segunda-feira, 31 de março de 2008
Duas viagens na Linha do Tua (2)
Duas viagens na Linha do Tua
Na primeira, nos fins de Setembro de há uns anos, fomos- toda a numerosa família- do Pinhão até Mirandela, num daqueles dias dourados de começo de Outono. Tinha acabado a azáfama das vindimas, mas a alegria que a faina acarreta ainda era evidente nas gentes que viajavam connosco. Dia de feira , viam-se as mulheres com açafates cheios de frangos e coelhos.
Voltei lá em Novembro do mesmo ano, por altura do Dia -de -Todos- os- Santos, e agora já caía uma chuva fraca, mas não suficiente para nos impedir de irmos até ao Pocinho. A paisagem, sendo a mesma era outra- nas cores e na quantidade de folhagem, mas o encanto não era menor.
O fascínio do Douro é eterno.
A Linha do Tua é que não vai estar lá muito tempo...
A respeito dessa magnífica nova figura do Direito - a rescisão unilateral de um contrato bilateral chamado casamento
O que me "causa espécie", como bom liberal, é como é que esta gente se atreve a regulamentar áreas que ao Estado não dizem respeito, como no caso dos piercings, onde retiram ao indivíduo a capacidade de ajuizar sobre o que fazer com o seu corpo (algo inerente ao elementar conceito de liberdade como já aqui demonstrei), prestando-se logo de seguida a ideotices como o facto da Direcção-Geral de Impostos (DGCI) está a ameaçar os casais recém-casados com coimas, que vão até 2500 euros, se não prestarem as informações solicitadas sobre os serviços do seu casamento no prazo de 15 dias (via 31 da Armada), e culminando com a desregulamentação de um princípio basilar de um Estado de Direito, o respeito pelos contratos, no que ao casamento diz respeito, essa coisa que se constitui como a relação jurídica por excelência pela qual se pauta a sociedade, em torno da qual gira grande parte do nosso Código Civil.
Sem mais, deixo na íntegra o excelente post que o Nuno Pombo escreveu no Incontinentes Verbais:
A agenda dos políticos anda animada. Ainda não havíamos digerido a prebenda da redução do IVA e somos agora brindados com mais um capítulo da saga «A Revolução dos Costumes». Neste episódio, o BE, quero dizer, o PS promete acabar com o divórcio litigioso. Não me parece mal. Acabe-se com tudo quanto seja litigioso. O litígio é intrinsecamente mau. É altercação. Dissídio. Conflito. Desordem. Disputa. Confronto. Antagonismo. Bem andam os nossos políticos quando se preocupam com a paz. A paz no mundo começa em nossas casas. E a paz constrói-se com o fim da guerra. Promovendo-se o ocaso do "litigioso", franqueiam-se as portas ao florescimento radioso do "amistoso". E isso é que é bom.
Contudo, importa ir mais longe. A verdadeira fonte do litígio não é tanto o divórcio. É o que está a montante dele: o próprio casamento. A padralhada andou a convencer-nos de que o casamento era um sacramento. Foi preciso virem os libertários iluminados dizer que não. Que era um contrato. O Código Civil - mas ainda não o Canónico - estabelece o casamento como um contrato. Um contrato, ou seja, um negócio jurídico bilateral. Com dois intervenientes (e porque não 3 ou 4? Malandros! ou porque não só 1? Por que carga de água não me posso casar comigo mesmo? se até já há sociedades unipessoais???) De sexo diferente (cambada de sexistas castradores das legítimas aspirações contratuais dos cidadãos!). Como se vê, o casamento é uma instituição potenciadora de conflitos. De sacramento a contrato. Agora de contrato a coisa nenhuma. A deputada Helena Pinto, com aquele ar esclarecido que o Criador lhe estampou na cara, tem toda a razão. Era o que faltava que um dos cônjuges (tecnicamente também chamados "contraentes") pudesse impor ao outro (tecnicamente "contraparte") a manutenção do casamento (tecnicamente "contrato"), unilateralmente (vulgarmente "porque lhe dá na bolha"!). Isso de dar a uma das partes de um contrato o direito de impor o seu cumprimento à contraparte ou de extrair consequências do seu incumprimento é uma coisa do além!!! Isso mesmo, Helena. Era o que faltava! Tens toda a razão! Não te esqueças de explicar isso aos sindicatos e aos tribunais de trabalho, também. Temo que eles não percebam, coitados.
Daniel Oliveira, quando fores definitivamente absolvido avisa. Gostava de poder chamar "palhaços" a uns tantos deputados... e deputadas.
Demagogia propagandística de quinta categoria
É simplesmente fantástica esta peça de propaganda realizada pela Al Jazeera, que até já passou na Sic ou Sic Notícias, não me recordo concretamente. O João Miranda deixa sem dúvida a melhor análise desta propaganda nefasta:
A emissão é da AlJazeera. O guião e as dobragens são do Bloco de Esquerda.
Dando uma imagem de Lisboa como se fosse Beirute depois dos ataques israelitas, José Sá Fernandes apresenta-se como um arauto contra a corrupção puxando ao sebastianismo português, num misto de alegado patriotismo e anti-patriotismo que só dificulta o trabalho de promoção do país a nível de política externa, especialmente no que ao sector turístico diz respeito.
Relembro um Prós e Contras sobre planeamento urbano e corrupção que passou há umas semanas. Um dos intervenientes principais, de quem não me recordo do nome, contava uma singular e irónica estória da visita de uma sua amiga italiana ao nosso país. A dada altura, disse-lhe a sua amiga que Portugal é muito bonito, com cidades muito bonitas, mas muito desordenadas a nível do planeamento urbano, obtendo deste repto a resposta de que tal se justifica pelo elevado nível de corrupção deste sector, ao que a italiana respondeu que em Portugal não há de certeza absoluta mais corrupção do que em Itália, o que há é uma grande falta de gosto. Nem mais, e a demonstrá-lo estão os projectos de uns pombais ou currais assinados por José Sócrates há uns anos.
E para quem ainda não se tenha apercebido, realmente o irmão do Zé que não faz cá falta e que custou aos cofres do Estado cerca de 18 milhões de euros, sumariza bem a questão, "corruption is a way of being". De facto, e novamente aqui deixo o repto para que vejam um dos melhores filmes dos últimos anos, Syriana, de onde retiro a seguinte deixa e deixo um breve comentário que já havia aqui deixado:
"Corruption? Corruption ain't nothing more than government intrusion into market efficiencies in the form of regulation. That's Milton Friedman. He got a goddamn Nobel Prize. We have laws against it precisely so we can get away with it. Corruption is our protection. Corruption is what keeps us safe and warm. Corruption is why you and I are prancing around here instead of fighting each other for scraps of meat out in the streets. Corruption is why we win."
A profundidade desta deixa não pode passar despercebida. Tal como referia, o Direito dedica-se ao que deve ser para que possa precisamente justificar o que é. Por outro lado, na senda da famosa frase de Montesquieu de que "todo o índividuo investido de poder é tentado a abusar dele" penso ser apropriada a assumpção de Schumpeter de que o homem ao entrar no domínio da política perde grande parte da sua capacidade racional, tornando-se eminentemente um ser associativo que funciona por interesses. Analisando isto à luz dos ensinamentos aristotélicos, tendo em especial consideração que "o homem é um animal político por natureza", então logicamente se concluirá que a passagem do estado de natureza para o estado social por via contratualista implicará sempre uma base de corrupção, especialmente quando se trata dos povos latinos possuidores de uma tendência inata para a corrupção, que no caso português começa ao mais baixo nível com a chico-espertice que não é alheia aos que ao mais alto nível se imiscuem de dar o exemplo, apesar de muitos terem bonitos e até épicos discursos contra a corrupção.
Quanto mais rapidamente as pessoas se aperceberem e interiorizarem isto menos facilmente se deixam enganar por estes pseudo-idealistas, alegados e aparentes outsiders que são tão sistémicos como quaisquer outros, e mais facilmente entendem como as coisas funcionam.
Mas tudo isto está prestes a perder a sua validade na realidade portuguesa. Tenho a leve impressão que está prestes a concretizar-se uma das profecias mais importantes do legado filosófico-político do ocidente. Sá Fernandes vai salvar Lisboa, vai salvar Portugal, quiçá vai até salvar o Mundo, que ninguém pense o contrário nem duvide, qual Jesus Cristo, Buda ou Maomé, o verdadeiro super-homem de Nietzsche está encontrado!
Fim-de-semana - Domingo em Lisboa
Fim-de-semana - Sábado na Costa
domingo, 30 de março de 2008
Lisboa Arruinada (25) Av. 5 de Outubro
Será?
Ninguém me convence de que em indivíduos assim, no lado esquerdo do peito não existe apenas um músculo que bombeia o sangue; não, debaixo deste nosso céu pulsam corações que não sentem nada...
As noites dos fins-de-semana
Está uma noite calma, as muitas árvores que me rodeiam não acusam qualquer vestígio de vento. Ao mesmo tempo lembro que este foi um cenário muito glosado pelo homem de Seide.
É quase tão linda como a vista que tenho quando fico em casa de uma minha irmã em Guimarães, de onde quase posso tocar o belíssimo Mosteiro de Santa Marinha da Costa.
E nesta apreciação não entra a tradicional rivalidade entre os dois Municípios(se assim fosse não viveria em Braga, não é? :) ).
sábado, 29 de março de 2008
Em reforço do "Monarquia e soberania popular" em "Combustões"
1. A grande base de confiança popular na Monarquia portuguesa foi ao longo dos séculos, a assunção por parte dos consecutivos detentores da coroa, da garantia de adaptação de todas as estruturas que davam forma ao reino, às novas realidades do seu tempo. No período da Reconquista, o pragmatismo da dinastia de Borgonha fixou populações, integrou elementos exógenos, concedeu forais - e ainda hoje debatemos o sim ou o não ao municipalismo -, firmou Portugal no confuso e frágil concerto das novas nações que lentamente se iam formando na Europa. A crise de 1383-85, reorganizou as classes ao criar uma outra nobreza mais aberta ao horizonte expansionista extra-europeu, ao mesmo tempo que o trono era a garantia de adaptação do país às novas realidades decorrentes do alvorecer do Renascimento. O príncipe assume plenamente o seu papel soberano e a centralização do estado consagra a sua unidade anímica e territorial. É decerto supérfluo referir a época áurea dos Descobrimentos, quando a Monarquia foi o expoente máximo do Estado moderno e unificador do conjunto nacional que já se expandira de uma forma jamais vista na história humana.
O período filipino, se trouxe no seu primeiro capítulo uma efectiva modernização da Lei - só substituída pelo oitocentista Código Seabra- e uma adaptação burocrática do Estado ao sistema Imperial da União Ibérica, lesou profundamente o elo de confiança tacitamente estabelecido entre a generalidade da população - aquela que participava na coisa pública, é certo - e a coroa ausente. A União de Armas selou o destino dos Habsburgos "portugueses" e a Restauração de 1640 salvou o Estado da sua total extinção. Extinção como identidade nacional já definida e como organização visível em termos mundiais, dada a grande extensão e dispersão das possessões da coroa de Portugal por quatro continentes. Mesmo no aspecto da geopolítica, a nova monarquia dos Bragança soube discernir qual o verdadeiro interesse subjacente ao esforço ultramarino, procedendo a uma sábia e eficaz racionalização dos recursos. Esta decisão de "investimento" na área atlântica, tornou possível nos dias de hoje, ser a língua portuguesa, a terceira da Europa e a par do inglês, aquela que se encontra presente em termos globais. O gigantismo do Brasil é um fruto directo do esforço empreendido pela Restauração.
O século XVIII seguiu fielmente o exemplo Iluminista em voga na Europa e a guerra civil que terminou em 1834, pareceu consagrar o regresso à representatividade, desta vez parlamentar e que evoca os seus antecedentes nas Cortes de outrora e legitimadoras de todo o poder estabelecido em Portugal.
O sistema liberal da Monarquia Constitucional funcionou positivamente, apesar de todos os percalços inevitáveis e decorrentes das necessárias décadas de adaptação a uma nova situação social e até geopolítica, dada a separação e independência do Brasil. O rei tinha de facto, a chave mestra do funcionamento do sistema rotativo - assim se convencionou tacitamente - do poder partidário. Se essa faculdade transcendente do Poder Moderador era susceptível de garantir a alternância e impedir abusos por parte de qualquer dos grupos que se digladiavam pelo presidência do Conselho de Ministros, pressupunha igualmente, uma maior exposição da majestade ao jogo político daqueles sectores. Desta forma era fácil a um partido alijar culpas sobre a figura do monarca, apodando-o de padrinho deste ou daquele chefe político, ao mesmo tempo que recebendo pouco depois esse poder governamental, vinha agora resguardar-se atrás da coroa. O rei encontrava-se exposto e a situação foi aceitável, enquanto a vaga de inevitáveis reformas ocorridas no período da Revolução Industrial e urbanização política da Europa ocidental, não obrigou a uma adaptação dos sistemas constitucionais. Conhecemos bem o que se passou. O rei D. Carlos conhecia de sobremaneira os homens públicos do seu país e sabia qual o real e vital papel desempenhado pelo Estado - ou simplesmente a sua máquina burocrática - no desenvolvimento material da sociedade e na garantia das liberdades públicas. Era na prática, um presidente vitalício cujos poderes não seriam afinal, tão diferentes daqueles que hoje são detidos pelo actual p.r. É certo que o sistema eleitoral era muito diverso daquele que hoje conhecemos, mas o universo dos eleitores era vastíssimo, encontrando paralelo apenas naquele que que nos é familiar e garantido pela Constituição de 1976. Estava em perfeita conformidade com a Europa da Belle Époque e a liberdade de associação e de expressão eram de facto assombrosas, mesmo se as comparamos com a dos nossos dias.
D. Carlos falhou. Expôs-se ao pretender uma muito visível transformação a longo prazo do ordenamento constitucional. É hoje praticamente seguro que não projectou um total eclipse da função e poder detido pela coroa. Não era ainda o tempo azado e a sociedade teria primeiramente de se conformar, organizando-se em verdadeiros partidos distintos entre si e principalmente, com programa. Creio que é ainda hoje, o problema fundamental da nossa política caseira e é frequente ouvir-se dizer que se tornou no elo fraco do regime. A verdadeira alternativa/alternância, não existe e pior, o Chefe do Estado é parte interessada e muito comprometida.
O rei falhou não por inaptidão ou desinteresse, mas devido ao Crime. Crime que partiu da iniciativa de um nebuloso grupo que afinal pretendia manter intacta a relação do poder que interessa - e que é invisível na aparência - em termos sócio-económicos. O 5 de Outubro cortou cerce a adaptação de Portugal à nova realidade do Trabalhismo que já era força pujante na Inglaterra, Alemanha, Áustria e países do norte do continente, votando o país a uma estéril e inglória luta fratricida em torno de vagas ideias de um pseudo-sebastianismo redentor que na verdade, escondia a já tradicional e até então pacífica luta entre caciques partidários. O rei expôs-se demasiadamente depressa e de forma ostensiva. O resultado foi o atraso de Portugal que desperdiçou sete décadas de constitucionalismo que já habituara as suas gentes e que garantia a pertença do país a uma Europa que entrava ainda dominadora no século XX. Foi o que perdeu a Monarquia, contanto que a reforma fosse inevitável. Embora não exista um evidente paralelismo - dada a abissal diferença entre as duas sociedades -, por vezes recordo-me do Irão do Xá Reza Pahlevi. Regime autocrático e centralizado nas mãos do soberano, mas propiciador de uma segura evolução no sentido do constitucionalismo e da abertura aos novos tempos. O Xá falhou porque tal como D. Carlos I, expôs-se de uma forma demasiadamente visível e repentina. A sociedade não compreendeu e os pequenos políticos aproveitaram a oportunidade.
2-O sucinto e essencial post do Miguel, visa alertar sobretudo, quanto a etéreas e impraticáveis soluções que afinal não o são. Os chamados corpos intermédios, onde a nítida tentativa de inspiração medievalista apenas esconde a sua realidade que encontra caboucos no Statuto del Lavoro gizado pelo Duce, foram testados em Portugal. Sabemos no que deram.
3-A opinião dos estudiosos e teóricos acerca da transcendência eivada de espiritualismos do poder real a Restaurar, é perfeitamente respeitável no campo da doutrina e do exercício intelectual. Mas a realidade é outra e até podemos conceder, comezinha. Estamos hoje inseridos num desconhecido e ainda inconsistente projecto europeu ainda mais vasto que aquele que a Europa conheceu durante o período da Roma Imperial. A nossa Monarquia deve chegar como garantia da perenidade daquilo que verdadeiramente interessa: a nossa identidade cultural, hoje ainda mais alargada, dinâmica e de garantido futuro, dada a felicidade de contarmos com o essencial suporte de um Estado de dimensões colossais, o Brasil. A África lusófona garante-nos uma essencial presença num continente de futuro e o caso de Timor-Leste, estabelece a vital sobrevivência do Português naquela zona do mundo. Num hipotético futuro, um rei Duarte II ou Afonso VII, coroará a república, no sentido verdadeiro do termo histórico e terá na instituição que corporiza, aquilo que é essencial: a funcionalidade do útil. Saibamos aproveitar a História e não comprometamos a instituição real com este ou aquele redutor projecto de uma minoria. A Monarquia é de todos e para todos. Jigme Wangchuck compreendeu. É um homem do nosso tempo.
Nota: sendo a Tailândia/Sião uma monarquia constitucional ainda recente, seria interessante o Miguel proporcionar-nos a sua visão acerca das verdadeiras atribuições da coroa no sistema político-partidário e sobretudo, a essência do seu papel junto da população. Apesar da instabilidade política a que nos acostumou, a Tailândia é naquela parte do mundo, um exemplo de progresso económico e social, paz e de respeito para com as suas ancestrais tradições. Com uma insignificante taxa de analfabetismo, dá que pensar.
"Monarquia e soberania popular"
É isso mesmo!
Fins-de-semana
Sentada na esplanada da Arcada, vejo os passantes relaxados, de sorriso a condizer com o tempo que faz.Vê-se que vão sem pressa, que para isso basta o resto da semana.
Os mais pequenos brincam no jardim em frente, e ouvem-se as suas gargalhadas...
Há que aproveitar, porque está um tempo de luzernas, e , de um momento para o outro, uma nuvem pode muito bem tapar o sol...; será o suficiente para que tudo mude...
sexta-feira, 28 de março de 2008
Fernanda de Castro
E lembrei-me agora dela porque, ao fazer uma busca no Google deparei com um seu poema, num blogue que lhe é dedicado:
Asa no espaço, vai pensamento!
Na noite azul, minha alma flutua!
Quero voar nos braços do vento
Quero vogar nos barcos da Lua!
Vai minha alma, branco veleiro
Vai sem destino, a bússola tonta
Por oceanos de nevoeiro
Corre o impossível, de ponta a ponta
Quebra a gaiola, pássaro louco
Não mais fronteiras, foge de mim
Que a terra é curta, que o mar é pouco
Que tudo é perto, princípio e fim.
Castelos fluidos, jardins de espuma
Ilhas de gelo, névoas, cristais
Palácios de ondas, terras de bruma
Asa, mais alta, mais alta mais
Bonito, não?
Cubanos já podem ter telemóveis
Parece que já estou a ver os comunistas por cá a justificar este acto como de verdadeira preocupação social, exultando os benefícios que comunismo alegadamente traz às populações. Esquecer-se-ão porventura de que até hoje tal não era permitido, o que, não hajam dúvidas, é verdadeiramente democrático e ilustra bem a liberdade que o comunismo promove. Vai na volta os editores do Avante ainda aqui vêm retirar ideias.
Lisboa Arruinada (24) Av. Visconde de Valmor
Federalismo ou regionalismo, tanto faz
A ler este post do Ricardo Arroja de onde destaco o seguinte:
Devo dizer que estou plenamente de acordo, até porque já por várias vezes tenho advogado uma organização pública e administrativa de índole federal (aqui e aqui), à boa maneira de Tocqueville, politizando franjas da população normalmente marginalizadas, cada vez mais distantes do Estado, a não ser pelo sentimento que têm de esmagamento por parte desse, dando a todos os cidadãos a responsabilidade de governar o país de forma sustentada e descentralizada, de baixo para cima, por oposição à portuguesa típica forma de governação de cima para baixo, que tanta asneira tem permitido por aí.
Sobre a descida do IVA de 21 para 20%
O ex-ministro das Finanças, Campos e Cunha, considera que a consolidação orçamental "vai a meio", pelo que a redução da taxa de IVA é um "risco", tendo em conta a situação internacional.
Mas, se se quisesse mesmo baixar impostos, o ex-ministro das Finanças começaria pelo imposto sobre a gasolina porque "este é uma espécie de subsídio das pessoas irem comprar coisas a Espanha".
E com Santana Lopes:
Santana Lopes considerou que "é errado do ponto de vista da gestão económica, da teoria das expectativas, da gestão orçamental fazer uma redução de um ponto na taxa do IVA" e antecipou que o Governo "não vai ficar por aqui" e prepara uma nova descida do IVA para 19 por cento no próximo Orçamento e outra descida "para os 18 por cento" em 2009.
"Era preferível da sua parte, e o seu ministro das Finanças anterior disse-o, fazer uma redução maior de uma vez. Esperar uns meses pela confirmação da consolidação orçamental, nomeadamente na actual conjuntura mundial, e fazer a redução de uma vez", defendeu.
O Governo errou também "ao exigir aos reformados os sacrifícios que exigiu", disse Santana Lopes, sublinhando que o saldo da Segurança Social duplicou nos primeiros meses deste ano. "Devolva aos reformados o que lhes tirou, é isso que devia fazer agora", apelou a José Sócrates.
Gosto ainda de notar a incoerência discursiva socratiana intervalada apenas por cerca de 2 semanas, assinalada pelo João Miranda:
14 de Março: O primeiro-ministro José Sócrates afirmou hoje em Bruxelas que é “leviano e irresponsável” falar em baixar os impostos
Hoje: Governo baixa taxa do IVA de 21 para 20 por cento
Sócrates tem em seu abono o facto de apenas uma minoria se preocupar com estas falhas discursivas e análises políticas, em grande parte representada pela blogosfera, já que a memória do povo é curta e conservadoras como são as massas, tudo o que lhes seja dado é bom, por mais pequeno que seja.
Esta coisa de ir às urnas já em 2009 deve andar a remoer a cabeça do PM, que no entanto se deve sentir preso por ter cão e preso por não ter. São ossos do ofício.
Notas Soltas
Antes de mais tenho que mencionar um especial agradecimento à nossa amêndoa da Páscoa, a Cristina Ribeiro, que seja bem vinda ao Estado Sentido!
Em segundo lugar, agradecer a toda a equipa, aos leitores e aos bloggers pela dinâmica que o Estado Sentido tem atingido, ainda nem com um ano de vida (está a fazer seis meses) e figurando entre os links de muitos blogs, dos quais assinalo por ora os que mais recentemente nos linkaram, o Prosas Vadias, A Verdade da Mentira, o Eclético, o Educação em Portugal, o Diplomata do meu caro Alexandre Guerra, o post de encorajamento do Réprobo, e por último, aquele que considero um dos bastiões do liberalismo na blogosfera, o Blasfémias. Um bem haja a todos!
"Verdes são os campos"
Mas o verde "destes" campos é mais da cor da lima, do que do limão, resultado da chuva que tem caído nos últimos dias.
Aqui, juntinho da Falperra, no termo do concelho de Guimarães, onde, no interior da aldeia, longe da Estrada Municipal, ainda se encontram pedaços daquele "Minho Pitoresco", os carvalhos já se cobriram de folhas nos mais variados tons desse verde. Tão lindo que é o caminho onde outrora se acoitava Zé do Telhado...
Pena é que os nossos autarcas, mancomunados com os depredadores da construção civil, estejam apostados, numa luta desigual, em destruir esta generosidade da Natureza...
Criancinhas
"
Criancinhas
A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.
A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente. A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua. Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher. Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada. A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.
A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal.
E em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».
A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».
Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha?
Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.
"A Devida Comédia", Miguel Carvalho"
O sr. Jing-Tao mentiu e o senhor ministro Pedro inventou!
Segundos depois, tivemos o ministro da presidência a balbuciar um incompreensível arrazoado de desculpas, tendentes a minimizar os danos colaterais causados por uma imprensa e opinião pública em crescendo estado de indignação. Puxou de um patrioteirismo rasteiro e escondeu atrás da "flâmula pára-arranca nacional", a razão de uma mais que certa presença do seu governo na cerimónia inaugural dos Jogos Olímpicos. O brilho cintilante de negócios dourados em perspectiva, ofusca ministros e empresários. Esquecem-se facilmente os princípios, desde que algo de sonante reverta como recompensa por bom comportamento.
Durante quase trinta anos, Portugal fez ouvir a sua voz nas Nações Unidas. De forma insistente, o caso de Timor-Leste foi considerado como um ponto de honra, alegando-se a carta da ONU, o direito internacional, os direitos humanos, ou o aceitável princípio do respeito pelas antigas fronteiras da época colonial.
Temos hoje forças portuguesas no Kosovo, um pseudo-Estado historicamente inexistente, sem qualquer passado de luta pela autonomia. Uma ficção tacitamente aceite - sem dizer que sim ou não - pelo actual governo de Lisboa. Por ele bombardeámos a nossa antiga aliada de 1916, a Sérvia. Usámos munições radioactivas e as nossas autoridades sentiram ter cumprido a missão.
Na cerimónia inaugural dos J.O., creia-me sr. ministro quando lhe digo que nos prestou um enorme favor. Para muitos, muitos portugueses, aquela bandeira que desfilará em V. representação, será apenas a bandeira da república portuguesa. Apenas isso. É pouco. É nada.
Resta-nos a consolação de nesta próxima reedição de Berlim 1936, surgirem umas dezenas de Jesse Owen's que estraguem certas digestões.
quinta-feira, 27 de março de 2008
Realismo, Pedro!
Março de 1982. A nova JM e a primeira reunião
Março de 1982. Recentemente empossada, a nova Concelhia da Juventude Monárquica do PPM, realiza a sua primeira reunião na sede do Partido, na Rua da Escola Politécnica, a S. Mamede. Presidido pelo Miguel, o grupo de trabalho organizou em pouco tempo a escassamente representativa JM, que no âmbito da acção escolar era praticamente inexistente. Antes do fim daquele ano lectivo, já contávamos com importantes vitórias para a associação de estudantes dos mais importantes liceus da capital e a presença sempre em crescendo, de simpatizantes, era notória nos comícios da A.D. O ano de 1982-83 foi vivido freneticamente e os resultados obtidos, surpreenderam pela grandeza e expressão das vitórias, facto para muitos espantoso, pela simples razão da quase total inexistência de recursos para as acções de propaganda que eram próprias daqueles tempos.
Esta introdução, serve sobretudo, como base para a eterna e delicada questão colocada entre os monárquicos e que tem como ponto primordial, o estabelecimento de imaginários - porque impossíveis de fixar - limites da acção tendente a captar aqueles que eventualmente sejam susceptíveis à causa da luta pela mudança da forma de representação do Estado. Conhecendo bem as dificuldades decorrentes do regresso à eterna batalha da "doutrinação", abundantemente prosseguida durante a maior parte do século passado pelos Integralistas e seus dissidentes, será preferível encarar este problema de uma forma mais objectiva, talvez menos sólida sob o ponto de vista conceptual, mas sem dúvida mais consentânea com o nosso tempo.
Recordo-me perfeitamente das longas noites de vigília, onde discutimos até à exaustão os problemas que quotidianamente surgiam nos nossos núcleos, que, é preciso dizê-lo claramente, cresceram de uma forma tão rápida, que se tornava difícil gerir ou viabilizar a sua consolidação nas escolas. Faltavam-nos os meios materiais e assim, a competição directa com as grandes organizações JSD, JC ou JS, tornava-se numa luta desigual e extenuante.
O facto de os símbolos serem fundamentais como polo de atracção e de identificação de grupos, facilitou o nosso trabalho, porque neste campo, as explicações de âmbito "racional", deixavam de ter razão de assim se considerar. Na verdade, a simples apresentação de uma só bandeira histórica, eclipsava milhares de autocolantes ou cartazes dos nossos adversários. Disso o Miguel se apercebeu rapidamente e a direcção da propaganda foi criteriosamente orientada para um aproveitamento e distribuição de meios que possibilitassem a máxima visibilidade. Os resultados foram bons e muito acima das primeiras expectativas. O Directório do PPM - recordo-me muito bem de um exultante Ribeiro Telles e do encorajamento de Luís Coimbra, Ferreira Pereira, Borges de Carvalho, Ferreira do Amaral e Barrilaro Ruas -, estava estupefacto com o sucesso obtido de uma forma aparentemente tão fácil e inesperada. Nada se deveu ao acaso ou a uma moda passageira, explicável pela novidade de uma organização moderada e que apelava ao patriotismo.
Na realidade, e embora fossemos extremamente jovens, verificámos de imediato que a explicação do retumbante êxito da JM e do correspondente afundamento dos nossos rivais se devia essencialmente, ao grande poder de atracção exercido pela Monarquia - sem que aqui seja curial sedimentar princípios, doutrinas ou programas -, como polo aglutinador de vontades. O esvaziamento do eleitorado liceal da JSD/JS/JC devia-se sobretudo a uma escolha entre a imaginária, porque pouco consistente fidelidade "partidária" e a opção clara por aquilo que é substancial, mesmo que na aparência peque por alegada irracionalidade. Não era necessário explicar o porquê de se declarar monárquico e sinceramente, ainda hoje creio que a esmagadora maioria daqueles que aberta ou solitariamente se revêm nestas cores, não precisam de qualquer justificação. Crêem, é tudo. Se aparentemente pode isto remeter-nos para o saguão das inutilidades - criado pelos chamados intelectuais cuja única função reside na anulação do querer e vontade daquilo a que depreciativamente chamam "povo" ou "homem comum" -, talvez não seja extemporâneo afirmar encontrar-se aqui a grande força que possibilita aqueles momentos únicos da História, onde os acontecimentos conduzem as sociedades a desenlaces inesperados e que podem surpreender. A verdade é que aos vinte anos já compreendiamos que a "Monarquia" cortava transversalmente toda a sociedade, estilhaçando afinidades clubísticas ou partidárias, unindo vontades e fazendo esmorecer diferenças, fossem elas de âmbito educacional ou de pertença a "classe". No entanto, deparámos com o paradoxo de um Partido que sendo inegavelmente pioneiro na modernidade das suas propostas de reorganização do país e do Estado - eram bem conhecidos os livrinhos publicados pelo PPM, sobre a agricultura, ambiente, urbanismo, política externa ou reordenamento territorial e que eram praticamente copiados pelos staff dos grandes partidos do poder -, enfermava também, daquilo a que rapidamente denominámos de "vertigem do reposteiro-mor". Isto quer simplesmente dizer que por aquela sede passavam personagens absolutamente setecentistas, onde o apego aos "valores do fado", "touradas reais", costadismos e brasonites de outrem, eram o ponto de honra e identificativo de pertença à casa. Era desesperante o simples e necessário trabalho de sede, o local ideal para reuniões e preparação de acções de rua. Tendo a JM atraído jovens que em muitos casos estavam habituados às sedes dos seus próprios partidos - fossem eles o psd, o ps ou o cds -, tornavam--se embaraçosas as constantes interrupções feitas por alienígenas clamando por ..."é preciso doutrinar"..., imiscuindo-se na concepção de um mero cartaz, enrubescendo as calvas por causa de castelos em pé ou caídos no escudo nacional, esperneando pela bandeira branca ou liberal e outras transcendências do estilo. As tiradas à Sardinha, a evocação deste ou daquele homem santo, os mistérios do V Império, as profecias do Bandarra e obrigatoriedade da leitura das Razões Reais - e aqui ressalvo toda a consideração que Mário Saraiva merece -, eram o polo negativo que sendo tão exótico e bizarro, se tornava na imagem de marca da organização sénior. E isto muito injustamente, porque na verdade, Telles e a sua equipa tinham um projecto que ia muito além da discussão da forma de representação do Estado.
O PP era um partido que também era M por opção. Quase ninguém disso se apercebeu e estou apenas a referir-me aos "monárquicos" que inacreditavelmente, muito se surpreendiam pela existência de correligionários - termo que no PPM se equiparava aos camaradas no PC e PS - em todos os outros partidos! Os "netos do conde de Chambord", como gostosamente lhes chamávamos, viviam no planeta das pirites, das ortotenias, dos jogos do pau e das lutas de galos. Creio que hoje em Portugal, só uma parte do BE possuirá características em tudo semelhantes aqueles preclaros e auto--conceituados massas cinzentas, como muitas vezes se declaravam a quem os quisesse misericordiosamente escutar.
Desde cedo concluímos também, que os considerados homens inteligentes da nação, eram muito hábeis na simples manipulação dos números e preocupações comezinhas do dia a dia, mas de uma total vacuidade na transmissão de algo que se situasse para além de um suposto evento a acontecer dentro de horas ou dias. Assim, a massa susceptível de se interessar por algo que não se limite a superficialidades de um consumismo aliciante, torna-se inevitavelmente muito restrita a uma mão cheia - passe a expressão - de esclarecidos e talvez, de verdadeiros conformadores e organizadores daquilo a que chamamos coisa pública. E esses, infelizmente, estão hoje numa total dependência de um sistema que os alimenta e garante lugares melhor ou pior remunerados. Em 26 anos nada mudou, nem mesmo o recurso às novas tecnologias que se democratizaram o acesso à informação, acabaram também por alargar enormemente, a transmissão dos desígnios dos grupos mais poderosos que a controlam.
O Partido Monárquico é impossível e totalmente indesejável. Ainda há poucas semanas, quando da votação da moção parlamentar relativa ao regicídio, não nos surpreendemos por aquilo que se passou no parlamento. A chamada Direita votou em bloco, é "claramente permeável". A Esquerda votou contra, mas as dúvidas foram evidentes. A dois deputados do PS - que são "correligionários", como dizíamos -, perguntei o porquê daquele estúpido voto negacionista. O "teve que ser", o "não tem importância por agora", coincidiam perfeitamente com a desejável disciplina partidária. No entanto, declararam-me também, que essa disciplina não é extensível ao dia de um hipotético referendo nacional, nem sequer a uma eventual emenda ou resolução parlamentar num momento de crise. Têm toda a razão! É isto que os "monárquicos" precisam de entender e de uma vez por todas. Porque o seu desejo de Restauração, é tão válido e tão precioso como o do seu adversário de clube ou de partido. No entanto, é também necessário o apresentar de soluções para os problemas do país, sejam eles de ordem constitucional - hoje bastante degradada e à beira do fim de ciclo -, ou de ideias - dentro ou fora dos partidos em que os monárquicos se revejam - tendentes à nossa consolidação como nação que após o encerramento de cinco séculos de império, ainda procura o seu espaço e destino.
O que ficou daquela década de acção? Alguma coisa. Ainda hoje são monárquicos aquelas dezenas de colaboradores constantes, muitos dos quais são frequentadores da blogosfera. Outros há que são deputados, juízes e presença habitual em jornais e televisão e que jamais renegaram "a causa". É com orgulho que recordo o também longínquo verão de 87, em que aquele núcleo que formara quatro anos antes a NM, acabou por salvar a campanha eleitoral do CDS de Adriano Moreira, vítima da fuga dos seus militantes abismados pela avalanche cavaquista. Valeu a pena. Continuámos o caminho aberto por Telles nos anos sessenta que desfez muitos preconceitos e mentiras. Sem isso, existiria um hiato intransponível.
Este texto é uma explicação. Tenho recebido muitos e-mail com apelos ao ressurgimento imediato da Nova Monarquia, que como é evidente, jamais poderia ser a mesma de há vinte anos. O mundo mudou e nós também. A eleição de Paulo Teixeira Pinto para a presidência da Real, foi talvez um ponto essencial num virar de página da história de uma causa-sem-efeito. A sua acção já se fez sentir. Seria uma deslealdade o surgimento de uma organização paralela, até porque PTP possui qualidades sobejamente reconhecidas - o Prós e Contras demonstrou-o -, para captar a atenção de muitos. O tempo o dirá.
Tomaz de Figueiredo.
Fausto, morro de amor pelos meus livros, pelos romances que pensei, fugidos, perdidos e sumidos... («Viagens no meu Reino» )
Dele diz João Bigotte Chorão: "Não era Tomaz de Figueiredo, como Raul Machado, um gramático, um filólogo, um erudito, um especialista- era um escritor, um cavador de palavras, um servidor do idioma. O que lhe faltaria em ciência académica, sobejava-lhe em intuição e amor..." e, no «Dicionário de Literatura», acrescenta David Mourão Ferreira: "Prodigioso evocador do passado, em verso e prosa, grande poeta da memória, Tomaz de Figueiredo consegue aliar a muitos rasgos temperamentais de raiz romântica uma disciplina clássica (...). Integra-se numa tradição tipicamente portuguesa da qual terá sido Camilo, antes dele, o mais alto expoente.
Pois bem, é este quase conterrâneo- nasceu em Braga, a 6 de Julho de 1902, embora bem cedo tivesse ido viver para Arcos de Valdevez-, que até há bem pouco tempo desconhecia. Foi-me "apresentado" pelo blogue Futuro Presente e, na resposta a um comentário, o autor do post aconselhou-me a começar a leitura da sua obra por «A Toca do Lobo»...; descobri então um escritor de mão-cheia, a quem, ainda nas palavras de Bigotte Chorão, "O instinto da língua, por um lado, e o seu trato com o falar do povo e a obra dos clássicos, por outro, deram um raro conhecimento do português, nas suas expressões mais populares e mais eruditas..."
quarta-feira, 26 de março de 2008
O Irão republicano
(foto roubada ao nosso amigo Réprobo)
As pequenas misérias do " hexagone"
"Nicolas Sarkozy terá aprendido a sua primeira lição: que não consegue fazer grande coisa sem a boa vontade de Berlim"
Teresa de Sousa, em o Público de hoje
Porquê o apego a esta bandeira?
Mas seria com a leitura do post "Nacionalismo e Monarquia", datado de 3 de Maio de 2006, que me iria identificar com o pensamento daquele que fundou e dirigiu, durante anos, a revigorante "Nova Monarquia"; nutria, desde há muito, um sentimento pouco definido acerca da superioridade do regime monárquico, tendo sido essa leitura, depois complementada por outras aqui na blogosfera, que viria a cimentá-lo, adquirindo assim uma certeza fundamentada de que era este o regime que mais nos convinha, pois que a não ligação do Rei a um partido político era, indubitavelmente, a maior garantia de independência na prossecução do único objectivo que deve nortear a acção do Chefe de Estado: o interesse nacional, sem dever nada a quaisquer ideologia...
Ora, o total esclarecimento dos portugueses, que lhes permitirá escolher, em consciência, o regime que melhor lhes pode servir, só será alcançado com debates sérios, na linha daquele a que assistimos há dias na televisão pública, o qual se distinguiu pela serenidade e elevação, indispensáveis a uma suficiente elucidação, permitindo assim o desfazer d'alguns mitos bolorentos, como seja o de que a Monarquia é incompatível com a Democracia e a Liberdade: tudo o que uma moderna Monarquia Constitucional não é, claramente...
E, quem sabe, talvez um dia não muito longínquo, possamos ter entre nós um novo D, Pedro V, Rei reconhecidamente empenhado na modernização e desenvolvimento da Nação, como Chefe d'este Estado, que tão vilipendiado tem sido...
A actual Bandeira do Brasil e a sua origem
Decreto de 18 de setembro de 1822:
"Hei por bem, e com parecer do meu Conselho de Estado, Determinar o seguinte: Será de ora em diante o Escudo das Armas deste Reino do Brasil, em campo verde, uma Esfera Armilar de ouro atravessada por uma Cruz da Ordem de Cristo, sendo circulada a mesma Esfera de dezenove Estrelas de prata em uma orla azul: a firmada a Coroa Real diamantina sobre o Escudo, cujos lados serão abraçados por dois ramos das plantas de Café e Tabaco, e ligados na parte inferior pelo laço da Nação.
A Bandeira Nacional será composta de um paralelogramo verde, e nele inscrito um quadrilátero romboidal cor de ouro, ficando no centro deste o Escudo das Armas do Brasil.(…)" A bandeira foi usada por pouquíssimo tempo, entre 18 de setembro até 1º de dezembro de 1822. O projeto da bandeira foi do então Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, juntamente com Jean Baptiste Debret, desenhista e pintor de grande renome no Brasil entre 1816 e 1830.
"Nossa primeira bandeira nacional sofreu uma modificação após quase três meses de existência, transformando-se na Bandeira Imperial do Brasil em 1º de dezembro de 1822: "Havendo sido proclamada com a maior espontaneidade dos povos a Independência política do Brasil, e sua elevação à categoria de Império pela minha solene aclamação, sagração e coroação, como seu Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo: hei por bem ordenar que a Coroa Real que se acha sobreposta no escudo das armas estabelecido pelo meu imperial decreto de 18 de setembro do corrente ano, seja substituída pela Coroa Imperial, que lhe compete,a fim de corresponder ao grau sublime e glorioso em que se acha constituído este rico e vasto Continente".
Criada por Decreto de 18 de setembro de 1822, era composta de um retângulo verde e nele, inscrito, um losango ouro, ficando no centro deste o Escudo de Armas do Brasil. Assistiu ao nosso crescimento como Nação e a consolidação da unidade nacional.". Foi a bandeira do Brasil até 1889.
Este pequeno texto é dedicado aos meus amigos Berson e Júnior, que tendo manifestado algumas dúvidas acerca das origens da bandeira brasileira, pretendiam saber algo mais. Não sou especialista no tema - sou um monárquico bastante atípico -, mas na verdade, as explicações acerca de cores e símbolos, vão variando desde a origem da concepção dos pendões, até ao momento em que por eles nos interessamos. Afinal, parece que o verde não representa a Amazónia e o amarelo, nada tem que ver com o ouro de Minas. Pelo que o texto diz, a explicação é bem mais lógica e insere-se na época em que surgiu o símbolo do novo império independente de Portugal. As escolas de samba podem ficar descansadas, porque exibem até à exaustão, as cores dos Bragança e dos Habsburgo e têm toda a legitimidade para o fazer. Ou não será o Brasil o natural herdeiro de um Portugal nascido há quase nove séculos?
Há ainda que referir que por cá, verificamos o mesmo tipo de argumentação eivada de bucolismos e sentimentalismos que roçam a pieguiçe. Sabemos bem de onde vem o verde e o vermelho, que não derivam nem da Esperança, nem de qualquer Sangue derramado. É o terrorismo da manipulação da história. Neste caso, é reconfortante o esconder da realidade das coisas, porque assumir abertamente o símbolo da Carbonária, seria demasiado descaramento.
terça-feira, 25 de março de 2008
Notas Soltas
Público com ligações para blogs que citem as suas notícias
Parabéns Corcunda
segunda-feira, 24 de março de 2008
Sentido
Há alturas em que nem tudo faz sentido, outras há em que tudo faz sentido algum e outras ainda em que nada parece fazer sentido, numa espécie de experiência extra-sensorial, como se a qualquer momento fôssemos acordar de um pesadelo. O que importa agora é realmente encontrar o sentido a seguir ao encerrar de um ciclo, que de forma arrasadora se precipitou no dia da ressureição de Cristo. Até sempre meu tio-avô, encontramo-nos daqui a alguns anos do lado de lá, espero que todos juntos de vez. Até lá, que Deus dê descanso à sua alma, junto daqueles que sabemos.
Olimpíadas chinesas e jogos de guerra
Para o ocidental que a caminho do trabalho, aproveita a viagem de comboio ou de metropolitano, para ler o seu jornal diário, a China habituou-o a preencher um substancial espaço na procura da informação. Se o valor do Yuan é ainda um dado praticamente desconhecido na Europa e nos EUA - os grandes impulsionadores do turismo planetário -, a avalanche de produtos que inundam as prateleiras das lojas, as parangonas noticiosas de um crescimento económico infrene, ou, no reverso da medalha, as execuções televisionadas, fizeram do Império do Meio, o centro de muitas esperanças e de outros tantos receios. De facto, se aquele país é hoje um verdadeiro sinónimo de "negócios da China" - mais uma vez esta expressão do Portugal de Quinhentos está presente nesta nova globalização -, por outro lado, parece atrair os medos inculcados por um passado de invasões amarelas em direcção a Ocidente. Átila e os seus hunos, Gengis Khan, Tamerlão, a Horda de Ouro, o imperador Chin, Kublai Khan e, já nos nossos dias, o Grande Timoneiro Mao, confirmam lendas de violência, depredação de terras ancestrais, colonização e tributagem forçada.
A China, esse grande dragão do sempre enigmático, maravilhoso e imprevisível Extremo Oriente, é para a generalidade dos ocidentais, capaz do melhor e do pior. Possibilitou ingentes lucros à talassocracia portuguesa do século XVI, carregando as naus com sedas, lacas, porcelanas e uma infinidade de outros luxos até então inacessíveis, mas não conseguiu evitar a amplificação extrema das notícias dos métodos de governo da sua gigantesca sociedade. Termos como "tortura chinesa", "despótico como um mandarim" ou "chinesice", matizavam uma opinião que da admiração pela sua civilização, passava para uma radical recusa de uma alegada brutalidade e crueldade em que assentava o grande império. Quando da Guerra dos Boxers (1899-1900), o kaiser Guilherme II - desde sempre o arauto da Europa, alertando quanto ao perigo amarelo -, foi um entusiasta da operação punitiva, que reunindo tropas alemãs, inglesas, francesas, russas e japonesas, fez vergar o governo da imperatriz Tseu-hi, não podendo imaginar que selava também, o destino de mais de quatro milénios de sistema imperial. Foi também, um momento crucial para uma imagem que os ocidentais deixaram indelevelmente marcada a ferro e a fogo. Para muitos chineses, somos os representantes daqueles que entraram de roldão em Pequim, incendiaram o Palácio de Verão - uma das maravilhas da cultura da corte dos Qing- e causaram morticínios e depredações que ficaram para sempre na memória. E tudo isto, em nome de uma Civilização. A fotografia do embaixador francês refastelado no trono imperial da Cidade Proibida, foi para muitos, a prova de total desprezo e arrogância de um poder branco que urgia eliminar.
A história chinesa do século XX é bem conhecida e se as primeiras décadas pareciam consagrar o seu desaparecimento como unidade estatal e territorial, a conquista do poder pelos comunistas, iniciou um processo que em menos de cinquenta anos, fez evoluir o país de um comunismo ruinoso e para muitos com laivos genocidas, para uma pujante economia de mercado, tão mais surpreendente, porque promovida pelo próprio regime de corte estalinista, ainda no poder.
Tal como a Ibéria - termo que povoa algumas mentes menos esclarecidas -, a China não é mais que uma expressão geográfica e não será muito arriscado afirmar, que se trata do nome de uma particular região daquele imenso conjunto territorial, que mercê das contingências da história - e também da força do seu poder imperial estabelecido durante séculos em Pequim -, acabou por dar o nome ao Estado. Com fronteiras bastante indefinidas, onde os jogos de submissão, vagas suseranias, ou reivindicações jamais reconhecidas eram uma constante que confirmava o enigma, a China foi sempre para os ocidentais, um caso inextricável. A sua real força e capacidade de intervenção, foram nos últimos quinhentos anos, secundarizadas pela primazia tecnológica militar dos europeus e assim, enquanto durante séculos apenas existiu uma presença portuguesa no seu território - Macau -, a revolução industrial de oitocentos, trouxe o imenso mercado chinês, para o centro das disputas, onde os banqueiros e industriais, faziam parcerias com técnicos militares, no sentido da obtenção de um quinhão substancial. Na realidade, os primeiros grandes confrontos bélicos do século, tiveram início naquela região do globo, que viu pela primeira vez, uma grande potência europeia ser derrotada por um império asiático que de uma forma tonitruante, fez ouvir a sua voz em todas as chancelarias. A Guerra Russo-Japonesa focou a atenção de todos para uma Ásia que até então, era considerada como um destino para militares em comissão, mercadores em busca de pechinchas, ou de artistas deleitando-se com um apetecido exotismo.
Os governantes de Pequim, terão certamente, a plena consciência das dificuldades inerentes ao governo de um colossal território povoado por biliões que não se entendem por uma língua, tradições e interesses comuns. Um manchu é tão chinês - no sentido mais restrito do termo - como um alsaciano é francês. Desta forma, a fuga para a frente movida pelo progresso e bem estar económicos, parecem criar a ilusão de uma rápida fusão de comunidades que não podem deixar de estar unidas, senão por um mútuo interesse no acesso a uma vertiginosa sociedade de consumo que não encontra paralelo neste início do século XXI.
Os inflamados discursos patrióticos, entremeados de grandes paradas militares galvanizadoras da fidelidade a uma história milenar - recordemo-nos da fidelidade dinástica aos Habsburgo em 1914-18 -, permitem oferecer uma imagem interna que o regime desesperadamente procura transmitir aos forasteiros. No entanto, os meios de informação que as sociedades liberais ocidentais hoje possuem, são de molde a tornar mais nítida, uma fotografia convenientemente retocada pelos peritos da propaganda do PCC. O simples e já imprescindível telemóvel empunhado por um turista demasiadamente curioso, pode a trazer ao conhecimento de centos de milhões, as cargas policiais, os espancamentos, ou o deprimente espectáculo das execuções "tiro na nuca" nos estádios de futebol. Os acontecimentos no Tibete, sempre endémicos, tornam-se hoje muito mais visíveis e os Jogos Olímpicos, poderão ser para o governo de Pequim, um assunto que concilie o melhor e o pior. Se são susceptíveis de se tornarem num poderosíssimo veículo de propaganda - Berlim 1936 foi um bom exemplo -, poderão ser igualmente, uma oportunidade excelente para as muitas oposições que terão uma ocasião de ouro para se fazerem ouvir.
O perigo não reside tanto no grupo Falungong ou em alguns milhares de estudantes amotinados. Para lá do Estreito da Formosa, existe um Estado que sendo considerado como "parte da China" por Pequim, é na realidade, uma entidade perfeitamente autónoma e já há mais de um século separada do continente. Não nos poderíamos surpreender, se Taiwan aproveitasse o momento para declarar unilateralmente a sua independência. Uma reacção militar continental, seria impensável nos meses em que todas as atenções estariam voltadas para Pequim e decerto, já mais para o fim do ano, uma situação de facto, poderia muito bem tornar-se para o mundo, num típico caso de jure. Mas, até quando?
Uma tarde tórrida e um gigante em Moçambique
Na foto, a minha mãe com a Ângela, o meu irmão Miguel que olha desconfiado e eu próprio, encadeado com a luz ofuscante do sol austral. Mais uma foto com história (já anteriormente publicada pelo Miguel). Não podíamos imaginar que uns poucos anos depois, abandonaríamos aquela terra, varridos por "ventos de uma certa história", soprados de Portugal e de outras bem identificadas paragens deste mundo.