Mais de duas horas de debate entre monárquicos e alegados republicanos, levam-nos a algumas conclusões:
1- A falta de preparação do campo da Situação, onde apenas Medeiros Ferreira conseguiu captar a atenção dos espectadores e isto, principalmente, devido à sua proverbial bonomia e espírito conciliatório. É um senhor do "antes destes", honra lhe seja feita.
2- O esvaziamento das "sumidades" jornalísticas que, habituadas a entrar-nos em casa várias vezes por semana, não justificaram minimamente uma alegada categoria para participar no debate. Banalidades, chavões, ódios recalcados e bem visíveis, apologia pouco disfarçada do regicídio, etc. Nada de novo, até porque o assunto a tratar não era decerto uma qualquer noite da má língua, ou as transfegas de águas do charco futebolês em que o regime mergulhou o país.
3- A declaração mais importante, veio afinal, da boca do regente ou Sumo Sacerdote António Reis: democracia sim, mas aquela que eles querem e impõem e sem qualquer possibilidade de referendo! Somos reféns da vontade de uma meia dúzia de iluminados? O velho argumento dos Limites Materiais, absurda criação de Jorge Miranda (1975-76), retira aparentemente, qualquer possibilidade de uma futura modificação da forma de representação do Estado, mesmo à revelia da vontade popular. Num exame de Direito Constitucional - que bem poucas saudades me deixou -, tive a oportunidade de dizer a J.M., que me parecia ser um erro histórico. É que o antigo artigo 290 (hoje 288, julgo), propicia um possível retorno à instabilidade do regime, ao contrário do que possa parecer. A ilusão de uma certa acalmia e consolidação das actuais instituições, advém, sobretudo, do simples facto de Portugal hoje pertencer à Europa comunitária. Os fundos e as sanções pesam e muito. As situações de ruptura violenta, nascem infalivelmente, do afunilamento de hipóteses para a resolução pacífica de conflitos de interesses ou da própria organização do Estado. Uma Constituição generalista é em regra susceptível de larga aceitação e perenidade. A nossa História é pródiga na demonstração desta verdade (as Vilafrancadas, as Belfastadas,os Dezembrismos, as Saldanhadas, as Patuleias, as Archotadas, os Sidónios, 28 de Maio, 25 de Abril, etc). Ninguém é dono da democracia, muito menos aqueles que dela beneficiando, são fautores de desprestígio das instituições e da própria existência do Estado como entidade soberana. O seu tempo passou e lembro-me aqui daquele lema "Depois de Vós, Nós"!
Na verdade e dada a situação a que o país chegou, o referendo será feito, mas Como e Quando nós quisermos. O mais irónico é que os senhores da Situação acabarão por aceitá-lo, porque terão uma oportunidade airosa para alijar culpas e retirar-se a gozar as benesses recebidas ao longo de décadas e sem recriminações de maior. É uma tradição nacional. Reconciliação sem ajustes de contas. É apenas uma questão de tempo e não de "se".
4- Os monárquicos no debate. Teixeira Pinto, Castro Henriques e Adelino Maltez, devem ser o pior pesadelo para o campo situacionista. Informados, cultos e moderados, desfazem completamente a velha imagem do "monárquico de reposteiro" (bem vi alguns sentados na plateia) que habitualmente desmerecem a Causa. O Patriarca da Monarquia, Ribeiro Telles, decerto a acusar o peso da idade, mas sempre pronto à liça, incorruptível e talvez, um dos poucos homens decentes do regime. No entanto, custa-me reconhecer que muitos não entendam a claríssima e basilar mensagem de Maltez que por ser tão óbvia, parece tornar-se de difícil (?) percepção. Inacreditável cegueira ou calculismo imbecil? Sejamos condescendentes: talvez a confusão não passe de simples ignorância e burrice.
Este debate foi finalmente, o enterro de uma certa corrente "monárquica de salão", que tanto mal fez à Causa, composta maioritariamente por lunáticos excêntricos, pedantes de baixo coturno e portadores de anel de brasão encomendado nas casas da especialidade da Rua do Ouro. Foram despejados e bem podem ir fazer rapapés ao Poidimani. Estão ao mesmo nível.
A simples realização e tempo dispensado a este debate quer dizer muito. Embora já o esperasse, admirei-me pela fraca - e aqui não estou decerto a ser parcial - prestação dos homens da república. Salvou-se Medeiros Ferreira, que aliás, pareceu ter um pé no campo oposto. Não é insólito. A Restauração, pode muito bem, vir a ser a última hipótese de salvação da própria democracia.
Uma única discordância relativamente aos monárquicos Teixeira Pinto e G. R. Telles. Deram garantias de jamais procurarmos derrubar a república pela força. Decerto, sempre fomos legalistas. A excepção será apenas uma e decerto unânime entre os portugueses: qualquer tentativa - como subrepticiamente se vai indiciando em certos sectores todo-poderosos- de promover uma qualquer União Ibérica, deverá ter como resposta uma sublevação, seja ela de cariz civil, militar ou, na melhor das hipóteses, de ambos os sectores da sociedade. E aqui, os monárquicos estarão na linha da frente. Disto estamos certos e este facto não merece qualquer comentário supérfluo.
*Nota final. Tive um grande prazer em voltar a ver, após mais de trinta anos, o meu antigo colega da Escola Primária de Moreira de Almeida, de Lourenço Marques. O Miguel Otto sempre foi monárquico, tal como eu. Não mudou. Ainda bem.
1- A falta de preparação do campo da Situação, onde apenas Medeiros Ferreira conseguiu captar a atenção dos espectadores e isto, principalmente, devido à sua proverbial bonomia e espírito conciliatório. É um senhor do "antes destes", honra lhe seja feita.
2- O esvaziamento das "sumidades" jornalísticas que, habituadas a entrar-nos em casa várias vezes por semana, não justificaram minimamente uma alegada categoria para participar no debate. Banalidades, chavões, ódios recalcados e bem visíveis, apologia pouco disfarçada do regicídio, etc. Nada de novo, até porque o assunto a tratar não era decerto uma qualquer noite da má língua, ou as transfegas de águas do charco futebolês em que o regime mergulhou o país.
3- A declaração mais importante, veio afinal, da boca do regente ou Sumo Sacerdote António Reis: democracia sim, mas aquela que eles querem e impõem e sem qualquer possibilidade de referendo! Somos reféns da vontade de uma meia dúzia de iluminados? O velho argumento dos Limites Materiais, absurda criação de Jorge Miranda (1975-76), retira aparentemente, qualquer possibilidade de uma futura modificação da forma de representação do Estado, mesmo à revelia da vontade popular. Num exame de Direito Constitucional - que bem poucas saudades me deixou -, tive a oportunidade de dizer a J.M., que me parecia ser um erro histórico. É que o antigo artigo 290 (hoje 288, julgo), propicia um possível retorno à instabilidade do regime, ao contrário do que possa parecer. A ilusão de uma certa acalmia e consolidação das actuais instituições, advém, sobretudo, do simples facto de Portugal hoje pertencer à Europa comunitária. Os fundos e as sanções pesam e muito. As situações de ruptura violenta, nascem infalivelmente, do afunilamento de hipóteses para a resolução pacífica de conflitos de interesses ou da própria organização do Estado. Uma Constituição generalista é em regra susceptível de larga aceitação e perenidade. A nossa História é pródiga na demonstração desta verdade (as Vilafrancadas, as Belfastadas,os Dezembrismos, as Saldanhadas, as Patuleias, as Archotadas, os Sidónios, 28 de Maio, 25 de Abril, etc). Ninguém é dono da democracia, muito menos aqueles que dela beneficiando, são fautores de desprestígio das instituições e da própria existência do Estado como entidade soberana. O seu tempo passou e lembro-me aqui daquele lema "Depois de Vós, Nós"!
Na verdade e dada a situação a que o país chegou, o referendo será feito, mas Como e Quando nós quisermos. O mais irónico é que os senhores da Situação acabarão por aceitá-lo, porque terão uma oportunidade airosa para alijar culpas e retirar-se a gozar as benesses recebidas ao longo de décadas e sem recriminações de maior. É uma tradição nacional. Reconciliação sem ajustes de contas. É apenas uma questão de tempo e não de "se".
4- Os monárquicos no debate. Teixeira Pinto, Castro Henriques e Adelino Maltez, devem ser o pior pesadelo para o campo situacionista. Informados, cultos e moderados, desfazem completamente a velha imagem do "monárquico de reposteiro" (bem vi alguns sentados na plateia) que habitualmente desmerecem a Causa. O Patriarca da Monarquia, Ribeiro Telles, decerto a acusar o peso da idade, mas sempre pronto à liça, incorruptível e talvez, um dos poucos homens decentes do regime. No entanto, custa-me reconhecer que muitos não entendam a claríssima e basilar mensagem de Maltez que por ser tão óbvia, parece tornar-se de difícil (?) percepção. Inacreditável cegueira ou calculismo imbecil? Sejamos condescendentes: talvez a confusão não passe de simples ignorância e burrice.
Este debate foi finalmente, o enterro de uma certa corrente "monárquica de salão", que tanto mal fez à Causa, composta maioritariamente por lunáticos excêntricos, pedantes de baixo coturno e portadores de anel de brasão encomendado nas casas da especialidade da Rua do Ouro. Foram despejados e bem podem ir fazer rapapés ao Poidimani. Estão ao mesmo nível.
A simples realização e tempo dispensado a este debate quer dizer muito. Embora já o esperasse, admirei-me pela fraca - e aqui não estou decerto a ser parcial - prestação dos homens da república. Salvou-se Medeiros Ferreira, que aliás, pareceu ter um pé no campo oposto. Não é insólito. A Restauração, pode muito bem, vir a ser a última hipótese de salvação da própria democracia.
Uma única discordância relativamente aos monárquicos Teixeira Pinto e G. R. Telles. Deram garantias de jamais procurarmos derrubar a república pela força. Decerto, sempre fomos legalistas. A excepção será apenas uma e decerto unânime entre os portugueses: qualquer tentativa - como subrepticiamente se vai indiciando em certos sectores todo-poderosos- de promover uma qualquer União Ibérica, deverá ter como resposta uma sublevação, seja ela de cariz civil, militar ou, na melhor das hipóteses, de ambos os sectores da sociedade. E aqui, os monárquicos estarão na linha da frente. Disto estamos certos e este facto não merece qualquer comentário supérfluo.
*Nota final. Tive um grande prazer em voltar a ver, após mais de trinta anos, o meu antigo colega da Escola Primária de Moreira de Almeida, de Lourenço Marques. O Miguel Otto sempre foi monárquico, tal como eu. Não mudou. Ainda bem.
14 comentários:
São esses monárquicos, a que chama "de reposteiro",os maiores inimigos de uma eventual restauração: são eles que criam os anti-corpos contra a mesma, ao alimentarem velhos preconceitos...
O NCB e a Cristina acertaram em cheio, mas ainda há esperança. Os novos monárquicos são outra coisa.
Pedro matias
Lisboa
A coisa correu muito bem, porque os do costume estiveram na defensiva. Deve-lhes ter custado muito sujeitarem-se ao debate. nada está garantido, como se vê.
Ainda cheguei a tempo de assistir ao final do programa. Teixeira Pinto esteve ao melhor nível, com um grande sentido de estadista democrático, enquanto António Reis lançou os habituais chavões propagandísticos que confundem as pessoas, destacando-se o "Referendar a república é o mesmo que referendar a democracia". Mas será que o dito senhor acredita mesmo nisto? A República ou a Monarquia são tipos de regime, não devem ser confundidos com a noção contemporânea de democracia (até porque a clássica, platónica/aristotélica aponta a democracia como um mau regime). Quer isto dizer que Reino Unido ou Espanha são países menos democráticos que o nosso? Alguém consegue mesmo crer nesta ideotice?
"Ainda há esperança"...; parece-me muito optimista, Pedro Matias: neste momento estou mesmo desconsolada: estive agora a ler os comentários no "Corta-fitas",e são pouquíssimos os que encaram a questão com a seriedade que importa. Mais parece um diálogo de surdos...
(sei que se refere apenas nova vaga de monárquicos,mas se as pessoas se recusam a ouvir as suas razões...)
Divulgação
Um Blog ,dois livros!
www.camaradachoco.blogspot.com
“Camarada Choco”
e
“Camarada Choco 2”
António Miguel Brochado de Miranda
Papiro Editora
Papelaria “Bulhosa” Oeiras Parque, Papelarias “Bulhosa”, FNAC ou www.livrosnet.com
Tema: Haverá uma fronteira entre os Aparafusados e os Desaparafusados?" Outra maneira de falar sobre o Ensino Especial.
Filmes de Apresentação no “Youtube” em “Camarada Choco”
P.S. Agora, que dei vazão ao meu desânimo, já consigo ver uma nesga de esperança: porque é que se dariam ao trabalho de fazer o debate, se não houvesse algo a "mexer", por pequeno que seja, não é? Muito depende destes novos monárquicos; mostrar que são diferentes...
Pois é, veja bem como às vezes até tenho alguma razão...
Vi estarrecido o debate e acaso fosse uma peleja futebolística creio que os Monárquicos ganharam por muitos golos de diferença. A começar pela envergadura intelectual e pela densidade do discurso...quanto à flausina de serviço armada em jornalista que dizer ???
JNAS
www.ilhas.blogspot.com
Estou neste momento a assistir à repetição do programa na RTP N e a tirar notas...
Não tenham quaisquer ilusões; na versão democrática, Medeiros Ferreira é igualzinho à «velha raposa» do Estado Novo. É um indivíduo muito inteligente e que, no debate, não se esqueceu de sublinhar (é a sua concepção) que o Rei traz consigo incluso, em essência, um corpo estranho à democracia. No que foi acompanhado por António Reis do «Oriente Lusitano», naquela imagem da República e do «fecho da abóbada» ...
Curiosamente, há monárquicos - vejam o "blog" «O Pasquim da Reacção» - que entendem a Monarquia em contradicção essencial com as concepções modernas de democracia, sendo que, neste particular, juntam-se por razões simétricas à tese de Medeiros Ferreira.
Não faço a menor ideia quanto à «representatividade» de uns e de outros ...
O NCB goza com os brasonados e assim, resolvi pesquisar um pouco a sua ºárvore" e a do seu irmão. Não é que possuem um dos mais espampanantes brasões portugueses? Até pode passar por ser o de uma casa principesca da Europa central. Mas não o dizem. É a coerência.
Pedro Matias
Lisboa
Ainda bem, sobem na minha consideração. Anda tanto arrogante por aí, que quem realmente é alguma coisa, não precisa de o dizer. Estou de acordo. Os monárquicos ganharam o debate que para eles, foi muito fácil.
Ainda bem que existe SAR. D. Rosário e que em breve os monarquicos que se prezem desse nome, vão ter um pretendente à altura.
Fora com este pantomineiro do Duarte http://www.reifazdeconta.com
Nuno pintas bem e devias apoiar o D. Rosário que é um grande apreciador e colecionador de arte!
Tiveste uma boa professora, a tua mãe! Pintava excelentemente e fazia gravuras maravilhosas. Boa senhora!
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