioria ridículos, como o sistema vigente premeia cada vez menos a meritocracia e continua o nivelar por baixo característico dos supostos sistemas igualitários que acabam por se tornar facilitistas. Seria assim tão difícil nivelar por cima e primar pela excelência? Parece que sim, e os fenómenos de violência nas escolas são reflexo disto, para além de outras causas sociais e externas à escola.

Na primária tive a sorte de ter uma professora dos seus sessenta anos, obviamente advinda do regime salazarista, que tornou toda a turma em excelentes alunos, a tal educação de base que muito poucos professores conseguem dar, e cuja falta resulta, por exemplo, nas belas calinadas no português que todos os dias se vêem por aí. Levei reguadas na primeira e segunda classe, e não havia lá pais a bater à porta da escola a queixarem-se que os filhos fossem mal tratados, até porque, verdade seja dita, era uma turma muito inquieta, e na ausência da professora aproveitávamos para vandalizar a sala de aula, para logo a seguir levarmos uma série de reguadas. E era uma daquelas réguas antigas, de madeira massiça, que nos deixavam as mãos a escaldar! Recordo-me ainda que tive vários colegas ciganos, que chegaram um dia a chamar a família toda que nos cercou na escola, tendo sido chamada a GNR a intervir.

Daí para a frente, especialmente na escola preparatória, recordo-me de cenas de agressões físicas entre alunos, de agressões de alunos a professores (chegou a apelidar-se um aluno de Van Damme, que se orgulhava de ter feito um rotativo que mandou uma professora para o hospital com o maxilar partido), e de agressões a alunos por parte de professores (um professor chegou a puxar-me as orelhas, e a dar umas chapadas em mais alguns colegas, no caso, verdadeiramente sem justificação (foi mais tarde suspenso, supostamente por stress ou depressão, qualquer coisa do género)).

Lembro-me de ver alunos a serem esfaqueados; um colega meu a partir os óculos de outro com um murro, deixando-lhe a cara em sangue; uma colega que foi perseguida por grande parte dos alunos da escola, por alegadamente ter roubado um telemóvel a outro colega; lembro-me de uma perseguição a ciganos que alegadamente se tinham infiltrado na escola; recordo-me do pessoal que ia fumar charros e beber cerveja para trás dos pavilhões e locais mais recônditos; recordo-me de ver um aluno a urinar para um balde em frente à fila para o refeitório, tendo depois um outro aluno mais velho espetado com esse através de uma porta de vidro; recordo-me de alunos terem vandalizado carros de professores, furando pneus e riscando a pintura, sem contar com uma altura em que os nossos pais tinham que nos ir buscar, pois no caminho para o autocarro eram frequentes as abordagens por parte de alunos ou outros indivíduos mais velhos, a pedirem-nos dinheiro (cheguei a andar com dinheiro nas meias), tendo até uma vez sido assaltado por um drogado.

E se achava eu que a nossa escola na altura era violenta, fiquei assustado quando uma vez fomos jogar futebol a outra escola do concelho (Loures, na altura), integrado num torneio inter-escolas, onde fomos apresentados a um professor que nos disse para não deixar nada nos cacifos, e se prestou logo a ir embora porque tinha medo dos alunos. Ora para além das ameaças durante o jogo, que nos afectaram psicologicamente (inclusive à professora da nossa escola que nos acompanhou), que acabámos por perder, fomos logo de seguida escorraçados, tendo que fugir da escola, e ainda me lembro de ter visto uma pedra da calçada a passar-me a escassos palmos da minha cabeça. Imaginem se tivéssemos ganho.

Isto é apenas uma pequena amostra daquilo que me recordo. Mas mais recentemente ainda há pouco tempo uma miúda andava a ameaçar de morte a minha irmã de 15 anos, chegando a chamar os amigos mais velhos para lhe bater. A minha mãe, que por acaso até é a presidente da associação de pais foi falar com o Conselho Executivo ou Directivo ou lá o que é, com a delegada de Turma e com a Escola Segura. Todos disseram o mesmo, que não podem fazer nada.

É este o estado a que estamos a chegar. Alguém tem soluções? Há por aí algum brilhante sociólogo que se queira pôr a discorrer sobre a influência do meio sobre o indivíduo e afins clichés que sempre surgem quanto a estas questões? E que tal alguém pensar em enfrentar a realidade em vez de se preocuparem com avaliações de professores? Talvez uma verdadeira reforma de fundo de todo o sistema educativo fosse mais apropriada, com vista a prosseguir de forma real o tal ideal da escola que se pretende segura, uma espécie de segunda casa dos alunos onde quem manda são os professores, e não o contrário como se verifica amiúde. Quer-me parecer que isto com um Salazar ia ao sítio. Chamem-me fascista, who cares...

3 comentários:

Pedro Soares Lourenço disse...

Parece-me obvio que se alguém anda a ameaçar outrem “de morte” isso não é um caso para o “Conselho Executivo ou Directivo ou lá o que é, com a delegada de Turma e com a Escola Segura”, mas sim para a Policia Judiciaria e para o MP.

Samuel de Paiva Pires disse...

De facto caro Pedro, mas a querela acabou por ser resolvida com uma conversa com os pais da menor em causa.

Nuno Castelo-Branco disse...

Pois sim, conversar é sempre útil, mas infelizmente, de nada vale se o sistema está completamente putrefacto. A disciplina é o elo essencial que urge reforçar, a todo o custo. Não vale a pena perder-se mais tempo com malabarismos retóricos, porque chegamos ao "final da linha". A partir de agora, a reforma terá que ser bem perceptível para todos. E para grande alívio futuro dos pais, deverá começar pela imposição, mesmo sob coacção, da disciplina. Ou aceitam as regras do jogo, ou permanecem no analfabetismo. É simples e mais eficaz do que à primeira vista se possa pensar.