quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Contradições...

...Ou está tudo literalmente doido?

"Às vezes alguém chega a um ministério e começa a movimentar todo o mundo para trazer o partido quase todo para tornar-se proprietário desse ministério; isso não pode ser, não pode ser que algum partido pretenda que esse território seja seu. É preciso jogar tudo isso na lata do lixo. E como vamos fazer isso? Construindo o Grande Partido Socialista Bolivariano e Revolucionário, unido de verdade."

Hugo Chávez in Diplomacia Estratégia Política, nr. 6, Abril/Junho 2007

Ah já percebi, a diferença é que já não haverão facções e se eliminarão outros partidos que potencialmente poderiam vir a tomar o Poder. Agora será só um grande partido que se apropriará e não mais sairá do poder, vão ser todos unidos de verdade. Qualquer semelhança com o 1984 de Orwell é pura coincidência.

Governantes e governados na América Latina

"Há muito pouco tempo estive em Paris, reunida com os principais dirigentes políticos, tanto governistas quanto oposicionistas no Parlamento, no Poder Executivo, na oposição. E a pergunta recorrente era o que estava acontecendo na América Latina depois que em numerosos processos eleitorais surgem as figuras de Kirchner, Bachelet, Evo Morales, o Presidente Chávez, aqui no Equador o Presidente Correa. E eu respondia que pela primeira vez, na América Latina, os governantes se parecem com os governados."

Cristina Kirchner in Diplomacia Estratégia Política, nr 6, Abril/Junho 2007.

Pergunta: mas o que é que isso significa? e isso é bom ou mau?

terça-feira, 27 de novembro de 2007

A diplomacia tem destas coisas

Mugabe diz que estará presente na Cimeira UE/África, em reacção Gordon Brown confirma a sua ausência. Porém outro Brown, o Ministro para os Assuntos Africanos, deverá representar o Reino Unido (vide aqui).

A ler isto.

Pergunto-me o que será que Madrid e Londres pensarão de Portugal por estes dias com a "simpatia" demonstrada por Chávez e Mugabe...

Nesta prática a teoria funciona mesmo

PS e PSD acordam revisão da lei eleitoral das autarquias para aplicar em 2009.

E preferem para já não divulgar o conteúdo do acordo. Nesta prática, a teoria dos partidos do centrão que se vão alternando e combinando nas mais diversas matérias está bem de acordo com a realidade.

Sugestões de leitura

"Kaplan diz como é" no Futuro Presente por Jaime Nogueira Pinto.

"Are We All Lockeans now?" por Edward Fesser.

A entrevista de Zbigniew Brzezinski à Foreign Policy.

A entrevista de Fadel Gheith, analista energético de Wall Street, à Foreign Policy, da qual destaco:

"That’s exactly what I’m focusing on. I truly believe that major investment banks and a large number of very high-risk-taking financial players have seized control of the oil markets, especially in the last six months. During that time, oil prices moved in one direction and market fundamentals really moved sideways or even lowered. Demand has slowed down significantly. We have seen all kinds of indications that we are reaching a breaking point here. We’ve seen what happened to gasoline margins on the West Coast; they’ve dropped to an almost 18-year low. All this is an indication that something is wrong with the system, that supply and demand fundamentals do not justify the current price. But if the current price is based on speculation, there is no limit to how high oil prices can go. Basically, as long as there is somebody willing to bid higher, the price of the commodity will move higher."

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Diz que é uma espécie de petição

Existe por uma petição pelo "Não ao Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa". Nem sequer é um não à Ratificação do mesmo.

A questão do Acordo Ortográfico, assinado há mais de década e meia, tem sido particularmente mal gerida, não só pelas Necessidades (basta lembrar que Portugal é depositário dos instrumentos de ratificação), mas também a nível interno, pelos governos portugueses, nao conseguindo aplacar as exigências dos agentes sociais e económicos envolvidos no processo. Aqui parece haver poucas dúvidas, e é uma questão que possivelmente irei desenvolver em breve.

A pressão internacional que tem vindo a ser exercida sobre Portugal para ratificar o II Protocolo Modificativo (sim, caros peticionários, há dois), principalmente por parte do Brasil, colocou definitivamente o AO na agenda do dia, com o surgimento de lóbis (olha uma palavra que foi alterada) pró e anti-AO.

Nada contra, até se costuma dizer que é um sinal de maturidade da sociedade civil.

Contudo, esta petição não passa de uma aberração. Se fosse apenas mais uma manifestação do que Castells apelida de autismo electrónico ficava-me por aqui. Mas o objectivo é apresentá-la ao MNE.

Ora atente-se na sintaxe e na retórica da mesma:

Exmo. Sr. Ministro Luís Amado, tivemos conhecimento que é suposto ser aprovado, até ao final do ano de 2007, o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, nesse acordo será, alegadamente, alterado 1,6% do nosso vocabulário. Os signatários desta petição não concordam com a aprovação desse Protocolo, não querem que a Língua Portuguesa, tal como os portugueses a conhecem, seja alterada, exigimos que seja preservada a nossa Língua. Não faz qualquer sentido que este protocolo seja aprovado. Nós não queremos escrever palavras como 'Hoje', 'Húmido', 'Hilariante' sem 'h', não queremos escrever palavras como 'Acção' sem 'c' mudo nem palavras como 'Baptismo' sem 'p' mudo. Queremos continuar a escrever em Português tal como o conhecemos agora. E, tendo em conta o supra exposto, esperamos que o Exmo. Sr. Ministro faça com que este Protocolo não seja aprovado.

E ainda em alguns comentários dos signatários, encontram-se pérolas como:

Mas somos portugueses e temos orgulho na nossa cultura ou somos bestas preguiçosas?

ridiculo (e o acento, caro purista da língua portuguesa?)

Li, e concordo... E muito menos em vez de escrever História, passar a escrever Estória... (tem graça, pensava que até era uma palavra que já existia...)

Ou a minha favorita: "nós somos a língua mãe, não eles!"

Haja paciência...

Boa noite e até amanhã

Por entre cenários de novela brasileira passei este fim-de-semana, longe de computadores, internet e televisão, visitando uma pitoresca cidade cuja fundação remonta ao Brasil colonial, recuperando energias para enfrentar o que falta da minha estadia aqui por Brasília, principalmente testes e trabalhos, enquanto pouco vai faltando para regressar a esse país que se encontra no centro do Mundo, pelo menos na visão Ocidental.

Engraçado como mesmo ao fim de tanto tempo, em Pirenópolis ainda se realizam festas e recriações das lutas entre Mouros e Cristãos, uma tradição cujo legado me parece implicitamente português.

De regresso a esta cidade expoente mundial do modernismo arquitectónico, fico a saber que Pulido Valente desancou Sousa Tavares, que a Ordem dos Advogados se insurge contra o vínculo dos magistrados à função pública, considerando que se trata de uma "descaracterização perigosa das funções judiciárias e judiciais", enquanto “O Caso do Advogado Contratado Duas Vezes” bem poderia ser o nome de um novo romance policial à la Agata Christie, que até poderia ter Pinto Monteiro interpretado pela personagem de Hercule Poirot.

Entretanto Menezes lá vai tentando fazer alguma oposição, declarando que o Governo não tem mão nos directores-gerais, em resposta ao Inspector-Geral da Administração Interna que “considerou também que há “muita ‘cowboyada’ de filme americano na mentalidade de alguns polícias”, “muito gosto na exibição da pistola”, e que os “problemas mais graves” verificam-se na área de intervenção da GNR, “com perseguições policiais iniciadas por motivos inadequados”.

Via Politicopata, e pelo Correio da Manhã fico a saber que Cavaco Silva se interroga sobre “Por que é que nascem tão poucas crianças? O que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?” e declara que “Eu não acredito que tenha desaparecido nos portugueses o entusiasmo por trazer novas vidas ao Mundo”.

Portanto falta pouco menos de um mês para regressar ao faroeste português, com supostas escutas ilegais, disputas ridículas entre alguns considerados intelectuais, classes que não querem perder os privilégios em relação aos demais (e eu que julgava que a luta de classes marxista era coisa do século passado), polícias que vêem demasiados filmes de John Wayne e Steven Seagal, e um Presidente da República que não acredita que os portugueses tenham perdido o gosto pelo sexo, perdoem-me, parece que agora sexo está para a esquerda como fazer amor está para a direita, portanto rectifico: o Presidente da República que não acredita que os portugueses tenham perdido o gosto por fazer amor.

Porém interessante é o protesto dos alunos do Instituto Politécnico de Viseu, contra as alegadas ilegalidades cometidas pela direcção do IPV, a dar o exemplo a alguns que andam cá por baixo, nessa minha querida cidade que é Lisboa, onde hoje um professor foi chamado à inspecção por não se calar contra as supostas ilegalidades que alguém vai cometendo.

Enquanto a blogosfera se vai degladiando sobre qual o sentido da comemoração do dia 25 de Novembro, lá fora o Diplomata vai constatando que o discurso da Guerra Fria está timidamente a regressar, enquanto Musharraf se torna Presidente Civil mostrando como se aplica ao mais alto nível os ensinamentos de Nicolau Maquiavel, para poder contentar o amigo Bush, trazendo paulatinamente o Paquistão para essa tão apregoada Democracia.

E é assim que o vento passa e não deixa o tempo voltar atrás para nos dar toda a sanidade que vamos perdendo...

Boa noite e até amanhã.

Este fim de semana - Pirenópolis





Este fim de semana - a caminho de Pirenópolis


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Kadhafi em Oeiras e Mugabe com medo

Pelo DN fico a saber que Kadhafi ficará no Forte de São Julião da Barra e que Mugabe já requisitou uma viatura blindada para o transportar durante a cimeira.

Mas vão montar a tendo de Kadhafi no forte???

Com tanto motivo de preocupação parece que se espera realmente um atentado terrorista. Não se preocupem, enquanto tivermos praia, sol, campos de golfe e formos o recreio de Verão da Europa não há terrorista que decida explodir com alguma coisa em Portugal. Somos um país pacífico com um povo pacífico e acolhedor. Tão acolhedor que basta ver os exilados que por passaram e vão passando.

Sugestões de leitura

"Com que direito pretendem canalizar a inteligência, dar diplomas ao Espírito?" no Sobre o Tempo que Passa, pelo Professor Maltez.

"Monarquia ou república: uma posição liberal" no Portugal Contemporâneo, por Rui A., de onde destaco:

"Do ponto de vista liberal, na minha opinião, a monarquia pode hoje revelar facetas de maior interesse do que no passado e do que o republicanismo actual. Na verdade, numa época em que as democracias se desvirtuam e tornam totalitarizantes, quando os actos de soberania obedecem cada vez mais a interesses de grupo, de todo em todo distintos dos verdadeiros interesses dos cidadãos, e quando os checks and balances dos sistemas políticos se tornam cada vez mais frágeis, a existência de um poder verdadeiramente moderador que refreie a soberania torna-se absolutamente necessário para a defesa da liberdade e dos direitos dos cidadãos. Essa é, ou pelo menos deverá ser, a principal preocupação do liberalismo: refrear a soberania. "

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Às vezes há coisas que são bem verdade

Man is the only animal that blushes. Or needs to.

Dá-se prémio a quem souber quem cito. Vá, e não vale ir ao Google. Nem a outros motores de busca, Samuel!!

Às vezes há coisas giras

Hoje houve aula aberta no ISCSP, mérito do Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais, com os Professores José Adelino Maltez, Saldanha Sanches e Rosado Fernandes (aquele que deu um murro num deputado em pleno Parlamento Europeu).

Valeu a pena.

E soube-se que há investidores privados espanhóis interessados em apostar em grande no mercado das universidades privadas portuguesas, e que estão previstas negociações directas com o Primeiro-Ministro. A verdade é que há mercado em Portugal para universidades privadas, desde que estas sejam de excelência. Veja-se apenas o número de alunos portugueses que vão fazer mestrados no Estrangeiro.

Já agora, alguém me arranja 60.000 dólares para eu ir para Columbia? Aproveitem agora, enquanto o Euro valoriza...

Carta aos Reitores das Universidades Europeias

Em 1925, o surrealista francês Antonin Artaud, escrevia uma Carta aos Reitores das Universidades Europeias, que, infelizmente, hoje bem se poderia intitular Carta a alguns Professores Universitários Portugueses:

Senhores Reitores,

Na estreita cisterna que os Srs. chamam de "Pensamento", os raios espirituais apodrecem como palha.

Chega de jogos da linguagem, de artifícios da sintaxe, de prestidigitações com fórmulas, agora é preciso encontrar a grande Lei do coração, a Lei que não seja uma lei, uma prisão, mas um guia para o Espírito perdido no seu próprio labirinto. Além daquilo que a ciência jamais conseguirá alcançar, lá onde os feixes da razão se partem contra as nuvens, existe esse labirinto, núcleo central para o qual convergem todas as forças do ser, as nervuras últimas do Espírito. Nesse dédalo de muralhas móveis e sempre removidas, fora de todas as formas conhecidas do pensamento, nosso Espírito se agita, espreitando seus movimentos mais secretos e espontâneos, aqueles com um caráter de revelação, essa ária vinda de longe, caída do céu.

Mas a raça dos profetas extinguiu-se. A Europa cristaliza-se, mumifica-se lentamente sob as ataduras das suas fronteiras, das suas fábricas, dos seus tribunais, das suas universidades. O Espírito congelado racha entre lâminas minerais que se estreitam ao seu redor. A culpa é dos vossos sistemas embolorados, vossa lógica de 2 mais 2 fazem 4; a culpa é vossa, Reitores presos no laço dos silogismos. Os Srs. fabricam engenheiros, magistrados, médicos aos quais escapam os verdadeiros mistérios do corpo, as leis cósmicas do ser, falsos sábios, cegos para o além-terra, filósofos com a pretensão de reconstituir o Espírito. O menor ato de criação espontânea e um mundo mais complexo e revelador que qualquer metafísica. Deixem-nos pois, os Senhores nada mais são que usurpadores. Com que direito pretendem canalizar a inteligência, dar diplomas ao Espírito?

Os Senhores nada sabem do Espírito, ignoram suas ramificações mais ocultas e essenciais, essas pegadas fósseis tão próximas das nossas próprias origens, rastros que às vezes conseguimos reconstituir sobre as mais obscuras jazidas dos nossos cérebros. Em nome da vossa própria lógica, voz dizemos: a vida fede, Senhores. Olhem para seus rostos, considerem seus produtos. Pelo crivo dos vossos diplomas passa uma juventude abatida, perdida. Os Senhores são a chaga do mundo e tanto melhor para o mundo, mas que ele se acredite um pouco menos à frente da humanidade.

Visão estereotipada dos brasileiros entre portugueses

Para aqueles que porventura pudessem ter achado este post de há uns dias meio infundado, a Folha de São Paulo dá conta de um estudo realizado por uma investigadora brasileira na Universidade de Coimbra:

Para Benalva da Silva Vitório, autora da pesquisa, "a brasileira é vista como menina de programa". Segundo ela, essa imagem está relacionada às campanhas de turismo promovidas fora do Brasil.

"Os homens são vistos como malandros, que fazem muito barulho e não cumprem compromissos"

De acordo com o estudo, os brasileiros que emigram para o país não conhecem a cultura portuguesa e pensam que, devido à língua, Portugal é como o Brasil.

Para Benalva, a falta de conhecimento dos brasileiros sobre Portugal se deve, em parte, ao ensino das escolas brasileiras. "Na escola, estuda-se até a independência. Passou de 7 de setembro de 1822, acabou. Não ensinam a geografia ou a história dos dois países", afirmou a autora.

Questionário e imagem do topo

Para além da alteração da imagem do cabeçalho, que devido a um problema de definição ainda vou melhorar, colocamos até ao próximo dia 2 de Dezembro um questionário sobre se a Galp deve ou não explorar petróleo na Venezuela.

Comunista só houve um

Ao ler os seguintes comentários a esta notícia do Público:

JOAO ANDRE, paris
Eu vivi o25 DE ABRIL a fundo,sempre me considerei e fui socialista.Actualmente vivo numa cidade em França onde o"Maire",presidente da camara é comunista e meus amigos nao nos podemos iludir.Essas pessoas que se dizem democratas aproveitam-se daqueles que trabalham,ajudam aqueles que nao querem fazer nada afim deganhar votos.Isto nao é gente socialista porque so querem é o seu bem estar


Abel Guimarães, Porto
Os que apoiam Chavez, que até foi eleito, não são democratas. Os democratas são os que apoiam o Rei, que foi designado por Franco. Estes novos democratas são contra os sindicatos, contra os trabalhadores, contre tudo o que se manifeste. Sonham comnovos Salazares e fogem dos referendos como o Diabo da Cruz. Na minha juventude, vejam como os tempos mudam, tais gentes seriam consideradas fascistas.

Ocorre-me algo que o meu avô materno, pessoa de elevada cultura e sapiência, me costuma dizer: Verdadeiramente comunista só existiu uma pessoa: Emanuel Jesus Cristo.

Chávez aprende a usar gravata

Não sei se alguém reparou, mas parece-me que o ponto alto desta visita de Chávez a Lisboa foi a sua aprendizagem do uso desse acessório chamado gravata.


E com um bonito nó, sim senhor...

Galp na Venezuela

Depois de ler no Portugal Diário:

O ex-Presidente da República tem uma relação pessoal forte com o líder venezuelano e nos últimos meses fez vários contactos para aproximar a Galp da empresa estatal de petróleos da Venezuela.

E no DN:

O Presidente venezuelano chegou ao aeroporto de Lisboa - vindo de Paris - pelas 20.30, ou seja, quase com duas horas e meia de atraso. Tinha a aguardá-lo o secretário de Estado português das Comunidades, António Braga, o ex-Presidente Mário Soares ("pivot" nas negociações petrolíferas entre a Galp e o governo venezuelano) e ainda a administração da petrolífera portuguesa. Falando a jornalistas, voltou a exigir um pedido de desculpas do Rei de Espanha por causa do "por qué no te callas !" da cimeira ibero-americana.

Parece-me que talvez as más línguas que andam por aí a dizer que Chávez quer Portugal como interlocutor da Venezuela na União Europeia, enquanto planeia substituir a Repsol pela Galp até tenham alguma razão...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Por entre portas e travessas...

Ontem participei, indirectamente, no Prós e Contras...

Sugestões de Leitura

Aqui, Vasco Pulido Valente, qual Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, leva-nos numa aventura com Mário Soares.

Até há gémeos e tudo!

Coincidência

O iníco dos anos 70 presentou o mundo com uma das crises mais marcantes na definição do sistema financeiro mundial no pós-guerra. Em 1973 o preço do petróleo aumentava exponencialmente, à medida que o Dólar se vinha desvalorizando em relação ao ouro, pelo que ainda na senda dos pilares de Bretton Woods, especialmente o da livre convertibilidade entre dólar e ouro, países como a Alemanha optavam por trocar as suas reservas de dólares por ouro do tesouro norte-americano, até que os Estados Unidos se desobrigaram dessa cláusula. O dólar continuava a desvalorizar provocando um aumento da inflação e do desemprego na área de influência norte-americana.

Qualquer semelhança com a realidade actual é pura coincidência.

Estado mau pagador

Anda por aí uma petição, iniciada pelo CDS/PP, que dá pelo nome de "Estado mau pagador".

Ao contrário de muitos outros, não vou aqui fazer propaganda em favor dessa petição, até porque apesar da minha inclinação política ser para a direita, sendo um liberal adepto da monarquia, não tenho nenhum vínculo partidário (há quem vá tentando recorrentemente incutir-me um...).

Concordo de facto com os seguintes pontos:

5. O Estado é recorrentemente devedor a particulares e empresas, de quantias vencidas, certas, líquidas e exigíveis, para além de todos os prazos estipulados e até de todos os prazos minimamente razoáveis.

6. Em razão da mora do Estado, muitos particulares e empresas sentem todos os dias dificuldades financeiras, sendo incapazes de solverem compromissos assumidos, sofrendo graves perdas de competitividade, e nos casos das empresas, sendo por vezes obrigadas ao próprio encerramento.

Mas quando leio que:

13. Quem não deve não teme. E um Estado que não se assuma e mostre como pessoa de bem, não pode exigir dos demais, aquilo que não é capaz de cumprir.

Não posso deixar de achar que essa valoração do Estado é algo perigosa. O Estado não deve, e de forma ideal não pode, ser uma pessoa de bem. Essa coisa de gente de bem e pessoas de bem não se pode adequar ao Estado, não se pode imbutir esse tipo de valorações numa entidade que se presume imparcial e agente regulador do euzein (bem viver Aristotélico) dos cidadãos, até porque para todos os efeitos, a Revolução Francesa veio dizer-nos que o Estado somos nós. E nem todos somos pessoas de bem.

Ora se o Estado enquanto entidade abastracta somos nós, embora seja empiricamente verificável que o Estado é mau pagador, concordo que se tornem públicas as dívidas dos maus pagadores, porque apesar da cultura nacional da fuga ao fisco, pelo facto de nem todos sermos pessoas de bem, os que não são têm que ser compelidos a cumprir as suas obrigações, contribuindo para o bem comum, para o bem estar geral de todos nós (de forma ideal, independentemente das valorações que se possam atribuir aos critérios dos gastos efectuados em termos de despesa pública).

Logo, parece-me que o motivo aparente para a criação desta petição está de certa forma desmontado. Portanto pergunto-me, qual o motivo latente para tal? O que quer quem a fez? Será alguém que se sente irritado por o Estado ter publicado as suas dívidas? Ou que tem amigos que assim se sentem?

Não deixam de ter razão quanto ao facto do Estado ser mau pagador, mas o motivo e a forma assumida, nos quais muito poucos devem ter atentado, parecem-me algo descarados, disfarçados sob uma subtil forma de chantagem.

Mas como adepto do maquiavelismo, considero que não deixa de ser uma boa jogada política.

Raio do maçarico

Ó Hugo parece que o LNEC encontrou um problemazito quanto à alternativa de Alcochete para o novo aeroporto, um tal maçarico-de-bico-direito. Agora é que te podias tornar um ambientalista ferrenho e defender com unhas e dentes o maçarico, para que não venhas a ter os teus fins-de-semana de descanso interrompidos...

Juventude

O Observador alerta no post "A Ordem e a Advocacia":

"Numa altura em que o país (e o mundo ocidental) se preocupa com o envelhecimento da população, dei-me conta que os advogados se afligem com o excesso de novos advogados. O excesso de juventude."

Parece-me que não é só na advocacia. Todo o aparelho estatal português padece do mesmo mal. Salvo raras excepções, em Portugal os jovens não são aproveitados e são, na maioria das vezes, menosprezados. É gritante essa característica sobretudo se comparada com o Brasil, especialmente aqui em Brasília que é conhecida como a cidade dos concursos.

Praticamente todos os dias, ou pelo menos todas as semanas, existem concursos para centenas de empregos no Estado, extremamente bem remunerados. Muitos dos meus colegas na Universidade fazem estágios remunerados ou já têm emprego. E quanto aos que já têm emprego é difícil encontrar algum que receba menos de 4 ou 5 mil reais (1600 a 2000 Euros), valores atingidos em Portugal apenas por profissionais no topo e geralmente em fim de carreira. Estes colegas têm 20, 21, 22, 23, 24, 25 anos de idade. Trabalham no Banco do Brasil, na Caixa Económica, na Embraer, no Congresso, na Petrobras, no Itamaraty e muitas outras empresas e organismos estatais. Um jovem diplomata que acaba de entrar no Itamaraty, ainda cursando no Instituto Rio Branco, recebe tanto quanto um embaixador português quando está em Lisboa. Nós continuamos com uma administração e função pública decrépita, pouco actualizada em termos de novas tecnologias, e que raramente abre concursos.

Para quem não saiba existem acordos que permitem a portugueses fazer concurso para a função pública brasileira...

Sugestões de leitura

A entrevista de Vasco Pulido Valente ao Expresso, transcrita na Atlântico.

"O Testamento de Sartre" no Triunfo dos Porcos.

Agradecimentos blogosféricos (7)

Ao Oeiras Local em especial à Isabel Magalhães. Obrigado!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

C'est un lapin de bois! Quoi? C'est un rabbit!!

Qu'est-ce que c'est? C'est un lapin de bois! Quoi? C'est un rabbit!!

Valeu bem a pena, e parece que está a ser traduzido para português pelo Nuno Markl.

Agradecimentos blogosféricos (6)

Desta feita ao Andarilho! Obrigado!

Nem a ginginha perdoam

Numa altura em que a ASAE parece realmente decidida a trabalhar exaustivamente em todas as frentes, deixo aqui o post intitulado "Bota Abaixo" de João Villalobos no Corta-Fitas:

"Lendo o Tomás Vasques, descubro que a ASAE apreendeu na Ginjinha do Rossio umas 18 garrafas de ginja «com elas». A ASAE não quer saber da qualidade dos shots servidos às crianças no Garage ou dos efeitos de misturas publicitadas à «malta jovem» em cartazes, como o do Martini com cerveja. Preocupa-se é com o fígado dos frequentadores daquele castiço estabelecimento. Devem ser malta nova, estes ninjas. Tivessem eles barba e um bocadinho de vida e saberiam que o prazo de validade não se aplica uma garrafa de ginjinha e, em acréscimo, que o fígado de quem por lá pára já passou há muito a fase dos paternalismos. Rapazes da ASAE: Ainda vocês comiam mioleira com ovos mexidos ofertada pela vossa mamã e já aqueles senhores trabalhavam de Sol a Sol sem outra razão de viver que não o 13 no Totobola e o copito de ginjinha ao fim do dia. O que é que vocês querem afinal, hã? Tornar-nos a todos uma cambada de suiços? Bebam mas é as 18 garrafitas e ganhem juízo. "

E camelos não?

Dúvida que assaltou a minha mente inquieta enquanto tentava adormecer: será que Kadhafi, que não confia na segurança portuguesa, tal como não confiou nos Belgas e Moçambicanos, e tendo em conta que os carros com escolta policial talvez não lhe agradem, também irá exigir camelos para se deslocar até ao Pavilhão Atlântico? Talvez assim ainda se sinta mais em casa.

Enquanto as autoridades andam a determinar onde colocar a sua tenda, eu já tive uma ideia. Lembram-se da margem sul? Esse tal deserto de Mário Lino? Talvez Kadhafi até possa fazer campanha por Alcochete...

Agradecimentos blogosféricos (5)

Ao José Pacheco Pereira por ter publicado no Abrupto a mesma fotografia que aqui deixo, Brasília vista da Torre da Tv, em pormenor, a Esplanada dos Ministérios, datada do passado dia 17/11, num tour realizado com os amigos Bruno Amorim e Cris Alcântara.


Agradecimentos blogosféricos (4)

Ao Politicopata pelas suas simpáticas palavras, e quanto à Maddie, é coisa que por aqui não nos interessa falar, esse mediatismo digno de novela brasileira já ultrapassou as marcas do ridículo.
Um grande abraço e que continue com os seus posts deliciosos!

sábado, 17 de novembro de 2007

Campo de Tiro em Serpa - de fait-divers a notíca séria

Notícia do dia, pelo menos para mim: se o novo aeroporto internacional de Lisboa for construído no que é hoje o Campo de Tiro de Alcochete, a Força Aéra poderá começar a usar como campo de tiro um "espaço deserto, com solos pobres, e onde as poucas actividades são a pastorícia e a cinegética" (sic SIC, a do Balsemão).

Ora aqui há uns tempos, tive oportunidade de abordar este assunto com alguém, diga-se, muito bem colocado para discutir o assunto, que dizia não haver possibilidade de outra zona do país poder ser utilizada como campo de tiro, devido à natureza dos solos muito própria que se exige para tal finalidade, e outro pormenores técnicos, que estou longe de dominar.

De referir ainda que o Campo de Tiro de Alcochete não é utilizado apenas pela FA Portuguesa, mas também pela de outros aliados, nomeadamente da NATO.

Se esta notícia tem ponta de credibilidade, não sei. O que sei é que Natureza não se confunde com deserto, nem a caça é uma actividade económica pouco lucrativa, mas dos jornalistas portugueses, já pouco se há de esperar.

O que sei também, é que não quero passar os meus fins-de-semana no Alentejo a ouvir o zumbido dos planadores da FA e estalinhos de carnaval. Apesar de tudo, o que "o Alentejo precisa é de emprego e desenvolvimento, e não de bombas"...

Termino, em favor da honestidade intelectual, admitindo que sou natural do concelho de Serpa, exilado em Lisboa.

Kadhafi quer ficar em tenda

Muamar al-Kadhafi não quer ficar em nenhum hotel. E o MNE anda às voltas para encontrar algum local onde ele possa colocar a sua tenda. De salientar que já fez o mesmo na Bélgica e Moçambique.

No me callo e te digo más...

Chávez não se cala e até resolveu tentar espantar o mundo com novas afirmações, daquelas que vêm do fundo de um ser cada vez mais desorientado, conforme noticiado aqui.

Chávez que estará de visita ao Irão nos próximos dias, afirma-se confiante no desenvolvimento do programa nuclear iraniano com fins exclusivamente pacíficos, e revela ao mundo que também a Venezuela irá iniciar um programa de desenvolvimento de energia atómica.

A Folha de São Paulo ainda revela que "Ele defendeu a energia nuclear como uma solução para a crise energética mundial, causada pelo aumento do preço do petróleo e pela redução das reservas, além da mudança climática e da poluição atmosférica."

Tão altruísta que ele é...Nem Bolívar chegaria a tanto...

Agradecimentos blogosféricos (3)

Desta feita ao Pedro Correia do Corta-Fitas. Obrigado Pedro!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A natureza da segunda câmara

No seguimento do post "Dois projectos políticos para Portugal" onde a dada altura dizia:

"Poder-se-á ainda arguir pelo cruzamento entre os dois, algo como uma monarquia constitucional e federada, em que a natureza da segunda câmara seria algo a discutir, e sobre o qual não me quero debruçar agora, até porque ao longo da última semana, enquanto pensava nisto, não consegui encontrar uma saída para o dilema de ter que representar equitativamente os estados federados, mas ter também que instituir uma câmara dos Lordes que garanta a prática do poder fiscalizador da instituição monárquica."

Eis que a resposta para esta minha inquietação é até bem simples. Basta ver algumas das discussões em Espanha ou no Reino Unido acerca da natureza da segunda câmara. Em Espanha já se pensou federalizar o sistema e tornar a segunda câmara mista entre os eleitos directamente e os nomeados pelos estados federados. No Reino Unido foi rejeitada uma proposta para que a House of the Lords fosse composta por membros eleitos e membros nomeados pelo Rei (em proporção a definir).

Portanto, quer Portugal se tornasse um Estado Federal, ou se apenas se voltasse a instituir o elemento Monárquico, essencial seria voltar a ter o Senado, cuja natureza seria porventura técnica, composto por comissões que emitiriam pareceres especializados (à semelhança dos Britânicos) e parece-me que a melhor solução seria um misto entre membros eleitos e membros nomeados pelo Rei.

Pacto de Varsóvia

(Este pequeno post é uma sinopse de um trabalho elaborado no âmbito da disciplina de Organizações Internacionais, e encontra-se também publicado em Nostrum Symposium.)

Firmado em 14 de Maio de 1955 na cidade de Varsóvia, o Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua estabeleceu uma aliança militar entre os Estados Socialistas da Europa Central e de Leste, essencialmente sob o domínio da União Soviética, que pretendia estabelecer um contrapeso efectivo e coordenado à ameaça potencial da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Pese o argumento inicial por parte da União Soviética de justificação da criação do Pacto de Varsóvia como retaliação à integração da República Federal Alemã (RFA) na OTAN (em 9 de Maio de 1955), o Pacto acabaria por constituir de facto uma ferramenta de controlo sobre os países da órbita satélite da União Soviética, intervindo militarmente contra quaisquer tentativas que os Estados em questão tomassem contra a ortodoxia comunista e soviética.

O tratado foi modelado no tratado da OTAN, e instituiu uma estrutura organizacional bastante simples, com sede em Moscovo, estabelecendo o Political Consultative Commitee (PCC), que coordenava todas as actividades excepto as de cariz militar, sendo o fórum onde secretários-gerais dos partidos comunistas e chefes de Estado se reuniam, e o Unified Command of Pact Armed Forces, que detinha autoridade sobre as tropas que lhe eram atribuídas pelos Estados, sendo o Commander in chief o First Deputy Minister of Defence of USSR, e o Chief of Staff o First Deputy chief of the Soviet General Staff.

Todos os Estados socialistas da Europa Central e de Leste se constituíram membros do Pacto excepto a Jugoslávia, sendo os Estados partes do tratado a Albânia, Bulgária, Checoslováquia, República Democrática Alemã (RDA), Hungria, Polónia, Roménia e União Soviética. A Albânia deixaria de apoiar o Pacto em 1961 devido à divisão Sino-Soviética, em que se situou como apoiante da linha Estalinista da China, acabando por se retirar oficialmente em 1968 como protesto à invasão da Checoslováquia, evento que ficou conhecido como Primavera de Praga.

Com o afastar gradual de Gorbatchev em relação à doutrina Brejnev, os movimentos de abertura foram-se propagando pelo Leste Europeu. Os comunistas liberais assumiram o poder na Hungria, enquanto por exemplo na Polónia o Partido Comunista negociava com o Solidariedade. Numa visita à Finlândia em Outubro de 1989, o porta-voz de Gorbatchev, Gerasimov, confirmava o abandonar da doutrina Brejnev, gracejando com a imprensa que Moscovo adoptara a doutrina Sinatra, numa alusão à famosa música de Frank Sinatra “I dit it my way”, afirmando que a Hungria e Polónia estavam a fazer as coisas à sua maneira.

Tornava-se cada vez mais evidente a incompatibilidade entre a liberalização e o comunismo, cujos partidos estavam cada vez mais desmoralizados. Também em Outubro de 1989 Gorbatchev visitava a RDA para participar da comemoração do 40.º aniversário da fundação dessa, acabando ainda por incitar o seu dirigente estalinista, Erich Honecker, a conduzir uma política mais reformista, enquanto exaltava também a estabilidade da RDA. Porém, 4 semanas depois da sua visita o Muro de Berlim caía. Dez meses depois Gorbatchev concordava com a unificação da Alemanha como membro da NATO. Todos os governos comunistas da antiga órbita satélite haviam sido depostos e o Pacto de Varsóvia desmoronou-se. A ordem de Ialta caía, e a História revelava a insensatez das afirmações de Kruchtchev de que o comunismo enterraria o capitalismo.

Com o assumir da doutrina Sinatra em detrimento da doutrina Brejnev (em 1989), os novos governos independentes dos Estados satélites da União Soviética acabariam por contribuir para o fim do Pacto. Em 24 de Setembro de 1990 a RDA retirar-se-ia do tratado e em 3 de Outubro do mesmo ano acabaria por se reunificar com a RFA, pelo que a nova Alemanha unificada se tornou membro da OTAN, enquanto a Checoslováquia, Hungria e Polónia anunciavam em Janeiro de 1991 que iriam retirar o seu apoio ao Pacto, seguindo-se a Bulgária em Fevereiro. Em 1 de Julho do mesmo ano o Pacto acabaria por ser dissolvido numa reunião em Praga.

Tendo estabelecido uma estrutura que se baseava em grande parte na estrutura de comando militar soviético, o que facilitava as operações, como ficou patente nas diversas intervenções, o Pacto nunca chegou a enfrentar no terreno a sua contraparte, a OTAN, apesar de o argumento para a sua formação ser precisamente o constituir um contrapeso à OTAN.

Foi um instrumento ao dispor da União Soviética para exercer uma influência e domínio no contexto da Guerra Fria, que talvez devido às suas especificidades e estruturas demasiado apegadas à União Soviética, bem como as evoluções ideológicas e políticas sofridas pelos países satélites da Europa de Leste, não se soube adaptar ao mundo em devir após a Queda do Muro de Berlim, até pela sua evidente derrota. Por seu lado a OTAN continua viva e em expansão, incluindo já países que faziam parte do pacto, tal como a estrategicamente importante Polónia. Embora dominada pelos Estados Unidos, a Aliança Atlântica constituiu-se como um verdadeiro fórum multilateral, com uma estrutura própria, e não como um fórum que se pretendia multilateral, mas que serviu apenas para a União Soviética exercer o seu poderio e legitimar através desse as suas acções.

De qualquer das formas, independentemente do desfecho do conflito bipolar, é de salientar que na época da sua formação, mas especialmente após a Crise dos Misseis de Cuba, e com o advento do Movimento dos Países Não Alinhados, o Pacto de Varsóvia revelou-se um instrumento que acabaria por constituir uma forma de domínio ideológico que servia os propósitos do sistema internacional, encontrando na sua contraparte um domínio que se exercia mais pelo soft power. Neste particular, uma das críticas que no meu ponto de vista se pode apontar à União Soviética é a sua ortodoxia rígida que provocou sentimentos de revolta nas populações dos países da órbita satélite, acabando por perder a sua força ideológica enquanto modelo único absoluto com a divisão Sino-Soviética, a partir da qual ocorreram as divisões entre os Partidos Comunistas que se mantinham leais à União Soviética, e os Partidos Comunistas Marxistas Leninistas que se alinhavam à China.

Em suma, o Pacto de Varsóvia foi um instrumento necessário à manutenção da ordem bipolar que dando-se por derrotado perante a OTAN, teve necessariamente que sucumbir num momento chave da História de onde adviria uma nova ordem mundial, que ainda hoje se está a tentar encontrar e definir a si própria.

Bibliografia consultada

Curtis, Glenn E. – The Warsaw Pact (excerpted from Czechoslovakia: A Country Study). Washington, D.C.: Federal Research Division of the Library of Congress; 1992.

Kissinger, Henry A. – Diplomacia. Lisboa: Gradiva, 2.ª ed.; 2002.

Keylor, William R. – História do Século XX. Mem Martins: Publicações Europa-América; 2001. (Publicado originalmente pela Oxford University Press em 1996).

O fim do recenseamento militar

Segundo consta parece que o governo quer acabar com o recenseamento militar. Quando há uns anos se acabou com o serviço militar obrigatório, em simultâneo com uma profissionalização crescente das Forças Armadas, pareceu-me essa ser uma medida inteligente e adequada às necessidades de Portugal nesse campo.

Desde há 2/3 anos atrás que jovens como eu tiveram que efectuar o recenseamento militar e apresentar-se no Dia da Defesa Nacional, uma inovação, se não me engano, do ministério de Paulo Portas.

Pese a óbvia propaganda que se efectua nos diversos Dias da Defesa Nacional, certo é que esse evento permitia um maior contacto da juventude com uma realidade bastante desconhecida da maior parte, convencendo mesmo alguns a ingressar nas Forças Armadas. Não sendo militar nem militarista, parece-me que esta inovação deveria ser continuada.

Porém agora que o governo quer acabar com o recenseamento militar, estarei certo ao presumir que também se acabará com o Dia da Defesa Nacional? Se sim, parece-me um enorme disparate. Como é que pretendem atrair mais jovens para o serviço militar? Espero estar enganado nesta assumpção até porque a Defesa continua a ser uma das pastas mais sensíveis e importantes quanto às prerrogativas de soberania de um Estado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Agradecimentos blogosféricos (2)

Cumpre-me agradecer mais uma vez à blogosfera portuguesa o reconhecimento deste recém-criado blog, desta feita ao Miguel Castelo-Branco do Combustões, um dos melhores blogs que já tive oportunidade de ler. Obrigado Miguel!

E porque amanhã é feriado no Brasil, dia da Proclamação da República (1892), o que ironicamente nem alguns colegas na universidade sabiam, não publicarei nada amanhã, pelo que aproveitarei para pôr a leitura em dia.

A dois é bom, mas a três é ainda melhor

Pese novamente o teor tendencioso do título, serve este post para dar as boas vindas a mais um grande amigo que também agora passa a colaborar no Estado Sentido. Bem vindo Hugo!

Também eu preferia que o nome do blog fosse Sentido de Estado, mas já existia um com esse nome quando o criei!

A Polémica das Caricaturas Revisitada, nesta estreia blogueira

Revisitação de um texto escrito, há ano e meio atrás. Assim inicio, a minha colaboração no Sentido de Estado (ó SP, prefiria que o blogue tivesse este nome!), após várias insistências. A minha participação será apenas fortuita, porque não tenho mais nada que fazer.

--------------------------------------------------------------------------------------

A questão dos cartoons sobre Maomé foi influenciada por uma sucessão de episódios manipulados, que começou pela indignada reacção das comunidades muçulmanas, quase quatro meses depois da primeira publicação das caricaturas, e passou pela republicação das mesmas, instigadora de um choque de civilizações, por vários órgãos de comunicação social, por vezes com intuitos menos claros.

O facto é que a comédia e a sátira são desde os clássicos um elemento fundamental da cultura europeia. É facto também que, como lembrou acerca desta questão Vasco Pulido Valente*, a verdade religiosa é absoluta e, logicamente, incompatível com a liberdade de imprensa. Foi esse o sentido orientador da Santa Inquisição e do Índex. A diferença é que as culturas eram relativamente mais homogéneas e os contactos entre áreas culturais pontuais. Assim as autoridades muçulmanas nunca souberam (pelos vistos não sabem hoje) que Camões apelida n’Os Lusíadas, apelida Maomé de torpe: O mesmo o falso Mouro determina/Que o seguro Cristão lhe manda e pede;/Que a Ilha é possuída da malina/Gente que segue o torpe Mahamede... Ou então já se teria levantado o direito à indignação (onde, como nos meios de tutela privada, o dano causado não pode ser manifestamente superior ao dano eventual), ou teria sido mesmo lançada uma Fatwa contra Camões, ou mesmo (com o apoio de muitos mais, é óbvio) contra o sistema de ensino português. Mesmo antes de Camões, Dante fazia na sua Divina Comédia uma representação grotesca de Maomé.

A questão mais pertinente que se levanta com as representações de Maomé encontra-se no seguimento de outras situações semelhantes, como a perseguição a Salman Rushdie, autor de Versículos Satânicos ou o assassinato do cineasta holandês Theo Van Gogh, que supostamente terá ofendido os seguidores do Profeta. O importante é lembrarmos que opiniões são opiniões, não são actos, resume Pedro Mexia. E, para mim, a liberdade de expressão é a de Voltaire, não a do politicamente correcto. E esta liberdade fundamental, como muitas outras, não é negociável na Europa. Estes valores universalizados, mas não verdadeiramente universais, têm, em grande medida, a sua origem na Europa e custaram-nos guerras, extermínios, manifestações, revoluções industriais e tratados de filosofia. Não é tempo de, em nome da subserviência e de jogadas diplomáticas, abdicarmos deles.

A polémica das caricaturas de Maomé e das violentas reacções em países muçulmanos voltou a pôr na ordem do dia a tese de Samuel Huntington do Choque de Civilizações, onde afirma que as grandes divisões entre o género humano e as fontes dominantes de conflito serão culturais. À primeira vista, um olhar sobre o mundo pós Guerra-Fria e com o surgimento das tensões com a área cultural muçulmana indicaria que estaríamos de facto perante clivagens culturais que em fase de escalada conduziriam a situações de crise e de conflito. Contudo as relações internacionais não se podem reduzir a estes termos e parece-me que ao analisar as situações de conflito das últimas décadas não estaria assim tão latente um choque de civilizações, mas tal daria para outro post. Cada comunidade procurou sempre reger-se pelos seus valores. Contudo evoluímos de comunidades clássicas, localizadas, para comunidades transnacionais e multi-situadas. Os indivíduos assumem hoje pluralidades de pertenças, o que não diminui necessariamente a sua condição enquanto membro de uma comunidade específica. Existem milhões de muçulmanos europeus, e outros tantos de europeus muçulmanos – e essa compatibilidade é salutar. As comunidades entram em contacto entre si e tentam-se influenciar mutuamente, pois a mudança é inerente à cultura, que hoje em dia viaja, transnacionaliza-se e desterritorializa-se. Assim certos projectos civilizacionais podem chocar em determinados aspectos, espontaneamente, contudo não me parece que a escalada para fases posteriores e mais agudas de conflito seja possível apenas baseando-se em reacções sociais.

Reservando-me a este caso particular, a meu ver houve uma clara manipulação e concertação por parte de muitos países muito islâmicos, como demonstra a denúncia efectuada pelo New York Times sobre a Conferência Islâmica Internacional. Assim sendo, este conflito terá sido mais manipulado pelas elites governantes, passando a aparência de uma revolta espontânea da população muçulmana.

Quanto a algumas reacções na Europa e no resto do mundo ocidental, vejo surgir concepções bizarras de multiculturalismo que se confundem, ou procuram confundir, com tolerância. O relativismo moral e cultural confunde-se com desculpabilização e faz lembrar a imagem do paradoxo do relativismo cultural sugerido por Claude Lévi-Strauss há uns anos: enquanto nas Antilhas os espanhóis enviavam missionários para aferirem se os nativos tinham ou não alma, os nativos colocavam os cadáveres dos europeus dentro de água, procurando saber se os seus corpos resistiam à putrefacção.



*Tenho o hábito de, em tudo o que escrevo, fazer referência a todos os autores que me possam ter influenciado. A minha política editorial resume-se no seguinte:

Confesso que as mais das iguarias
com que vos convido são alheias,
mas o guisamento delas é de minha casa.

Frei Amador Arrais apud Prof. José Adelino Maltez

Irritação com os irmãos

Ontem fiquei irritado. Fui para casa irritado. Deitei-me irritado. Não dormi sossegado e acordei novamente irritado.

E porque continuo irritado decidi escrever aqui o motivo de tanta irritação.

Ontem tive uma das discussões mais idiotas de toda a minha curta vida, com um colega brasileiro, também de Relações Internacionais. As opiniões dele reflectem o senso comum e parco conhecimento acerca da cultura portuguesa que são apanágio de um sistema de ensino (até ao 12.º) essencialmente de esquerda. Neste Brasil que se gaba de ser um país cristão ocidental (e de onde é que terá vindo isso?), onde a dialéctica política é essencialmente entre marxistas e neo-liberais. Sim, leram bem, marxistas. Ainda os há. Aliás, há os que julgam que são marxistas, que levam com um chorrilho de ideias que lhes toldam a visão do mundo, e que portanto se julgam marxistas, quando o próprio Marx a determinada altura da sua vida acabaria por dizer que se determinadas pessoas eram marxistas, então ele não o seria.

Entre os argumentos mais comuns para falar mal de Portugal encontra-se o argumento de que Portugal é um país retrógrado e provinciano, ideia que me foi explicada por um conhecido Professor brasileiro de História das Relações Internacionais, como advindo do facto de a maior parte dos colonos ter vindo de regiões rurais, e trabalhar aqui nas grandes cidades como padeiros, sapateiros, talhantes, barbeiros, e que por isso julgam que todos nós nos chamamos Maria ou Manuel, e que todas as mulheres têm bigode.

Ora esta imagem já não corresponde na sua totalidade ao Portugal contemporâneo. Mas muitos brasileiros acham que sim. E como acham que sim e que isso é verdade não querem saber de mais nada. Lembra-me uma definição do conceito de crenças, como sendo imagens e valores que se tem por absolutos, apesar de não serem corroborados pela realidade.

Como não ficar irritado quando um brasileiro me quer ensinar História de Portugal dizendo que foram os espanhóis que fizeram a nossa independência (hmm e quem será que fez a do Brasil? Ops, foram as elites portuguesas que tinham os seus interesses aqui), que Portugal só é o que é porque a União Europeia nos governa, que somos o curral da Europa, que os únicos produtos manufacturados que produzimos são Pastéis de Belém, enfim, uma série de outras coisas que eles acham mesmo que correspondem à realidade.

Outro argumento, utilizado pelo mesmo indivíduo, é o da economia Brasileira ser muito superior à Portuguesa, já que o PIB é muito superior. Ora bem...O PIB é de facto superior, mas tendo em conta que nós só somos 10 milhões, e eles são 180, dos quais 50 milhões vivem abaixo do limiar da pobreza, palavras para quê? A economia brasileira continua, tal como no final do século XIX, baseada na agroexportação. A nossa economia é industrializada e baseada em serviços.

Não somos assim tanto curral da Europa como temos tendência a pensar. Se saíssemos todos de Portugal por uns tempos, seríamos atingidos pela percepção de que Portugal é até não é mau sítio para se viver. Com os seus problemas claro, que existem em todos os países.

Mas não temos favelas nem temos o nível de corrupção que perpassa todo o sistema político brasileiro. Temos óptimas infraestruturas, rodoviárias, ferroviárias, de habitação, somos muito mais avançados tecnologicamente do que o que a maioria das pessoas pensa, temos melhores condições de vida. Basta que estejamos na 28.º posição no Índice de Desenvolvimento Humano, onde o Brasil aparece no 69.º lugar.

Alguns dizem-me que Brasília é uma ilha dentro do Brasil, muito organizada, que o resto fora daqui é o caos. Pois se aqui o asfalto parece borracha, os carros são modelos europeus modificados bem mais frágeis, o lixo inunda as ruas, existem carroças com cavalos que andam a apanhar o lixo andando lado a lado com carros, farmácias parecem mercearias do bairro, indicações de trânsito é coisa de que nunca ouviram falar, as casas são feitas com materiais fracos, o gás é trazido pelo homem do gás que anda todas as manhãs a gritar "Olhó gás" para as pessoas virem à janela dizer-lhe que querem gás, os trabalhadores em serviços tipo supermercado, cafés ou restaurantes são lentos a pensar e a trabalhar, os autocarros são uma lástima, não há estruturas para pedestres, entre outros tantos pormenores de que me vou esquecendo, então como será o resto?

E depois dizem-me que foi a colonização portuguesa que fez este país ser assim. Esquecem-se que todos eles são descendentes de portugueses. Esquecem-se que pelo menos desde o Marquês de Pombal a metrópole sempre favoreceu muito mais as suas colónias do que a si própria (como alguém me disse, nos anos 60, 70, Luanda era bem mais desenvolvida do que Lisboa por exemplo). Aliás não se esquecem, apenas não sabem, porque ensinam-lhes a História com uma visão distorcida. Mas também não se interessam.

É também frequente ouvir afirmações que levam à conclusão de que tudo o que acontece de mal no Brasil é culpa da colonização, mas já o que acontece de bom é porque o povo brasileiro é de facto grandioso. Acham que nós somos retrógrados e conservadores. Pelo menos não somos um país de "piriguetes" (termo brasileiro para meninas um pouco "dadas") e veados (gays). Nem mesmo os universitários, que se esperava serem um pouco mais open-minded conseguem conceber um relacionamento ou uma conversa entre um homem e uma mulher sem pensar em sexo. Tudo revolve à volta de sexo. Sim, tudo é Futebol, Carnaval e Sexo. É esta a imagem internacional do Brasil.

Mas a melhor de todas é quererem ensinar-me a falar Português. Como se já não bastasse a questão do Acordo Ortográfico, ainda dizem que nós não falamos português correcto. Ora atentando na etimologia da palavra, parece-me que Português é quem é de Portugal. Querem vir ensinar-me a falar a minha própria língua? Os brasileiros que inventaram um sem número de expressões e omitiram outras tantas porque são demasiado complicadas para as conseguirem compreender (não esquecendo o índice de analfabetismo)?

Gosto do Brasil sim, e bem que gostava de passar aqui mais tempo. Mas muitas pessoas têm de aprender História. Têm que ler. E têm que conhecer a sério aquilo de que falam e desprender-se do estigma da colonização. Nós não passamos a vida a falar nisso, mas eles não perdem uma oportunidade para tal. E alguns ainda dizem que a colonização espanhola foi exemplar. Pudera, mataram todos os índios.

Continuo irritado. Mas menos. Talvez esteja a dar demasiada importância a uma questão idiota. A um indivíduo idiota, um entre muitos que não o são e com quem tenho gostado imenso de conviver. Aquilo que descrevi é produto da ignorância, também de parte a parte, que em nome não se sabe bem de quê, tem alimentado um certo misticismo que teoricamente opõe a cultura brasileira e a cultura portuguesa. Não é possível acabar com os preconceitos com mais preconceitos.

Embora as elites que vão lá fora vejam Portugal e o mundo com outros olhos, a grande maioria não tem essa oportunidade e continua a ter uma imagem rudimentar de Portugal, o que é compreensível, tendo em conta o que já referi acima acerca dos colonos. Mas têm que se esforçar para percepcionar a realidade actual.

O Brasil tem capacidade para ser uma grande potência, têm é que melhorar certos aspectos e sair dos estigmas criados por eles próprios. Quanto a Portugal, de facto é um grande país. Mas também pode ser bem melhor.

Não somos assim tão diferentes. As culturas não são assim tão diferentes. As duas nações têm muito a aprender uma com a outra, e poderiam beneficiar de um relacionamento bem mais aprofundado. Pena que em determinada altura da História nos tivéssemos deixado separar graças aos interesses de terceiros.

Portugal e Brasil têm que aumentar a cooperação entre as duas nações. Só assim se poderão acabar com fantasmas e imagens ignorantes entre as duas culturas, que originam as centenas de piadas que brasileiros fazem acerca de portugueses e os preconceitos que nós temos que não correspondem à realidade brasileira.

Irritações à parte, Brasília até é bem agradável, bem tranquila, fruto do génio arquitectónico de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, e de uma visão de modernidade personificada por Juscelino Kubitschek (que viria a ser exilado em Lisboa), embora já um pouco subvertida.

Aqui sinto que estou numa verdadeira Universidade digna desse nome, onde a ciência continua a ser a prerrogativa mais importante que leva docentes e discentes a investigar e produzir conhecimento. Onde esses não se perdem em disputas de poder e demonstrações de arrogância. Neste particular, no campo académico, poderíamos aprender muito com o Brasil, o que talvez nos fizesse sair da nossa pequena visão paroquial do papel da academia. A este respeito recomendo a leitura do post de Miguel Castelo-Branco intitulado "Deixem-se de pedantices e venham aprender a arte da humildade".

Para finalizar, deixo apenas um expresso desejo de que nos anos em devir, à medida que o ambiente internacional e a Política Externa Brasileira vão exigindo e conferindo um papel cada vez maior ao Brasil, que Portugal possa apoiar a sua nação irmã na sua ascensão a grande potência. Mas também os brasileiros têm que acreditar em si próprios. Por exemplo, numa aula de Organizações Internacionais fui o único a mostrar-se favorável à passagem do Brasil a um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, já que os restantes colegas acham que o Brasil não tem capacidade para isso e tem demasiados problemas internos por resolver.

Isto faz-me lembrar aquela característica portuguesa, à qual também não sou alheio, de não perder uma oportunidade para falar mal de Portugal. Como vêem não somos assim tão diferentes. Só na exteriorização dos sentimentos, nós pelo fado, os brasileiros pelo samba. Talvez possamos ensiná-los a cantar fado e eles nos ensinem a sambar. Quanto a mim cá vou tentando aprender a sambar, já que cantar o fado é arte para a qual não estou capacitado...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Anarquismo liberal?

Perante o que se tem passado na Bélgica onde há já mais de 150 dias que o país está sem governo, embora todos os sistemas continuem a funcionar normalmente, parece-me que duas correntes de pensamento opostas se entrelaçam nesta situação, o anarquismo que advoga a auto-regulação da vida social por parte dos cidadãos sem necessidade do Estado ou Governo para tal, e o liberalismo à la Adam Smith. Como diria Fernando Pessa, e esta hein?

A queda de Ialta


Embora um pouco atrasado, resolvi também por aqui deixar uma pequena nota quanto à comemoração do aniversário da queda do Muro de Berlim, lembrando que para além da reunificação da Alemanha, uma das consequências mais relevantes, se não mesmo talvez a mais relevante, da Queda do Muro, foi a queda da ordem de Ialta. Como tal, deixo aqui uma pequena passagem do livro de Henry Kissinger "Diplomacia", editado em Portugal pela Gradiva:

"Ialta tinha caído. A História revelava a insensatez das palavras de Kruchtchev de que o comunismo enterraria o capitalismo".

A Mentira de Che

Recomendo a leitura do artigo de Alvaro Vargas Llosa "The Lie About Where Che Lies", do qual saliento o seguinte excerto:

"It is not surprising, of course, that Che Guevara's remains are a myth. Everything about this modern saint is a myth -- his love of justice, his romantic disposition, his goodness. The truth is that he executed hundreds of people, ruined the Cuban economy, tried to turn Cuba into a nuclear power and helped bring about many military dictatorships in Latin America in reaction to the guerrillas he inspired in the 1960s and the 1970s."

Viva el-Rei Juan Carlos

Haja alguém que tenha coragem de mandar calar um louco mal educado que consegue irritar qualquer um.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Saramago finalmente porta-se à altura...

Em tempo de comemoração da Revolução Russa, e num dia em que tenho que apresentar na Universidade 45 anos de História sobre o Pacto de Varsóvia (infelizmente alguém escolheu a NATO antes de mim), lembrei-me de um desses comunistas que por aí andam, e decidi recuperar aqui um post originalmente escrito em Junho deste ano n’O Coliseu:

“Recordo-me do comentário de alguém que se intitula como "Toffee", ao post sobre a 77.ª Feira do Livro: "há sempre belas histórias na Feira do Livro... ".

Deleitávamo-nos eu e a Erida a passear agradavelmente por tão excelso evento cultural, que é sempre merecedor de um certo louvor, quando ouvimos a voz de uma simpática senhora que pelos altifalantes anunciava a presença do senhor José Saramago na Feira para uma sessão de autógrafos.

Poucos minutos antes havia a Erida adquirido a recentemente publicada obra do Senhor Professor Doutor António de Sousa Lara, que entretanto está esgotado: "O Terrorismo e a Ideologia do Ocidente".

Não preciso de recordar a ninguém a já célebre história, que se iniciou em 1992, quando o livro "Evangelho segundo Jesus Cristo" foi cortado da lista de concorrentes ao Prémio Literário Europeu.

Entretanto, Saramago prossegue a sua carreira literária, alternando entre a publicação de novas obras, a atribuição do Prémio Nobel, e comentários desprovidos de sentido em relação ao Senhor Professor. Culmina esta novela numa "reconciliação" entre o Estado Português, representado na altura pelo ex-Primeiro-Ministro, José Durão Barroso, num almoço em São Bento, corria o mês de Abril de 2004.

Bom...Eis que nos atinge um raio de simultânea genialidade e malícia. Impregnados de um certo sentimento de gozo, colocamo-nos na fila (onde só estavam pessoas com livros como "O Memorial do Convento", "Ensaio sobre a cegueira", "As intermitências da morte") para receber um autógrafo, ficando eu um pouco afastado, não fosse o senhor ter um acesso de fúria ainda maior e espancar alguém:


Erida: "Pode-me autografar este livro?".
Saramago: (Lê o nome do autor e resmunga) "O quê? António de Sousa Lara!? Nunca na vida!!!"
Erida: "Faça lá um pequeno comentário, com a sua assinatura..."
Saramago: "Como se chama?"
Erida: "Erida"
Saramago: (vermelho de raiva, escreve) "Para a Erida, que não tem culpa nenhuma, com simpatia, José Saramago"
Erida: (risos)
Saramago: (já espumando de raiva)"Esse homem não está preso?"
Erida: (orgulhosamente) "Não, é meu professor, e coordenador da minha licenciatura!"
Erida: "Muito obrigada e uma boa tarde
"Saramago: (grunhe) "Boa tarde"

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Der Putinismus

Porque também aqui não podíamos deixar de assinalar o 90.º aniversário da revolução russa, e até porque ironicamente tenho que ir para casa acabar o trabalho sobre o Pacto de Varsóvia para apresentar amanhã, aqui deixo, via O Insurgente, a capa da edição de hoje do Die Tageszeitung:

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Laicismo como unidade cultural?

Dúvida que me assaltou na aula de Tópicos Especiais de Teoria das Relações Internacionais onde a Professora se foca essencialmente na Escola Inglesa.

Martin Wight considerou num dos seus primeiros escritos que para que um sistema de Estados possa emergir é necessário que haja uma unidade cultural, tal como a demonstrada ao longo dos séculos nos diversos sistemas de Estados, nomeadamente no sistema europeu, através de uma unidade essencialmente, mas não necessariamente, pela religião (ainda que na Europa a religião cristã se tenha dividido entre protestantes, católicos e ortodoxos), e alguns extrapolam que isso dará razão ao conceito de Choque de Civilizações de Huntington. Porém, no sistema de Estados actual, que decorre da expansão do modelo europeu de Estados soberanos, não existe esse mesmo tipo de unidade cultural, o que desmonta o argumento de Wight (que se não tivesse morrido antes do final da Guerra Fria talvez tivesse rectificado a sua análise).

A dúvida que me assaltou e à qual a Professora não soube responder, apesar de poder apenas ser devaneio mental da minha parte, é se no sistema actual, onde os Estados que levantam mais problemas à ordem instituída são os do Médio-Oriente (onde não aconteceram movimentos como o Renascimento, não se chegando a separar a religião do Estado), será que os restantes Estados não estarão unidos por um conceito, o laicismo?

Embora todas as sociedades tenham eminentemente uma afeição por alguma religião, o Estado moderno proclama-se laico. Continuará isto a dar razão a Huntington? Enfim, só sei que nada sei...

Sugestões de leitura

Entrevista de Charles Murray, cientista político norte-americano, à Folha de São Paulo, sobre as afirmações de James Watson (via A Origem das Espécies).

O Diplomata revela em "Pensar George Orwell no século XXI" que "O livro What Orwell Didn't Know: Propaganda and the New Face of American Politics está prestes a ser publicado, mas enquanto isso não acontece o Los Angeles Times levantou o véu ao publicar quatro ensaios de autores diferentes que fazem parte daquela obra."

Mais um brilhante texto de Pedro Picoito no Cachimbo de Magritte: "Da Guerra Civil de Espanha ao ranking das escolas: a insustentável leveza da esquerda (I)".

E por último, a "Paranóia do Fascismo" no Incontinentes Verbais (post datado de 6 de Novembro).

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Politicopata

Já nem sei bem como fui dar com este blog, mas diverti-me imenso a ler o que o Politicopata escreve, até porque dá para perceber um pouco como funciona a máquina daquele partido que de forma persistente nos vai tentando apanhar...

Faz-me lembrar certas conversas que se passam nos corredores da podridão da politiquice do associativismo juvenil e universitário, ou outras que se vão ouvindo por aqui e ali, como as que há uns tempos ouvia vindas de "ilustres desconhecidos" das "J's", num daqueles espaços nocturnos de eleição da direita lisboeta e de certa esquerda caviar, de que sou cliente assíduo, nesse caso, o Foxtrot.

Embora seja de lamentar esta máquina do arrebanhar de votos, é algo extremamente pragmático, porque a política continua a ser um espaço feudal onde se desenvolve o jogo político-social de que Helen Milner fala em relação à formulação da política externa, embora seja um modelo aplicável a outros tipos de actividade política, e porque não se pode esperar que platonicamente todos os indivíduos sejam esclarecidos, pelo que se deixam guiar por outros. É uma lei natural, uns nascem para liderar e outros para ser liderados. Pelo menos não é uma máquina de irritantes demagogos sem classe como a da JS.

Um mês de Estado Sentido

Reparei que fez há três dias um mês que iniciei este blog. Embora não tenha tido a disponibilidade que desejaria, por motivos de ordem profissional e académica, agradeço aos que têm passado por aqui, deixando ainda a promessa de que a partir de Janeiro este espaço será mais dinamizado e actualizado.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Delicioso pingue-pongue

Recomendo a leitura do post de Ana de Amsterdam intitulado "Pingue-pongue", que acerca da questão dos rankings das escolas diz o seguinte:

"Não é pela falência do sistema de ensino público que a classe média, média alta, mete os filhos nos colégios privados. É por preguiça e por estatuto. Há quem faça do cu três bico para por os filhos no São João de Brito, no Moderno, no Sagrado Coração, no Manuel Bernardes e afins. E há quem sossegue com a exigência e o acompanhamento dos colégios. Assim, ao final da tarde, enquanto os filhos estudam, as mães podem ir descansadas às aulas de pilates e os pais podem fornicar docemente com os colegas e as colegas do escritório. Ter um filho numa escola pública, para além de não conferir estatuto, dá trabalho, exige coerência e disponibilidade. A maior parte dos pais e das mães não está para isso."

Simplesmente delicioso.