quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Aproxima-se o 5 de Outubro

Aproxima-se mais um feriado nacional, desta feita um que se dispõe a emotivas interpretações, já que se trata do dia em que há 97 anos foi proclamada a 1.ª República.

Ainda com a questão de Aquilino como pano de fundo, o texto de Fernanda Câncio no pensamento, e a brilhante resposta de Pedro Picoito, irónico é o facto de ter recebido e-mails exortando à assinatura de uma petição online que pretende tornar o dia 1 de Fevereiro, data do regícidio de 1908 que vitimou el-rei D. Carlos e o príncipe D. Luís Filipe, em feriado nacional.

Alguns dizem que esta (5 de Outubro) é uma comemoração de maçons, e recusam-se a participar em tais celebrações. Uns tantos monárquicos cospem na cara da República. Outros, como os representantes oficiais do Estado, exaltam os portugueses a comemorar este advento.

Mas a maioria apenas se contentará por não ter que ir trabalhar.

A maioria, se não souber, também não se importará em saber qual é o motivo deste feriado.

E a maioria da minoria que saberá a que se deve este feriado, também não se importará com as degladiações de argumentos entre as diversas forças políticas desta 3.ª República, porque já está demasiado cansada para continuar a ouvir os recorrentes e repetitivos discursos reproduzidos sempre com uma toada messiânica de salvação da Nação.

E mesmo a maioria da “iluminada” minoria que (des)governa este Estado-nação nem sequer saberá como caricatamente se processou a Revolução de 5 de Outubro de 1910. Não falo dos antecedentes da Revolução, mas do próprio dia dessa, em que o Embaixador Alemão negociou com as tropas monárquicas e republicanas um período prévio ao ínicio das hostilidades, para que pudesse retirar com segurança os seus conterrâneos que se encontravam na cidade, e ao passar com bandeiras brancas pelas tropas republicanas, precipitou essas e o povo que se encontrava em casa, a proclamar a República, tornando-se o movimento demasiado numeroso para ser minorado pelas tropas monárquicas., que acabaram por se render.

Uns quantos republicanos que por aí se exprimem em desfavor do regime monárquico vigente até então, esquecem-se que, apesar dos ideais de educação e desenvolvimento do país que presidiam ao pensamento romântico dos pais fundadores da 1.ª República, essa tornou-se um período que se pautou pelo gangsterismo, em que o factor rua ditava quem estava quem no poder, sem esquecer ainda a marcante instabilidade governativa e social (em parte fruto também de um conturbada época no ambiente internacional, de que é ilustrativa a Primeira Guerra Mundial).

Uns quantos monárquicos que por aí se pavoneiam como gente de bem, esquecem-se que deviam falar menos nas suas “nobres” origens de sangue, e agir mais revestidos da única nobreza que ao verdadeiro Estadista interessa, a de espírito, como Paiva Couceiro, o último homem a lutar em Portugal pela recuperação da instituição monárquica.

Porque a democracia não deve ser um maniqueísmo absoluto entre perspectivas, é preciso reconhecer as virtudes e defeitos dessas, o que implica conseguir congregar visões e tendências contrárias, não agradando a gregos e troianos, mas chegando a um patamar de um sentido de Estado superior à perspectiva que lhe rogue temporárias linhas de orientação, em que um projecto representativo de um colectivo interesse da Nação possa presidir à orientação geral do poder.

Porque Portugal se afunda em demagógicos debates desprovidos de verdadeiras alternativas e linhas de acção de longo prazo, é necessário reflectir.

Porque a Revolução de 5 de Outubro de 1910 não marca apenas a proclamação da República, mas de forma ainda mais importante, marca o fim de mais de 650 anos de monarquia.

Porque 5 de Outubro de 1910 não é apenas o dia de uma qualquer Revolução, mas sim o dia da maior revolução política do Portugal do Século XX, reflictamos verdadeiramente sobre o que somos e o que queremos...

Um comentário:

Anônimo disse...

«Alguns dizem que esta (5 de Outubro) é uma comemoração de maçons, e recusam-se a participar em tais celebrações. Uns tantos monárquicos cospem na cara da República. Outros, como os representantes oficiais do Estado, exaltam os portugueses a comemorar este advento.

Mas a maioria apenas se contentará por não ter que ir trabalhar.

A maioria, se não souber, também não se importará em saber qual é o motivo deste feriado.

E a maioria da minoria que saberá a que se deve este feriado, também não se importará com as degladiações de argumentos entre as diversas forças políticas desta 3.ª República, porque já está demasiado cansada para continuar a ouvir os recorrentes e repetitivos discursos reproduzidos sempre com uma toada messiânica de salvação da Nação.»



Uma palavra - delicioso.

De facto...a maioria da população fica feliz sim mas tor ter um fim de semana prolongado...se fizeres um pequeno inquérito a uma amostra da população, sabes perfeitamente que a grande parte não sabe nada dos factos históricos que a "minoria da minoria iluminada" domina, e arriscar-te-ás ainda a ouvir disparates do género : "é o dia dos cravos não é?" ou " é o dia da independência".
È um cenário triste, é um cenário alarmante... e a mim, mais do que apologias, debates ideológicos sobre qual a melhor forma de regime para governar o meu país, porque sinceramente, não tenho uma opinião suficientemente formada sobre o assunto, nem ache que vá ter nos próximos dez anos... a mim o que me preocupa seriamente é a visão educacional de quem está por baixo de quem governa. O caminho para a sonhada mudança, para o desejado re-erguer lusófono não passa a meu ver por cuspir na cara de um acontecimento histórico nem por lutar contra uma forma de regime ou posição politica, passa sim, por educar pessoas, formar cidadãos, esse sim, seria o caminho...deixar escolher quem vive no meu território... não me cabe a mim, minoria intelectual julgar-me suficientemente iluminada para pegar neste país e centralizar o poder nas minhas mãos, a titulo de ´déspota, e tentar, achando-me capaz, de levar este barco lusitano a bom porto... nem me cabe a mim, inscrever-me numa juventude partidária, com intuito de daqui a uns anos, com mecanismo antigos como a velha instituiçao reinante "cunha", chegar a um posto importante, e continuar a alternar-me no actual sistema de rotatividade de catch all parties... se no meu país, 90% das pessoas fossem educadas e responsáveis pela participação civica, tivessem uma plena consciência da responsabilidade civil, do que é viver em sociedade, do altruismo que isso significa ter... talvez as coisas tivessem um principio , um caminho aberto para a tão ambicionada mudança... mas isto é utópico demais não é? Isto ainda provem de uma mente jovem com muito que aprender na vida. È pena que ao longo de anos de experiência de vida se vão perdendo concumitantemente os valores mais exímios da entidade humana.


Vera Matos