sábado, 8 de março de 2008

Quando o autismo e a pressão levam à perda da noção do estado das coisas

O ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva acusou, ontem à noite, em Chaves, à entrada para uma reunião sobre os três anos de Governo, os manifestantes de estarem a levar a cabo uma intimidação anti-democrática e atribuíu o combate pela liberdade apenas a "históricos" do PS. O ministro acusou ainda os manifestantes de "nem sequer saberem distinguir entre Salazar e os democratas" e de nem terem "lutado contra o fascismo".

Portanto agora as manifestações são intimidações anti-democráticas? Estou esclarecido sobre a surreal falta de bom senso por parte do senhor Ministro. Mas não satisfeito continuou:

"A liberdade é algo que o País deve a Mário Soares, a Salgado Zenha, a Manuel Alegre... Não deve a Álvaro Cunhal nem a Mário Nogueira", afirmou Santos Silva, acrescentando que estes "lutaram por ela antes do 25 de Abril contra o fascismo, e lutaram por ela depois do 25 de Abril contra a tentativa de tentar criar em Portugal uma ditadura comunista", sustentou.

Para começar não existiu fascismo em Portugal, mas vá-se lá explicar isto a alguém que tem palas nos olhos e que não se dedica a ler um bocadinho. Mas, portanto, ficamos a saber que os militares ou outros como Sá Carneiro, nada fizeram em prol da (aparente) liberdade em Portugal. São opiniões claro, mas agora eu pergunto-me, então e a quem é que o país deve a decadência deste regime supostamente tão livre? O que é que o país fez para merecer tão ignóbil classe política? E a quem é que deveremos recorrer desta feita para nos livrarmos desta gente? Espero que não seja ao PS, mas como o poder é o maior afrodisíaco, pelas palavras do ministro parece que já se preparam:

"E se for preciso defender outra vez, como defendemos em 75, a liberdade em Portugal, o Partido Socialista, posso garantir, estará na linha da frente da defesa das liberdades públicas".

5 comentários:

Nuno Castelo-Branco disse...

Lembras-te do meu primeiro post (hino do PS)? Na Alameda estavam muitos mais não PS do que aqueles que se reclamavam como tal. O sr. S.S., esqueceu-se de referir outro "herói do 25 de Novembro": o sr. Frank Carlucci, esse sim, determinante.

Luísa A. disse...

Das suas três perguntas finais, Samuel, julgo saber responder às duas primeiras. Com a terceira, fiquei numa angústia!... :-)

Anônimo disse...

Essa de que a liberdade se deve única e exclusivamente a Mário Soares e demais socialistas, é mais um dos muitos mitos que é preciso contrariar...; falo do que se passou por cá, em simultâneo com o comício da Fonte Luminosa, em que muitíssimas pessoas como os meus pais saíram à rua a lutar contra o PCP...

João Pedro disse...

Independentemente das omissões de ASS, ele não deixa de ter certa razão: aqueles manifestantes chamavam-lhe "fascista", e aquilo não era uma reunião governamental. E Mário Soares não comabateu só contra a deriva totalitária mas foi sem dúvida a figura alutinadora e mais relevante(Sá Carneiro estava em tratamento em Londres).

Samuel de Paiva Pires disse...

De facto Luísa, até eu fiquei em angústia com tal pergunta!

Claro que Mário Soares foi uma figura aglutinadora que desempenhou um importantíssimo papel, ao ponto de ser considerado por Samuel Huntington como um verdadeiro herói na transição democrática que inaugurou a chamada Terceira Onda de Democratização. Ninguém lhe tira o mérito.

Mas quanto a Santos Silva, utilizar tais argumentos é arrogar-se de um certo sentimento de domínio e superioridade perante os eleitores, porque neste regime chamado de abrilista isso significaria que apenas os socialistas lutaram pela liberdade, o que lhes garantiria uma suposta legitimidade para agirem como querem. Ou seja, uma espécie de "legitimidade" no mínimo teimosa e que não dá ouvidos a ninguém, para não utilizar outros adjectivos...